Um lugar para os malucos por motores do ciclo Diesel compartilharem experiências. A favor da liberação do Diesel em veículos leves no mercado brasileiro, e de uma oferta mais ampla de biocombustíveis no varejo.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2020
Rápida observação quanto a uma eventual rejeição do SCR pelo público generalista quando chegue a Euro-6 no Brasil
O fato de às vezes um ou mais motores poderem ter calibrações mais mansas que acabam dispensando o SCR mesmo na especificação Euro-6, como chegou a ocorrer com o ZSD-422 Duratorq TDCi usado nas versões mais modestas da Ranger argentina, contrasta com a percepção de prestígio que ainda tende a ser associada à cilindrada ou à potência e favorece a continuidade de um motor com 5 cilindros e 3.2L da mesma série Duratorq TDCi em configurações apresentadas como mais prestigiosas ou esportivas, e portanto não seria exatamente uma tarefa tão simples convencer uma parte do público acostumada com a atual obsessão por potência que o único jeito de conseguir manter-se livre da necessidade de recorrer ao AdBlue/ARLA-32 passaria por um desempenho mais modesto. Também é praticamente impossível eliminar as desconfianças em torno de como um motor não ficaria tão "amarrado" ao mesmo tempo que se enquadre nas normas de emissões, lembrando o caso "Dieselgate" e como a não-conformidade entre emissões de NOx observadas em alguns veículos Volkswagen em testes laboratoriais e condições reais de uso em 2015 permanece impactando modelos de todos os outros fabricantes. Eventualmente fosse o caso de também contestar o downsizing e considerar como motores de cilindrada mais alta inseridos no contexto do downrevving poderiam ser mais adequados a utilitários que acabaram sendo alçados a uma condição de luxo, mesmo que uma faixa útil de rotações mais estreita também possa soar problemática para o filtro de material particulado (DPF) que requer periodicamente um processo de autolimpeza ou "regeneração" favorecido pela operação em regimes de rotação mais elevados.
A permanência do EGR nos utilitários mais leves quando passam a incorporar também o SCR torna-se outro problema quando o uso simultâneo de ambos os dispositivos leva à percepção do público de que a evolução tecnológica tornaria os motores Diesel excessivamente complexos para seguirem viáveis de médio a longo prazo, contrastando com um uso somente do SCR que se mantém relevante nos veículos pesados. Nesse ponto, não seria inoportuno até apontar a eventual preguiça de verificar regularmente o nível de (mais) um fluido e fazer a reposição do mesmo quando necessário, enquanto uma aparência de comodidade dos motores de ignição por faísca que podem responder mais favoravelmente a alterações na proporção ar/combustível para manter os NOx dentro dos padrões não deixa de ser favorecida pela mediocridade daqueles que procuram chifre em cabeça de cavalo para tentar justificar uma rejeição ao Diesel. Enfim, por mais incômodas que sejam as limitações no desempenho codificadas nos sistemas de gerenciamento eletrônico dos motores para induzir aos operadores uma correta observância do nível de AdBlue/ARLA-32 quando equipados com SCR, ou mais sombrias que se tornem eventuais perspectivas de restrições com um caráter mais permanente que viessem a ser necessárias para abrir mão totalmente desse dispositivo à medida que a Euro-6 se aproxime, no final das contas aquele temor de uma parte do público generalista parece exagerado.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2020
Rápida observação: Fiat Strada e Grand Siena com motor Fire, e como a relação entre cilindrada e compressão em motores de ignição por faísca poderia favorecer motores Diesel com uma quantidade menor de cilindros
sexta-feira, 18 de dezembro de 2020
Algumas considerações sobre como um incremento na complexidade dos sistemas de pós-tratamento não chegam a ser um impedimento à viabilidade técnica do Diesel em aplicações leves
De fato, seria especialmente inconveniente ter que lidar com os ciclos de "regeneração" do filtro de material particulado (DPF) que se beneficia mais de altas temperaturas dos gases de escape para fazer a redução da fuligem retida, especialmente no ciclo urbano em trechos curtos nos quais é até comum não atingir as condições ideais. Nesse caso, considerando a massificação do sistema EGR que recorre à recirculação de gases de escape para diluir a carga de ar de admissão e diminuir as concentrações de oxigênio e nitrogênio visando uma menor formação de óxidos de nitrogênio (NOx), com um fluxo de EGR não-refrigerado é possível estabilizar mais rapidamente as temperaturas do motor e dos gases de escape numa proporção que também favorece a "regeneração" do DPF. Vale lembrar que esse motor é equipado com uma borboleta de admissão, característica tida como incomum em motores Diesel, mas que em algumas circunstâncias também favorece a diluição das cargas de admissão e do EGR, não só nas versões de 90cv como a que equipou o Maruti Suzuki Swift Dzire como também nas de 80cv que ao serem atualizadas para atender às normas Euro 6d-TEMP ainda dispensam o SCR mas alcançam o mesmo torque das de 95cv que já recorrem ao SCR na Europa, e até chega a soar estúpido que se dê uma importância excessiva tão somente à potência a ponto de hoje só utilitários como o Fiorino de 3ª geração europeu usarem a especificação mais simples dispensando o fluido-padrão AdBlue/ARLA-32.
