sábado, 25 de outubro de 2014

Reflexão: caminhonetes Ford Série F e o motor de alta rotação

Quem observar atentamente a foto dessa Ford F-350 brasileira vai notar a presença do tanque para o fluido ARLA-32 requerido com o sistema SCR, tratando-se portanto da versão nova com motor Cummins ISF2.8 certificado nas normas de controle de emissões Proconve P7, análogas à Euro-5. Além de aspectos como a aparência desatualizada em comparação com os similares americanos, e da ausência de airbags, justamente a opção por um motor de alta rotação acaba despertando polêmicas...

Numa comparação com o motor Cummins B3.9 (vulgo "4BT" ou "4BTAA") de injeção mecânica anteriormente usado na F-350, F-4000 e F-4000 4X4, houve uma redução de aproximadamente 29,8% na cilindrada (indo de 3920cc para 2776cc), deslocamento das faixas de potência e torque para regimes de rotação mais altos e um incremento de 25% na potência, que foi de 120cv para 150cv, mas como nem tudo são flores o torque sofreu uma queda na faixa de 14%, partindo de cerca de 420Nm para 360Nm. Ainda assim, é divulgada pela Ford uma redução em 7% no consumo de combustível, mas faz-se necessário incluir na planilha de custos o ARLA-32, usado numa proporção de 5 a 6,5% do volume de combustível.

Não dá para negar que é até certo ponto chocante se deparar com um motor de alta rotação numa caminhonete full-size de concepção tipicamente americana, visto que antes reinavam absolutos no segmento os de baixa rotação em faixas de cilindrada mais avantajadas, mas há de se considerar que o Brasil tem peculiaridades que inspiram uma abordagem diferenciada em comparação aos Estados Unidos. Enquanto por lá as full-size são muito usadas não apenas para trabalho mas também para transporte pessoal e lazer, mantendo um market-share significativo para os motores de ignição por faísca, por aqui o Diesel se firmou como uma necessidade para garantir a rentabilidade operacional, e portanto o uso de motores mais modestos se faz necessário para atender a um espectro mais amplo de consumidores que estão mais preocupados com os custos de aquisição e não costumam associar o que está sob o capô a uma imagem de ostentação.

Pode-se considerar, ainda, que a ampla presença de utilitários com projeto asiático ou europeu com motores turbodiesel de alta rotação até 3.0L nos segmentos disputados pela Série F no mercado nacional, tomando como referências o Hyundai HR disputando diretamente com a F-350 e a linha Iveco Daily tendo alternativas tanto à F-350 quanto à F-4000, pode ter encorajado a Ford a seguir esse mesmo caminho.

No atual cenário, os motores de alta rotação acabam se firmando como uma opção adequada por ganhar em economia de escala, visto que também são compatíveis com aplicações mais críticas no tocante ao peso e volume físico ocupado pelo conjunto motopropulsor, apresentando ainda vantagens por reduzir os esforços sobre os conjuntos de freio e suspensão devido ao peso menor e que pode ser melhor centralizado, compensando ainda ao menos em parte as "gordurinhas" trazidas pelos dispositivos de controle de emissões cada vez mais complexos, e portanto até certo ponto parece bem acertada a opção da Ford pelo downsizing ainda que acabe desagradando inicialmente a uma parcela significativa do público-alvo tradicional da Série F.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Uma breve reflexão sobre o panorama eleitoral brasileiro

Após o primeiro turno, é hora de avaliar alguns resultados e seus desdobramentos...

A nível de Rio Grande do Sul, na disputa pelo governo estadual chegou a surpreender alguns o avanço do ex-prefeito de Caxias do Sul, José Ivo Sartori, que acabou sendo o maior beneficiado pelos ataques do PT à senadora Ana Amélia Lemos. Quem eventualmente tenha deixado de votar na Ana Amélia motivado pela propaganda petista estaria mais propenso a votar no Sartori, visto que ambos representam uma rejeição clara ao candidato à reeleição Tarso Genro. Se nem a Yeda Crusius conseguiu se reeleger, embora tenha feito uma excelente administração e dado um bom respaldo à Brigada Militar, é pouco provável que o Tarso consiga, principalmente agora que a questão do piso do magistério tão explorada na campanha de 2010 esteja se refletindo contra ele. Considerando o que interessa a esse espaço, no que tange aos biocombustíveis, é possível que o candidato Sartori, que conta com uma forte adesão do setor ruralista (tanto os "colonos" mais humildes quanto grandes estancieiros), dê uma atenção especial a essa pauta, que traz uma boa perspectiva para aumentar a rentabilidade da atividade agropastoril de um modo geral.

Para a presidência da República, a polarização entre PT e PSDB acabou se repetindo, apesar de toda a comoção pela morte de Eduardo Campos e da candidatura de Marina Silva no lugar do falecido terem agitado a campanha. Mesmo assim, um segundo turno entre a petista Dilma Roussef que concorre à reeleição e o senador Aécio Neves que é o candidato do PSDB gera grandes expectativas tanto pelos resultados apresentados como governador em Minas Gerais quanto por uma imagem um tanto messiânica (e até pouco explorada durante a campanha) vinculada ao avô Tancredo Neves, eleito em '85 mas morto antes de assumir o mandato presidencial em circunstâncias que nunca foram devidamente esclarecidas (diz-se que foi uma diverticulite provocada por uma azeitona, mas nem a Glória Maria sabe de qual calibre) e substituído pelo vice José Sarney que, ironicamente, acabaria se aliando ao PT...

