quinta-feira, 23 de março de 2017

Venezuela: já não é possível ocultar a crise

De acordo com o site Maduradas.com, a escassez generalizada que assola a Venezuela já atingiu até o setor energético, e ontem faltou gasolina em quase todos os postos da capital Caracas e também por outras localidades por todo o país. A ilusão em torno das grandes reservas de petróleo, bem como a política de subsídios à gasolina, agora se revela uma farsa. Com a falta de insumos importados para a produção da gasolina, apenas a refinaria de Amuay, localizada no estado Falcón, está produzindo e proporcionando uma certa estabilidade no fornecimento nos estados mais ocidentais mas atende só 15% da demanda venezuelana. Desde 2013, uma média de ao menos 25 mil barris de gasolina já refinada tem sido importados dos Estados Unidos, numa operação que só esse ano já consumiu por volta de 611 milhões de dólares.

Pode-se alegar que a grande quantidade de opulentas pick-ups e utilitários-esportivos, bem como de sedãs full-size tipicamente americanos já em idade avançada e com desgaste mecânico acentuado, tendem a agravar a situação ao intensificar a demanda por combustíveis na Venezuela, mas não seria coerente ignorar aspectos que vão desde a insustentabilidade do modelo de subsídios e a ineficiência inerente à estatização dos hidrocarbonetos até a má gestão de um programa de incentivos ao uso do gás natural veicular que de certa forma já nasceu morto quando foi instituído pelo então ditador Hugo Chávez ainda em 2009. Embora um uso mais intenso do gás natural para suprir a demanda interna já pudesse liberar maiores quantidades de petróleo bruto, gasolina e óleo diesel para exportação, o que viria a ser útil para fortalecer as reservas oficiais de dólares ao comercializá-los de acordo com os preços praticados no mercado internacional, no fim das contas a pouca disponibilidade nos postos e a inconveniência agregada pelo grande volume do sistema de gás natural em alguns veículos acabaram por desencorajar uma adesão mais maciça.

Em que pese uma relativa facilidade em instalar os equipamentos de uma forma menos intrusiva, que poderia favorecer a escolha pelo gás natural junto a potenciais usuários que dependam de uma maior versatilidade ao dispor de apenas um veículo para atender tanto aplicações particulares e familiares quanto profissionais, a procura tardia por uma alternativa que viesse a ser apontada como o "milagre" que a economia venezuelana tanto necessita diante da excessiva dependência pela exportação de petróleo não contou com o planejamento a longo prazo nem contemplou outras opções que poderiam ser integradas de modo a oferecer opções mais adequadas a diferentes condições operacionais. Apesar do volume de vendas de veículos novos na Venezuela hoje ser irrisório, quando consideramos o alinhamento do mercado automobilístico local ao que é oferecido tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil que tem dado alguma preferência ao etanol desde diversos momentos históricos, chega a soar irônico que tal opção tenha sido tão subestimada por lá. Justamente pela popularidade do milho na Venezuela, cuja aplicação na produção de etanol poderia ser perfeitamente articulada com a produção do fubá normalmente utilizado no preparo das populares "arepas", não deixa de ser irônico que tal possibilidade seja tratada com tanto descaso por lá. A conversão da maltodextrina naturalmente presente no grão ao natural não impede que o "grão de destilaria" (DDG - distillation-dried grain) ainda seja aproveitado como substrato de alto teor de proteína tanto na formulação de rações pecuárias quanto na alimentação humana.

Num país onde mais de 80% dos alimentos consumidos são importados, tanto de forma oficial quanto através dos "bachaqueros" que buscam provisões tanto no Brasil quanto na Colômbia, também seria de se esperar uma negligência governamental em torno de benefícios econômicos e sociais a serem proporcionados por uma eventual integração dos biocombustíveis na cadeia de produção agropastoril. A situação ganha contornos um tanto cômicos quando lembramos que a Venezuela foi provavelmente o único país onde o McDonald's se viu forçado a servir mandioca frita para driblar a falta de batatas, principalmente por não se reverter em nenhum incentivo concreto a um reavivamento agroindustrial no país. No entanto, ao invés de priorizar o atendimento às necessidades energéticas das modernas técnicas aplicadas à agricultura de precisão que poderia beneficiar diretamente à população venezuelana com uma maior oferta de alimentos e eventualmente alguns resíduos do beneficiamento serem destinados à produção de biocombustíveis como o etanol e o biogás/biometano, a ditadura chavista tem preferido fornecer óleo diesel gratuitamente ao regime terrorista nazi-palestino. Além de matar o próprio povo de fome, tanto Chávez quanto o sucessor Nicolás Maduro tornam-se cúmplices de grupos como o Hamas e o Fatah que promovem crueldades semelhantes valendo-se de recursos disponibilizados por entidades internacionais para fins "humanitários" que acabam desviados para custear tanto as ambições paramilitares quanto a vida luxuosa de lideranças corruptas.

Além de já estar tomada pela criminalidade e outras formas de degradação humana, a Venezuela acaba agravando esse problema em países vizinhos como o Brasil. Na cidade de Pacaraima, que apesar de estar situada em zona de fronteira não tinha índices de violência tão alarmantes, o grande fluxo de invasores venezuelanos levou a um aumento na ocorrência de assassinatos, furtos e exploração de mulheres para prostituição. Apesar das políticas de subsídios aos combustíveis na Venezuela não ter sido exclusiva da ditadura chavista, a situação agora se revela fora de controle, e a população venezuelana não é a única a pagar a conta. Por mais que a escassez de gasolina na capital de um país petroleiro seja uma chocante ironia, é apenas mais uma face sombria de uma grave crise institucional.

6 comentários:

  1. Até tenho lá minhas dúvidas se daria certo os venezuelanos tentarem a sorte com o etanol naquelas banheironas. Quanto ao gás natural, vale lembrar que a Bolívia, outro paiseco miserável, só conseguiu explorar o gás depois que empresas estrangeiras instalaram a infraestrutura (não foi só a Petrobras). Realmente parece não ter muito o que fazer para tirar a Venezuela desse atoleiro que o Maduro entrou.

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    1. Tanto o gás quanto o etanol não deveriam ser vistos como uma tábua de salvação para a Venezuela, mas se tivessem sido levados a sério antes do caldo entornar poderiam estar articulados como parte de uma política energética mais eficiente.

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  2. Que lo adapten unas copias chinas del 4D56 de Mitsubishi a las carcachas americanas como lo hacen los cubanos, y se pongan a andar con aceites vegetales. El crudo venezolano es demasiado pesado.

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  3. El gas natural no va a salvar Venezuela. Además, casi no hay un volúmen de ventas de autos nuevos.

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  4. Creo que ya no haya mucho que hacer en Vzla sin que le ocurra un cambio radical a la derecha. El socialismo sigue destruyendo a todo.

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  5. Hoy muchas mujeres venezolanas mueren o necesitan sometirse a mastectomias radicales por falta de medicinas para tratar el cancer de seno, y no se ve ninguna de esas dichas femenistas de Europa y de los EE.UU. hacer ninguna protesta por eso. Me da asco el socialismo, y hoy agradezco a Dios por estar en Panamá.

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