Naturalmente, as configurações do motor podem não ser a única preocupação, com as especificações do combustível também influenciando muito na durabilidade e eficiência dos dispositivos de controle de emissões a longo prazo tornando-se um fator crítico no planejamento de viagens quando um teor de enxofre mais alto no óleo diesel convencional pode ser especialmente nocivo a motores equipados com EGR. Por mais que exista a possibilidade de fazer um bypass do EGR e eventualmente instalar um difusor no escapamento ou até remover o DPF, mitigando ao menos em parte o risco de danos aos sistemas de pós-tratamento e até ao motor mesmo, também é importante salientar que tais alterações podem ser consideradas irregulares e até ser tipificadas como crime ambiental. Assim, hoje é comum que modelos como o Fiat Cronos fabricado na Argentina contem somente com versões a gasolina por lá com os motores Firefly de 1.3L e E.torQ de 1.8L cujos similares de especificação brasileira são sempre "flex" a gasolina ou etanol.
No caso de operações mais regionalizadas para as quais seja mais incomum uma maior distância de onde o veículo esteja baseado, como acontece com os táxis, um controle de qualidade mais rigoroso para o óleo diesel torna-se mais fácil e de certa forma até inevitável, e a bem da verdade por mais que um motor turbodiesel possa ter um custo inicial superior ao de um motor "flex" de ignição por faísca com injeção nos pórticos de válvula e aspiração natural há de se considerar que o perfil de utilização nos táxis e veículos de transporte por aplicativo podem apresentar um retorno mais rápido do investimento. E mesmo para usuários particulares que não exerçam atividade remunerada, ainda é relevante a liberdade de escolha da qual o público generalista acaba sendo privado enquanto não parte para um SUV ao invés dum modelo mais tradicional como um sedan. Enfim, apesar da complexidade de sistemas de controle de emissões ter seus efeitos colaterais, não justifica eliminar uma opção pelo Diesel.
terça-feira, 15 de dezembro de 2020
Maruti Suzuki: após o erro de abandonar o Diesel, um retorno já se encontra em andamento
Além do Vitara, outro Suzuki bem conhecido no Brasil cujas versões Maruti destinadas à Índia tiveram inicialmente apenas a motorização turbodiesel (que diga-se de passagem nem chegou a ser oferecida no mercado brasileiro) foi o S-Cross, e embora o mesmo motor de origem Fiat fosse oferecido em ambos teve configurações diferentes de acordo com os modelos aos quais era aplicado. No caso do Vitara e do S-Cross era usada a versão com potência de 90cv e torque de 200Nm, com opção de câmbio manual ou automatizado de embreagem simples e 5 marchas para o Vitara enquanto um sistema mild-hybrid de 48 volts equipava o S-Cross que contava somente com o câmbio manual, enquanto outra versão de 75cv e 190Nm atendia a modelos mais modestos. Convém destacar que esse motor já atendia às normas Bharat Stage-IV sem recorrer ao filtro de material particulado (DPF), que no entanto é imprescindível para que se mantenha enquadrado nas normas Bharat Stage-VI observando ainda a equivalência de ambas com os padrões Euro-4 e Euro-6 respectivamente e o fato de versões Euro-5 do mesmo motor já terem saído de fábrica com esse filtro. Convém observar ainda a questão das emissões de óxidos de nitrogênio, que tem estado sob um maior escrutínio desde 2015 com a eclosão do "Dieselgate" cujas suspeitas lançadas não se limitaram tão somente à Volkswagen que usava softwares para burlar os testes de homologação e poder desovar alguns modelos sem recorrer ao sistema SCR, mas no caso do motor Fiat Multijet II vale lembrar que uma configuração com 80cv e os mesmos 200Nm já está pronta para atender até normas mais rigorosas como a atual Euro-6d TEMP em vigor na Europa sem o SCR requerido na configuração de 95cv, e portanto um retorno triunfal do Diesel para os consumidores indianos não estaria tão distante de ocorrer até mesmo já em 2021.
