domingo, 29 de abril de 2012

Diesel e esportividade: o tabu vem caindo...

A uns 2 dias atrás, um fato que eu não esperava presenciar tão cedo acabou por me surpreender: enquanto eu observava um Subaru Impreza WRX exposto no shopping Iguatemi de Porto Alegre, um idoso que passava pelo local indagou ao vendedor que acompanhava o veículo se o mesmo era movido a óleo diesel...
Por mais que motores Diesel apresentem qualidades técnicas que podem ser exploradas nos esportivos, os preconceitos ainda muito fortes e as restrições burocráticas brasileiras acabam por desestimular o interesse por esse tipo de propulsor. Nem mesmo a popularidade do etanol tem servido para promover o ciclo Diesel como um contraponto à ineficiência da atual geração de motores flex com ignição por faísca...
No fim das contas, por mais que ainda seja apenas um caso isolado, já é um indício de que o tabu vem caindo...

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Biocombustíveis e religiosidade: uma brevíssima reflexão

Desde eras em que predominavam cultos tribais associados à observação de fenômenos naturais e o desenvolvimento de diversas teorias politeístas, passando pela entrega dos 10 Mandamentos a Moshe Rabeinu durante a travessia do Mar Vermelho e do Sinai rumo a Israel, a religião exerce grande influência nas relações sociais e vida privada. Mantém um peso tão significativo que, mesmo com os Direitos Civis e o Estado laico atualmente em vigor, a legislação moderna conserva elementos do antigo Direito romano de base judaico-cristã. Como podia-se esperar, os biocombustíveis também geram uma série de polêmicas envolvendo as mais variadas orientações religiosas, desde rastafarianos radicalmente contrários ao uso de subprodutos animais até alguns sheiks que enquadram biocombustíveis em geral como “pecado”, passando por rabinos mais ortodoxos desaprovando o uso de banha suína como regulador de viscosidade no biodiesel.

Considerando que para muitos judeus a classificação Kosher não fica restrita a gêneros alimentícios, abrangendo também produtos de higiene pessoal e cuidados com a casa, é um tanto previsível a restrição ao uso de matérias-primas extraídas de animais como o porco e peixes sem escamas nem barbatanas ou outros que apesar do consumo permitido não tenham sido abatidos conforme o ritual característico, enquanto para a quase-totalidade dos cristãos não há problemas quanto a isso. Até o islamismo, apesar de pregar abstenção à ingestão de carne suína, a princípio não faz oposição ao uso da banha (ou mesmo partes da carcaça e vísceras) do porco para a produção de biocombustíveis e outros insumos industriais. Entretanto, alguns sheiks com interesses econômicos na exploração petrolífera arbitrariamente lancem objeções a qualquer biocombustível, mesmo que países islamizados como a Malásia com as extensas áreas dedicadas ao cultivo do dendê usado como matéria-prima para o biodiesel hoje liderem o setor da agroenergia e a Indonésia esteja experimentando o etanol de batata-doce embora seja um grande exportador de petróleo.

No caso do etanol, que antes de tornar-se a menina-dos-olhos da indústria de energia era mais conhecido simplesmente por “álcool”, há líderes religiosos que oponham-se ao uso do mesmo como combustível baseados em restrições ao consumo de bebidas alcoólicas. Para muçulmanos, uma interpretação equivocada do Alcorão, que proíbe expressamente o vinho mas abre espaço para o arak (um destilado à base de anis) e não impede a Arábia Saudita de ser o maior mercado dos whiskies Johnnie Walker, é o suficiente para levar alguns a verem o etanol como “demoníaco”. Já em meio à profusão de igrejas neopentecostais surgidas da noite para o dia, o fenômeno curiosamente se repete. Vale lembrar que Jesus, tido pelos cristãos como o Messias (Mashiach) e pelos muçulmanos como um profeta, teria consumido vinho durante a última refeição...

Logo, por mais que algumas interpretações possam causar confusão, é possível conciliar a necessidade de promover uma renovação da matriz energética com o respeito à diversidade religiosa.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Refletindo sobre o hidrogênio...

Não é de hoje que a procura por combustíveis alternativos vem aliada não só ao interesse de promover uma menor dependência de recursos energéticos fósseis como o petróleo e o carvão mineral, passando a ser conciliada a questões ambientais. Um dos que chamam mais atenção acaba sendo o hidrogênio, tanto pela emissão zero de poluentes ao passar pelo processo de combustão quanto por considerações referentes ao custo para promoção de um armazenamento seguro, visto que além de ser o elemento químico mais abundante no Universo também é o mais reativo.

