quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Ônibus urbanos: faz sentido cogitar uma maior presença de híbridos nas próximas renovações de frota

Não é possível subestimar a importância do transporte coletivo na promoção da mobilidade urbana, e o Diesel firmou-se nessa aplicação motivado pela escalabilidade para atender a diversas condições de carga e pela relação custo/benefício que ainda apresenta na flexibilização de rotas quando comparado a alternativas como o gás natural, o etanol, ou mais recentemente a tração 100% elétrica. No entanto, diante do recrudescimento das normas de emissões e eventuais incertezas quanto à viabilidade futura não apenas do Diesel mas do motor de combustão interna nas aplicações veiculares em geral, ainda é importante considerar algumas opções que possam assegurar uma menor dependência das frotas de ônibus urbanos por um suprimento de óleo diesel convencional também impactado pela demanda em outras aplicações utilitárias. Eventualmente, um uso mais otimizado dos recursos energéticos ainda pode justificar mais facilmente o fim das restrições ao Diesel em veículos leves.
No caso dos ônibus elétricos, que numa primeira observação podem soar como uma alternativa fácil de implementar, ainda existe uma série de empecilhos que pode levar tal proposta a se revelar uma ilusão. O sucateamento da rede elétrica nacional, que ocasionou a infame "crise do apagão" no final de 2001 e começo de 2002, torna assustadora a perspectiva de condicionar a mobilidade urbana a um sistema ainda frágil e suscetível a danos que continuam demorando além do que seria razoável para ter uma solução. Como se trata de um serviço essencial, tanto por parte considerável dos passageiros efetivamente depender desse transporte para executar atividades diárias quanto por efetivamente levar a uma redução no tráfego de veículos em algumas áreas mais congestionadas e de difícil circulação nas regiões centrais, seria temerário comprometer o funcionamento do mesmo por razões que podem ser tão banais quanto uma chuva com ventania que derrube árvores e danifique fiações a exemplo do que já ocorreu algumas vezes em Porto Alegre, problema agravado pela omissão de comunistas que se valiam da falsa premissa da preservação ambiental para impedir a poda de árvores e a lentidão da operadora local da rede elétrica (CEEE) no atendimento a emergências. Pois bem, na "menos pior" das hipóteses, ainda acabaria se fazendo imprescindível ter um plano B que continuaria dependente do Diesel como recorrendo a grupos geradores.

Incertezas quanto à aptidão dos ônibus elétricos para atender às necessidades de operadores, e ainda a extensão do impacto sobre os usuários do serviço, tem levado os ônibus híbridos a ser vistos como uma opção tecnicamente viável. Apesar da presença de um sistema elétrico de alta tensão e alguns componentes específicos que estão ausentes nos veículos com uma configuração de transmissão mais convencional, refletindo-se em alterações na rotina de manutenção e requerendo alguma qualificação adicional por parte dos mecânicos para que possam executar alguns procedimentos com a necessária segurança, são mais fáceis de agregar a uma frota majoritariamente composta por modelos com uma concepção mecânica tradicional. Levando em conta a maior presença do câmbio automático nas frotas de ônibus urbano, principalmente agora com a implementação de sistemas BRT nas capitais e outros centros regionais, o momento seria propício a uma inserção efetiva dos ônibus híbridos, e valer-se da operação basicamente idêntica à de um não-híbrido com câmbio automático para facilitar a familiarização dos condutores com o veículo.
Também cabe salientar que a hibridização não acarreta necessariamente em uma incompatibilidade ao uso de biocombustíveis, e portanto pode ser articulada junto a outras estratégias visando impulsionar a renovação da matriz energética do transporte tanto em âmbito nacional quanto regional. A bem da verdade, considerando os questionamentos em torno de uma eventual concorrência com o cultivo de gêneros alimentícios e alguns temores quanto ao risco de quebras de safra e outras circunstâncias que possam acarretar num desabastecimento, de certa forma relembrando a crise do etanol ocorrida no Brasil durante a safra '89-'90 da cana de açúcar e estendendo-se durante a primeira metade da década de '90 quando chegou-se a importar metanol para tentar suprir a demanda pelo etanol carburante, a redução de consumo que se espera dos híbridos torna-se decisiva para reabilitar os combustíveis alternativos junto à opinião pública e aos gestores de frota. Assim, o mesmo biodiesel que já estaria adequado para uma implementação mais imediata tanto em função da adaptabilidade dos motores Diesel quanto da atual infra-estrutura para distribuição de combustíveis e reabastecimento dos veículos tende a manter-se viável de médio a longo prazo.
Dadas justamente as condições operacionais no transporte coletivo urbano e intermunicipal, com paradas e arranques frequentes, já poderia soar até mais convidativa a uma maior presença de ônibus urbanos híbridos nas principais cidades brasileiras. Ainda que o custo inicial seja mais elevado que o de um ônibus mais convencional, principalmente quando consideramos o quanto os chassis de motor dianteiro permanecem populares no mercado nacional e em exportações regionais, e que a oferta de sistemas híbridos para veículos pesados permanece mais concentrada para ônibus de motor traseiro e caminhões, não deixa de ser uma opção até bastante adequada diante da relativa lentidão com que se promove a renovação de frota. Na ponta do lápis, a economia de combustível proporcionada não só pelo desligamento do motor durante as paradas e o auxílio elétrico nas arrancadas, mas também pelo acionamento elétrico de acessórios como ar condicionado e direção hidráulica e a recuperação de energia através da "frenagem regenerativa", já seria um pretexto suficiente para proporcionar uma amortização do investimento em comparação com um ônibus de motor dianteiro e concepção mais tradicional.
É até natural que ocorra um interesse dos frotistas em permanecer presos a um layout mecânico mais rústica, até mesmo para aproveitar escala de produção e intercambialidade de peças com caminhões, e o menor preço certamente pesa a favor também diante do risco de ter um veículo vandalizado nessa terra sem lei que o Brasil tem se tornado. A incompetência do poder público, que não só se omite em meio à falta de segurança mas também frente ao desafio de incentivar melhorias à eficiência energética e fomentar o uso de combustíveis renováveis, custa cada vez mais caro. Enfim, por mais que o transporte coletivo exerça uma pressão sobre a demanda de óleo diesel convencional no Brasil, e os ônibus híbridos podem contribuir para derrubar ao menos em parte este que é um dos principais argumentos a favor das atuais restrições ao uso de motores Diesel em veículos leves.

Um comentário:

  1. Se a bandidagem não tocasse fogo nos ônibus cada vez que a polícia dá pau em traficante, até podia dar certo de aparecer mais desses ônibus novos que parecem uma nave espacial.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html