E mesmo em meio à crise deflagrada pelo novo coronavírus chinês ao longo de 2020 tendo levado a um cenário caótico em âmbito mundial, alegações anteriores da Maruti Suzuki com relação a uma suposta inviabilidade do Diesel de médio a longo prazo já cairiam por terra facilmente ao recordarmos que para triciclos utilitários como o Piaggio Ape cuja produção encontra-se concentrada na Índia chegaram a ser desenvolvidos motores compatíveis com as normas Bharat Stage-VI mesmo que para exportação ainda prevaleçam modelos Euro-4 e essa categoria seja ainda mais sensível a incrementos no preço inicial. Ao considerar também que a demanda por veículos com um aspecto mais convencional e 4 rodas tem feito a participação de triciclos no mercado de veículos novos na Índia diminuir durante 2020, em que pese o baixo custo mantendo tal opção atrativa para o transporte urbano de pequenas cargas, toma proporções ainda mais contraditórias a forma que a Maruti Suzuki subestimou o Diesel mesmo que até fosse menos dependente dessa opção que alguns fabricantes de triciclos. Enfim, o caso recente da Maruti evidencia a relevância do Diesel mesmo quando parecia muito mais fácil convencer o público a simplesmente abrir mão dessa opção.
sexta-feira, 11 de dezembro de 2020
Comparação improvável: Toyota Bandeirante e Gurgel X-12
No tocante às dimensões externas, o comprimento de 3,93m e a distância entre-eixos de 2,285m já são favoráveis tanto a incursões off-road mais pesadas quanto para os deslocamentos urbanos, em que pese a rusticidade que acaba se sobrepondo a um eventual conforto que dependeria da adaptação de alguns acessórios ou de modificações relativamente complexas principalmente no tocante à suspensão que com eixo rígido e feixes de molas tanto na frente quanto atrás não faz milagres. Aí já começam os contrastes com o Gurgel X-12, cuja carroceria monobloco feita em plástico reforçado com fibra de vidro e tubos de aço de seção quadrada (técnica denominada "plasteel" por João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, fundador da Gurgel e responsável pelo projeto) tem 3,31m de comprimento e uma distância entre-eixos de 2,04m que a princípio seriam suficientes para favorecer ainda mais a agilidade em espaços exíguos, além de manter a suspensão independente nas 4 rodas proveniente da Volkswagen que fornecia todo o conjunto mecânico derivado do Fusca incluindo o motor traseiro e a tração simples que acabou sendo um impedimento à disponibilização de motores Diesel no X-12. A diferença de apenas 15mm entre a largura de 1,665m do Bandeirante e 1,65m do X-12 pode parecer irrelevante num primeiro momento, assim como a diferença de 42,8cm na altura total de 1,998m do Toyota e de 1,56m do Gurgel, embora a inclinação dos parabrisas e os paralamas dianteiros mais integrados à carroceria tendessem a favorecer a aerodinâmica no modelo mais compacto.