Desde 1966 com a introdução da GM Electrovan, protótipo baseado na ChevyVan de 1ª geração, em que o conjunto de tanques de hidrogênio e as células de combustão (muitas vezes citadas como células de combustível, ou fuel-cells) ocupavam todo o espaço que num modelo convencional seria destinado ao compartimento de cargas, até modelos mais recentes montados sobre as plataformas da minivan Opel Zafira e do crossover Chevrolet Equinox mantendo a mesma versatilidade e espaço interno de similares com motor a combustão interna, uma longa evolução pôde ser observada, a ponto de já existir desde 2008 ao menos um modelo movido a hidrogênio com o uso de célula de combustão disponível no mercado mundial, o Honda FCX Clarity. Na prática, o sistema opera de modo semelhante aos híbridos em série, apenas substituindo o gerador acionado por motor estacionário mediante o uso de uma ou mais células de combustão, contando com um motor elétrico para prover a tração. Ainda há também uma infinidade de protótipos oferecidos para leasing baseados em veículos convencionais e mais consagrados como o Mercedes-Benz F-Cell, que inicialmente era uma versão do Classe A e hoje compartilha a estrutura com o Classe B. Também é possível encontrar ônibus movidos a hidrogênio por fuel-cell operando comercialmente em fase de testes em grandes cidades mundo afora, inclusive em São Paulo.

Também há experiências visando o uso do hidrogênio em motores de combustão interna, mais próximos do grande público, e nessa área podem-se destacar tanto a BMW com o 750hL e o Hydrogen7 baseados nos sedãs full-size Série 7 equipados com um motor V12 apto a rodar também com gasolina, em função da menor disponibilidade de locais para reabastecer com hidrogênio, quanto diversos modelos da Mazda equipados com o exótico motor Wankel. Entretanto, além de comprometer o espaço interno do veículoe a capacidade de carga, bem como manter as desvantagens gerais da ignição por faísca, ainda vem apresentando prejuízos ao desempenho mais intensos dos que os hoje vivenciados pelos usuários de outros combustíveis gasosos como o popular “gás natural” (GNV/metano) e o gás liquefeito de petróleo (GLP/“gás de cozinha”) que no mercado brasileiro fica restrito a empilhadeiras e outros veículos industriais mas em países como a Austrália chega a ser mais popular que o GNV.

Há ainda alguns dispositivos para eletrólise de água sendo oferecidos comercialmente para serem acoplados diretamente aos veículos, também conhecidos como HHO ou “célula seca” (dry cell), normalmente apresentados como uma alternativa para reduzir o consumo de gasolina, etanol ou diesel, ainda que hajam interessados em usar apenas o hidrogênio fornecido por esse tipo de equipamento. No entanto, o uso de hidróxido de potássio (potassa cáustica) para compor uma mistura eletrolítica torna o sistema um pouco mais perigoso com relação a contaminação ambiental em caso de acidente, além de requerer cuidados especiais para ser manipulado.

Para obter o hidrogênio elementar usado no abastecimento de automóveis, o meio mais usual ainda é a eletrólise de gás metano, o que além de demandar um enorme e desnecessário gasto de energia acaba liberando o mesmo CO² que se desejaria reduzir através do uso do polêmico combustível alternativo. Depois, para manter níveis aceitáveis de segurança nos escassos postos que oferecem reabastecimento com hidrogênio, mais energia é desperdiçada com sistemas de criogenia, aumentando o custo operacional e por conseguinte o preço a ser pago pelo consumidor...

Quanto aos veículos, também devem seguir alguns procedimentos específicos: não é recomendado estacionar em garagens fechadas com pouca ventilação nem parar dentro de túneis para evitar a formação de uma atmosfera explosiva, visto que não é incomum a liberação de hidrogênio no ambiente através de válvulas de segurança e de microfissuras presentes nos materiais usados para fabricação dos tanques. Normalmente a pressão de armazenamento do combustível não deve passar de 700bar, 250% maior que a média de veículos movidos a GNV (em torno de 200bar), e a maioria dos cilindros disponíveis no mercado suportam uma pressão máxima de 900bar, de forma que o hidrogênio acaba com uma margem de segurança muito mais restrita...

Logo, por mais que seja apontado freqüentemente como o “combustível do futuro”, o hidrogênio apresenta grandes desvantagens que vem mantendo esse tão sonhado futuro permanecer distante...