Pois bem, no tocante aos biocombustíveis, a degradação da relação entre o PT e o setor sucroalcooleiro durante o governo Dilma, e a situação crítica que muitas usinas se encontram, já são um aspecto negativo a se considerar. A estagnação no mercado de biodiesel também pesa contra. Vale destacar que, durante a campanha presidencial de 2010, Dilma chegou a posar para fotos usando um boné do MST, grupo que já se mostrou contrário ao uso de matérias-primas da "agricultura familiar" na cadeia produtiva do biodiesel ao proibir que moradores dos "assentamentos" fornecessem óleo de mamona à Petrobras, sob a alegação de que estariam cedendo ao capitalismo. Levantar tópicos referentes à crise da Petrobras, que vem sendo fortemente espoliada, tornam ainda mais nebulosos os prognósticos referentes à segurança energética brasileira no caso de uma reeleição da candidata petista.

O tratamento depreciativo dispensado pelo PT aos militares, num contexto de guerra de quarta geração com o intuito de reescrever a História ao bel-prazer dos derrotados, a idolatria com os ossos do Jango, e o apoio a ditaduras estrangeiras comprometendo inclusive recursos públicos (dinheiro dos impostos que nós pagamos) enquanto o povo brasileiro sofre com a precariedade da infra-estrutura não apenas nos hospitais que mais parecem um açougue, estradas que são uma verdadeira armadilha mortífera, violência urbana comparável às guerras civis da África e Oriente Médio, e uma tentativa de usurpação do poder familiar por meio de um sistema educacional mais direcionado à lavagem cerebral, também geram descontentamento em diversos setores da sociedade brasileira, e o perfil mais "conservador" atribuído à legislatura eleita para ocupar a Câmara dos Deputados e as 27 vagas ao Senado é um reflexo desse cenário. Brasileiro pode até parecer um povinho vagabundo e sem culhões, facilmente condicionável e suscetível a promessas vazias mas, apesar de muitos ainda estarem inebriados pelas migalhas jogadas pelo governo como galinhas numa gaiola esperando que se lhes atire um punhado de milho, bem como a difusão da promiscuidade e glamurização da "malandragem" como manifestações de "cultura popular" (entenda-se como "cultura" o lixo veiculado pela Rede Globo de Televisão, indo das novelas ao "funk ostentação"), a essência do nosso povo ainda é apegada a uma educação à moda antiga valorizando a honradez, o trabalho e a família tradicional.

A candidata Marina Silva, mais uma vez fora da disputa ainda no primeiro turno e cuja alegada "neutralidade" no segundo turno de 2010 disputado por Dilma e José Serra acabou beneficiando a petista, não vai ficar em cima do muro dessa vez. Declarações feitas por alguns correligionários dão um tom fortemente contrário à Dilma, e a própria Marina já declarou apoio ao Aécio dessa vez. Embora seja considerada ideologicamente mais próxima do PT que do PSDB, e portanto seja esperada uma maior rejeição contra o Aécio do que contra a Dilma por parte de quem "marinou" no primeiro turno, vale recordar novamente o falecido Eduardo Campos, que já havia declarado que se não fosse para o segundo turno apoiaria Aécio, o que levou até a especulações quanto a uma eventual sabotagem ao avião no qual o ex-governador de Pernambuco viajava quando ocorreu o acidente fatal.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Caso para reflexão: Gurgel Carajás

Lançado em '84 e produzido regularmente até '91, com poucos exemplares feitos sob encomenda até a falência da Gurgel Motores em '95, o Carajás tinha uma proposta que pode ser vista como algo intermediário entre um SUV tradicional e os atuais crossovers. Não tinha tração 4x4, nem sequer um diferencial blocante como o Eaton ELD usado pela Fiat na linha Adventure, apenas um sistema de frenagem seletiva das rodas traseiras (Selectraction) usado para emular manualmente o efeito de um bloqueio de diferencial propriamente dito. A capacidade de carga nominal de 750kg e as acomodações para 4 passageiros além do motorista também não o credenciariam ao uso do Diesel...
A suspensão independente nas 4 rodas era enfatizada nos emblemas com os dizeres 4-WIS (4-wheel independent suspension), numa analogia aos emblemas "4WD" (4-wheel drive) usados em utilitários 4X4. O câmbio de 4 marchas do tipo transeixo era o mesmo da Kombi, e montado na parte traseira, com o motor à frente e a transmissão primária por meio de um tubo-de-torque (espécie de eixo cardã montado dentro de um compartimento tubular selado), de forma que a distribuição de peso entre os eixos não se mostrava tão favorável à tração em condições de baixa aderência como ocorria com outros modelos da Gurgel baseados mais diretamente no layout mecânico do Fusca, com especial destaque para a série Xavante (X10/X12/Tocantins). Ainda assim, além do motor Volkswagen EA-827 de 1.8L a gasolina com 85cv (ou a etanol com 97cv), até '89 foi oferecido o motor de 1.6L Diesel de 50cv, e o consumo médio de combustível chegava a cair quase à metade, indo de 9km/l na gasolina a 16km/l com o Diesel.