Já observando no tocante à mecânica, embora a tração somente traseira pudesse parecer mais favorável à eficiência geral devido ao peso menor, não convém esperar milagres com o motor Volkswagen boxer refrigerado a ar de 1.6L tanto para versões movidas a gasolina quanto nas raras movidas a etanol que foram mais destinadas a repartições públicas devido a discordâncias do engenheiro Amaral Gurgel com relação ao ProÁlcool. E mesmo pesando menos da metade de um Bandeirante, o X-12 a gasolina tem as médias de consumo de combustível apontadas entre 9 e 11km/l que dão a entender uma superioridade de motores Diesel em geral. Guardadas as devidas proporções, não apenas pelo tamanho pelos sistemas de tração ou a discrepância entre as faixas de cilindrada e regimes de rotação, não seria de se duvidar que eventualmente um motor Diesel compacto e de alta rotação como a versão do EA-827 que chegou a ser produzida no Brasil mesmo poderia até levar a um acirramento na disputa com as versões de chassi curto do Toyota Bandeirante de forma análoga a como a ascensão da Gurgel de fabricante de buggies à produção de modelos que hoje seriam provavelmente classificados como um SUV crossover devido ao uso de elementos mecânicos de um automóvel generalista acabou induzindo a Ford a descontinuar o Jeep CJ-5 no Brasil.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2020
Câmbio automatizado monoembreagem: um quebra-galho mais fácil de justificar do que poderia parecer inicialmente
A massificação do gerenciamento eletrônico nos motores foi essencial para que o câmbio automatizado pudesse ser viabilizado, o que num primeiro momento poderia parecer contraditório ao lembrarmos que gerações mais antigas de motores Diesel já podiam funcionar satisfatoriamente associadas a um câmbio automático tanto com controles puramente hidráulicos quanto com um sistema eletrônico stand-alone. É importante destacar que a mesma precisão proporcionada pela eletrônica aos câmbios automatizados foi também benéfica aos automáticos, o que a princípio favoreça uma preferência dos gestores de frotas ao automatizado tão somente pelo conceito mais próximo de um câmbio manual convencional, podendo ser aplicável portanto a praticamente qualquer veículo com motor gerenciado eletronicamente, desde os caminhões Volkswagen Constellation que já incorporam em algumas versões câmbio automatizado sob a denominação comercial V-Tronic até o Lada Niva que segue disponível no exterior já com a injeção eletrônica sequencial nos pórticos de válvula mas que nunca foi oferecido com nenhum câmbio que não seja manual.
Um caso interessante de se observar de um veículo inicialmente lançado somente com câmbio manual e que viria a incorporar posteriormente a opção pelo câmbio automático, a Volkswagen Amarok chegou ao mercado brasileiro em 2010 importada da Argentina, e junto ao motor 2.0 TDI com 4 cilindros vinha o câmbio ZF Ecolite 6S-450 fabricado no Brasil. Esse mesmo câmbio até poderia ter sido oferecido em configuração automatizada, lembrando que para uso em caminhões leves e microônibus outros câmbios manuais da série Ecolite já serviam de base para automatizados AS-Tronic, e a princípio já poderia ser uma opção conveniente para quem priorizava o conforto mas não se dispunha a esperar pelo automático também produzido pela ZF da série 8HP mas proveniente da Alemanha. Pode soar muito imediatista, e até reforçar a imagem de gambiarra que persiste junto a uma parte do público com relação aos câmbios automatizados monoembreagem, embora também caiba observar que desde 2003 a própria Volkswagen começou a apostar nos câmbios automatizados de dupla embreagem como alternativa aos automáticos convencionais mas a durabilidade em condições operacionais severas sofra questionamentos mais duros em comparação tanto aos automáticos propriamente ditos quanto aos manuais, o que leva a crer que um automatizado de embreagem simples possa não ser de todo inservível.
Naturalmente, com os câmbios ZF 8HP45 oferecido opcionalmente em versões da Amarok equipadas com o motor 2.0 TDI e 8HP70 que no Brasil é o único disponível com o motor 3.0 V6 TDI já não sobra muito espaço para levantar a hipótese de ser disponibilizado um câmbio automatizado, por mais que até pudesse parecer fazer algum sentido no tocante à logística num primeiro momento. Tendo em vista que tanto a opção pelo motor V6 quanto o câmbio automático de 8 marchas consolidaram junto ao público a imagem de sofisticação em torno da Amarok, o perfil dos compradores desse modelo fica mais distante das premissas de simplicidade que levam um câmbio automatizado monoembreagem a se manter como um primeiro passo no sentido de quebrar uma hegemonia do câmbio manual em aplicações estritamente profissionais. Da mesma forma que motores turbodiesel deixaram de ser vistos tão somente como uma ferramenta de trabalho, à medida que o consumidor generalista se encantava pelas pick-ups médias com cabine dupla, uma desmistificação do câmbio automático que já vem ocorrendo no mercado de veículos particulares não deixa de ter algum impacto também junto a veículos teoricamente mais voltados ao uso comercial.
