terça-feira, 2 de dezembro de 2014

[Polêmica] Será que a Ford foi longe demais com o downsizing na Série F?

Que o relançamento da Série F foi um dos fatos mais marcantes do mercado brasileiro de veículos utilitários para o ano de 2014 já não resta dúvida, mas o motor escolhido pela Ford para equipar os modelos F-350 (foto acima, já da versão atual) e F-4000 segue gerando debates acalorados. Quanto às normas de emissões nem há tanto o que discutir, a opção da Ford pelo SCR não é muito questionada, e o motor ainda é um Cummins de 4 cilindros, mas a adoção do ISF2.8 foi um choque, tanto pela pequena cilindrada quanto pelo regime de rotação mais elevado que o antigo B3.9 ou o ISBe4.5 hoje usado em alguns modelos da linha Cargo.

O maior motivo para descontentamento com a nova motorização da Série F, apesar no aumento de 25% de potência em comparação às versões Euro-3, é a queda de 14,3% no torque. Enquanto o B3.9 desenvolvia 120cv de potência e 420Nm de torque, o ISF2.8 entrega valores de 150cv e 360Nm. Entretanto, foi a opção considerada mais viável para minimizar o impacto do upgrade para as normas Euro-5 sobre o preço de aquisição dos veículos. Para tentar apaziguar os críticos, pode-se atentar que o desempenho não depende exclusivamente do motor, e relações de transmissão corretamente escalonadas são fundamentais para proporcionar respostas adequadas. No caso, a combinação entre o efeito multiplicador do torque com uma relação final mais reduzida e os regimes de rotação mais elevados no motor novo acabam de certa forma se contrabalançando, de modo que a dirigibilidade não fica tão distante do que operadores estariam habituados pela combinação do motor antigo a uma relação mais longa. Trocando em miúdos, a relação indica quantas rotações do motor seriam convertidas em uma rotação do eixo de saída do câmbio, ou quantas deste resultariam num giro do diferencial (e por conseguinte das rodas).
Convém recordar que, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, um motor turbodiesel numa caminhonete full-size direcionada ao uso profissional é normalmente visto no Brasil como uma necessidade, e portanto um motor mais em conta se mostra necessário para alcançar uma parte do público que não poderia (ou simplesmente não quereria) pagar por um motor mais opulento como o PowerStroke V8 de 6.7L que nos equivalentes americanos da F-350 e da F-4000 é oferecido como um artigo de luxo.

O público-alvo figura entre os mais conservadores de todo o mercado, e vê na cabine convencional "bicuda" uma vantagem em função do maior conforto proporcionado pela altura de embarque e desembarque mais baixa, bem como a posição de dirigir mais "car-like", e também costuma apreciar a maior aptidão à operação em uma maior variedade de condições de terreno (importante frisar que a F-4000 é atualmente o único modelo da categoria a oferecer uma versão 4X4 de fábrica para o mercado brasileiro), num contraponto à maioria dos caminhões de cabine avançada (popularmente conhecidos como "cara-chata") em faixas próximas de peso bruto total, mais direcionados a aplicações em ambiente urbano.
Cabe salientar, ainda, que vem ocorrendo uma maior aceitação de motores de alta rotação nos caminhões leves e semileves, tomando por exemplo a versão brasileira do Hyundai HD-78 equipada com um FPT-Iveco de 3 litros e o JAC T-140 usando o mesmo Cummins ISF2.8 que tem causado tanta discórdia entre proprietários e fãs da Série F, ainda que num rating de potência e torque mais modesto e com EGR ao invés do SCR.

Há ainda outros precedentes que podem ter influenciado a Ford na tomada da decisão de equipar a Série F com um motor de 2.8L: uma infinidade de caminhões chineses, notadamente "inspirados" pelo Isuzu NPR (ou GMC 7-110 como foi conhecido no mercado brasileiro) que se enquadra numa faixa de PBT semelhante à da F-4000, já vem utilizando cópias do motor Isuzu 4JB1-TC, um turbodiesel de alta rotação com 4 cilindros e 2.8L, e no Brasil tiveram algum destaque os utilitários de 6 toneladas da Agrale como o Furgovan 6000, equipado com o mesmo motor MWM Sprint 6.07TCA mais conhecido pela aplicação nas caminhonetes Chevrolet S-10 e Blazer.