Por mais que um câmbio automatizado não vá proporcionar todas as vantagens de um automático, vale destacar que o fato de priorizar as trocas de marcha "no tempo" e a integração dos controles eletrônicos entre motor e câmbio já prolonga a durabilidade do conjunto de embreagem e tende a evitar excessos de rotação em algumas circunstâncias, proporcionando uma redução no consumo de combustível que seria apreciada pelos gestores de frota que não considerem tão supérfluo o conforto do operador. Outro ponto a se destacar é o menor incremento sobre o peso em ordem de marcha comparado ao que se observaria com um câmbio automático, e portanto a capacidade de carga fica menos comprometida tomando por referência o mesmo modelo equipado com o câmbio manual. Enfim, ainda que historicamente não se dê a justa atenção ao conforto em veículos utilitários, a possibilidade de conciliar benefícios ao operador a rotinas de manutenção já consolidadas com o câmbio manual mantém o automatizado monoembreagem como uma alternativa razoável em algumas aplicações.
terça-feira, 1 de dezembro de 2020
Caso para reflexão: Fiat Strada e oportunidades para motores Hesselman num contexto latino-americano
quarta-feira, 25 de novembro de 2020
Breve reflexão: Renault Kangoo Express com kit gás e como o impacto sobre a capacidade de carga pode não ser tão problemático para um similar com motor Diesel
Apesar do fato de ter sido bastante comum em alguns carros de projeto francês da década de '90 o pneu estepe ser localizado sob o assoalho do compartimento de bagagens, ou de carga no caso de versões que tinham essa finalidade, não se pode negar que a instalação de um kit de conversão para gás natural com um ou mais cilindros nessa posição obrigando a uma realocação do estepe tem um impacto comparável ao que teriam a instalação de um reservatório para o fluido-padrão AdBlue/ARLA-32/ARNOx-32 e um filtro de material particulado (DPF) caso fosse mantida uma plataforma alegadamente defasada mesmo em meio a tantas mudanças que o mercado automobilístico tem apresentado tanto no Brasil quanto num contexto mundial. Diga-se de passagem, no caso de conversões para gás natural que já não são baratas, é relativamente comum que a instalação com os cilindros sob o assoalho também requeira alterações no escapamento, como a realocação do silenciador que pode acabar ficando numa posição mais vulnerável a danos causados por pequenos impactos devido à má conservação de algumas vias por exemplo. Não é impossível que outros sistemas mais frequentemente associados a motores Diesel também fiquem numa posição vulnerável, mas no caso de um tanque de AdBlue o fato de não conter altas pressões viabiliza a moldagem em algum formato que aproveite melhor alguns espaços mais contidos onde possa até estar mais protegido de colisões contra irregularidades na pista ou o lançamento de detritos, ainda que o uso de AdBlue numa proporção maior comparada ao combustível contraste com o que ocorre em veículos flex ainda dotados do tanquinho auxiliar de gasolina para partida a frio que de tão pequeno ficava sob o capô.
A forma como o uso do gás natural é regulamentado em diferentes países e regiões também interfere no impacto sobre a carga útil tanto em peso quanto em volume, tomando por referência no Brasil onde não é permitido diminuir a capacidade do tanque de combustível original ao converter um veículo para gás, enquanto nos Estados Unidos é comum que se torne o único combustível principalmente em aplicações comerciais ou até em veículos particulares em estados como California e Oklahoma para ter acesso aos benefícios fiscais, enquanto em países-membros da União Européia mesmo que passe a ser usado como o combustível principal ao menos em veículos que já saem de fábrica configurados para tal preserva-se a capacidade de operar com gasolina armazenada num tanque menor em caráter emergencial. O peso e o volume dum sistema de gás natural em proporção à autonomia adicional tomando por referência o uso de gasolina como combustível principal também dá margem a questionamentos, tendo em vista que não é tão fácil obter reservatórios para alta pressão com formatos mais facilmente integráveis a plataformas específicas, cada metro cúbico (m³) de gás natural abastecido a uma pressão de 200 bar ocupa o volume de 5 litros mesmo equivalendo a cerca de 1,29 litro de gasolina no tocante à autonomia. Enfim, mesmo que algumas regiões estejam bem servidas de gás natural e o preço permaneça competitivo, na prática é questionável até que ponto a praticidade permaneça maior em comparação tanto a um motor turbodiesel moderno com toda a parafernália de controle de emissões ou até diante dum flex operando com etanol.
quinta-feira, 19 de novembro de 2020
Caso para reflexão: Volvo XC40 T5 Twin Engine Plug-in Hybrid e alguns dilemas da hibridização
segunda-feira, 16 de novembro de 2020
Afinal, qual será o melhor provisão para o EGR?
Embora alguns possam supor que simplesmente diluir as câmaras de combustão com gases inertes de escape para reduzir a concentração de oxigênio e nitrogênio, que já seria suficiente para aproximar as proporções de ar e combustível necessárias à combustão completa, poderia trazer melhores resultados se tais gases recirculados fossem sempre refrigerados, na prática pode haver benefícios em usar EGR não-refrigerado especialmente em seguimento a uma partida a frio visando estabilizar a marcha-lenta mais cedo e durante a autolimpeza ou "regeneração" do filtro de material particulado. De fato, é cada vez mais crítico para o correto funcionamento dos dispositivos de controle de emissões e para atenuar dificuldades no uso de concentrações mais altas de biodiesel uma maior precisão no gerenciamento térmico do motor, e isso inclui eventualmente aproveitar uma parte da energia que seria dissipada na forma de calor mas que ainda teria aproveitamento para melhorar a eficiência durante um processo de combustão subsequente. Levando em consideração que não apenas altas pressões, mas o aquecimento aerodinâmico resultante da compressão das cargas de admissão é importante para que possa ocorrer a auto-ignição do óleo diesel ou de substitutivos, na prática a combinação entre uma energia térmica recuperada e a tendência que gases quentes tem a se expandir podem até favorecer a combustão em algumas condições.
Mas como seria de se esperar, o EGR também apresenta alguns efeitos colaterais indesejáveis, e que se mostram potencialmente problemáticos como uma acidificação mais intensa do óleo lubrificante e contaminação com partículas abrasivas, além de aumentar a incrustação de resíduos carbonizados no coletor de admissão ao serem misturados com vapores oleosos provenientes da ventilação positiva do cárter (PCV - "válvula antichama") no caso do EGR externo. A presença do "EGR interno" foi menos expressiva em motores Diesel para aplicações pesadas, destacando o motor Caterpillar C15 ACERT que foi usado em caminhões de origem americana como os Kenworth série K antes que passasse a ter somente motor Cummins X15 quando a produção passou a acontecer somente na Austrália que usa só o SCR para controle das emissões de NOx. De fato, nas aplicações pesadas o EGR foi mais rejeitado até em função de discrepâncias na qualidade do óleo diesel convencional com o "diesel rodoviário" mantendo a concentração de 500 partes por milhão de enxofre (S-500) enquanto dentro de perímetros urbanos o mais comum é encontrar o Diesel S10 com 10 partes por milhão de enxofre, e portanto não convém deixar de prestar atenção ao teor de enxofre independentemente de qual sistema EGR estiver em uso para evitar o risco de danos que compostos sulfurosos possam causar ao motor durante a recirculação de gases de escape.
Considerando fatores que vão desde um acesso relativamente fácil para desabilitar o sistema quando necessário (ainda que possa ser uma modificação ilegal), passando pela economia de escala em caso de seguir atualizando um motor como o Renault K9K 1.5dCi já conhecido no exterior desde a época que equipava o Renault Clio II enquando os brasileiros tinham que se conformar com o D4D de 1.0L a gasolina, o EGR externo pode não ser tão indesejável em aplicações atuais do K9K como o Dacia Dokker vendido na Argentina como Renault Nuevo Kangoo. No caso de um motor sem variação de fase, o que é especialmente compreensível tendo em vista que nos motores Diesel não é tão usual uma faixa de rotações muito ampla que necessite de recursos muito sofisticados para manter a elasticidade, nem teria como justificar qualquer tentativa de aplicar um "EGR interno". Enfim, apesar de ter efeitos colaterais e tornar-se algo a mais para requerer manutenção, um EGR externo ainda pode encontrar justificativas para que permaneça o método mais comum.