É natural que um motor com uma cilindrada mais modesta e alta rotação seja percebido por uma parcela mais conservadora do público consumidor como algo mais associado a utilitários europeus e asiáticos que com toda a "americanidade" da Série F, mas uma reflexão mais ponderada dá a entender que a Ford não foi longe demais com o downsizing, atendendo bem à realidade regional não só do Brasil mas também de países vizinhos como a Argentina (onde a F-4000 também é oferecida) e o Uruguai.

15 comentários:

  1. Estoy de acuerdo contigo que no es un error que tenga un motor más chico a la Super Duty, y no te olvides que en las Filipinas es normal que se pueda tener un motor chico y sin turbo, ya lo vi unas Chevrolet C20, C30 y Suburban con motor Isuzu de aspiracion natural, desde los 4BA1 y 4JB1 a los 4BC2.

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  2. Quando eu e a Josi te conhecemos tu não era assim de defender a Ford. Estão de pagando quanto?

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    1. Não estou "defendendo" a Ford. A mesma argumentação seria aplicável caso a Chevrolet resolvesse relançar a Silverado e oferecesse versões mais pé-de-boi com um motor menor de alta rotação.

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  3. Depois que eu vi a F600 de um feirante rodando com um MWM 2.8 tirado de uma Blazer capotada eu não duvidaria de mais nada.

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    1. Eu lembro que a alguns anos atrás apareceu na revista 4X4&Cia uma F-600 convertida em 6X6 pela Engesa que tinha sido repotenciada com o MWM Sprint 4.07 TCA, tendo como parâmetro para a escolha do motor o fato do caminhão Agrale 6000 também o usar.

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  4. Se tem quem compra caminhão cara chata com esse mesmo motor eu não vejo motivo para deixar de comprar uma F4000 que é muito mais bonita.

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  5. Eu acho que está na hora de romper a barreira do preconceito, o downsizing veio para ficar e não adianta querer se prender a motores mais pesados e ineficientes.

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  6. Bque fez a Ford em corrigir o vacilo que foi tirar a F-4000 de linha, mesmo com esse motor tão odiado por alguns ignorantes que preferem viver presos ao passado.

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    1. Eu até não acho justo desmerecer motores de concepção mais antiga, mas realmente não tinha muito para onde a Ford correr nesse caso.

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  7. Se eu não tivesse desaprendido a passar marcha de tanto usar carro de transmissão automática no Japão, iria ficar tentado a trazer uma F-4000 só para fazer onda.

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  8. S10 e blazer usaram o MWM Sprint 4.07TCE so a silverado e f250 que usaram o MWM Sprint 6.07TCA, a silverado nao tinha intercooler ja a f250 sim.

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    1. Nissan Frontier e XTerra também usaram o MWM Sprint 4.07TCE, além do Agrale Marruá. Mas o ISF2.8 não tem relação com o MWM.

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  9. Para agroboy brincar de cowboy em pátio de posto a cilindrada ainda faz toda diferença, mas para trabalhar já está bem provado que nem sempre um motor menor seja pior.

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  10. Todo mundo que comprou está arrependido, fiz o test drive e achei que o motor cai melhor em um VUC de cara chata e chassi mais fino.
    Eu uso a F-250 MWM 6.07 TCA e acho um motor econômico, silencioso e que não polui tanto como a indústria diz, já a S10 da minha esposa usa um 4.07 TCE e o consumo é o mesmo mas o desempenho é muito inferior ao da Fordona que pesa quase 4 Toneladas.

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    1. Não é a indústria que diz se um motor "polui", o problema é ter que se enquadrar em normas de emissões. Quanto ao desempenho e consumo de combustível, a relação de marcha é tão importante quanto o motor, e naturalmente um motor com uma maior reserva de torque em baixa rotação ao ser associado a uma relação de marcha mais longa tem alguma vantagem.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html