sexta-feira, 13 de novembro de 2020
5 motivos para a hibridização eventualmente fomentar algum comodismo em torno da manutenção de restrições ao Diesel em veículos leves
1 - abordagem mais conservadora no tocante ao motor de combustão interna: no caso do Corolla E210, o fato das versões híbridas do sedan oferecerem somente o motor 2ZR-FXE de 1.8L que recebeu no Brasil a configuração "flex" para operar também com etanol chama a atenção, especialmente quando se lembra que o hatch e a wagon Sports Touring que não são oferecidos no mercado nacional dispõem opcionalmente do motor M20A-FXS de 2.0L derivado do mesmo M20A-FKS que também deu origem ao M20A-FKB do sedan não-híbrido nacional que também incorporou a capacidade de funcionar tanto com gasolina quanto etanol. Só o fato de contar com a injeção sequencial no pórtico de válvulas, que às vezes acaba sendo apontada como obsoleta diante de uma presença mais maciça da injeção direta nos motores a gasolina ou "flex" ou da combinação entre ambos os sistemas de injeção em motores como os M20A, não só serviria para minimizar o impacto do custo inicial do sistema híbrido como também evita o custo e preocupações em torno de filtros de material particulado já exigidos para todos os motores de injeção direta em mercados como o europeu e o japonês ou até o indiano;
2 - maior aceitação do câmbio automático: em meio a um trânsito urbano cada vez mais pesado, não é possível negar que o câmbio automático proporciona uma comodidade especialmente desejável para operadores comerciais que passem longas jornadas ao volante. E enquanto alguns veículos híbridos já se valem do conjunto dos motores elétricos para simular o efeito de uma transmissão continuamente variável (CVT) otimizando o rendimento do motor de combustão interna, na prática sem ter um câmbio propriamente dito, também vale destacar que é possível proporcionar uma transição mais suave entre os modos de funcionamento totalmente elétrico ou com o motor de combustão interna em operação com o câmbio automático ou valendo-se da ação dos motores elétricos que pode ser modulada mais facilmente sem uma intervenção do motorista por meio de um câmbio manual;
3 - descrédito quanto aos combustíveis alternativos: considerando as históricas oscilações nos preços do etanol que fomentaram a ascensão dos "flex" no Brasil e o fim dos carros somente a álcool, passando pelas dificuldades práticas com o gás natural que incluem a disponibilidade um tanto limitada e também o espaço que um ou mais cilindros de gás ocupam prejudicando o volume de bagagens transportável, é até previsível que a expectativa de um menor consumo de gasolina associada a um sistema híbrido já atraia alguns operadores que já não depositam grandes esperanças em combustíveis alternativos. Mas é especialmente curioso no caso do Corolla a maior facilidade que se teria hoje para converter um híbrido ao gás natural, tendo em vista a menor complexidade do sistema de injeção original;
4 - eventuais fatores de cunho político: a menor incidência de impostos sobre um automóvel híbrido em comparação a similares não-híbridos tanto no Brasil quanto em alguns outros mercados ainda não é suficiente para cobrir a diferença entre os custos iniciais na maioria dos segmentos, embora já acabe até favorecendo um fogo amigo contra o Diesel tanto em modelos de alto luxo quanto no Corolla que nem conta mais com essa opção nos mercados onde não era afetado por restrições baseadas nas capacidades de carga e passageiros ou tração em vigor no Brasil. E para usuários particulares ou frotas de empresas, a isenção de rodízio em cidades como São Paulo acaba sendo mais um atrativo para a hibridização e soe mais conveniente até para amortizar mais rapidamente o investimento;
5 - expectativas às vezes exageradas em torno da "sustentabilidade": em se tratando dos veículos com motor de combustão interna, que já vem sofrendo uma demonização sistemática de parte da mídia e grupos com interesses escusos, não deixa de ser relevante a percepção do público generalista quanto a motores de ignição por faísca só a gasolina ou "flex" como sendo inerentemente mais "limpos" que um turbodiesel. Deixando de lado as polêmicas quanto à composição química das baterias e reciclabilidade dos eletrólitos de baterias descartadas e como algumas novas gerações de motores turbodiesel já contam com sistemas de pós-tratamento de gases de escape mais eficientes, a forma como a hibridização já vem privilegiando a ignição por faísca fomentou a imagem de um antagonismo ao Diesel que se mostra um tanto exagerado.