quinta-feira, 21 de maio de 2015

Breve observação sobre a desativação de cilindros

Um recurso que vem ganhou algum espaço em motores de ignição por faísca, principalmente os com mais de 4 cilindros, mas atualmente é alvo de alguns questionamentos. A desativação automática de alguns cilindros (usualmente a metade) em condições de baixa carga, também conhecida como "displacement on demand" (algo como "cilindrada sob demanda") ou "active fuel management" (AFM, "gerenciamento ativo de combustível"), foi um expediente que atraiu a atenção principalmente de fabricantes americanos, e implementado principalmente nos grandes motores V8 que ainda agradam muito ao público dos Estados Unidos. Soava tentadora a proposta de mais economia em condições leves com uma boa reserva de potência para atender a um chamado mais rigoroso ao pedal da direita.

No entanto, ao analisarmos por outro aspecto, acaba não sendo lá aquela 8ª maravilha: apenas desativar a injeção de combustível em alguns cilindros não elimina por completo fricções internas inerentes aos respectivos pistões, bielas, válvulas e outros tantos componentes associados ao comando de válvulas, tampouco as "perdas por bombeamento" resultantes do fluxo de ar que continua a ser movimentado dentro dos cilindros desativados. Mesmo em situações nas quais o esforço requerido do motor possa ser considerado de baixa intensidade, há de se deduzir também que manter a geração de força em todos os cilindros a um regime de rotações menor acaba sendo mais eficiente, além de manter um funcionamento mais suave. Vale lembrar, também, que a crescente popularidade do desligamento e arranque automático em marcha-lenta (start-stop) faz com que o "active fuel management" se torne redundante.

A bem da verdade, se não fosse pela teimosia de alguns consumidores que ainda consideram a quantidade de cilindros como uma característica de prestígio, seria pouco provável que um expediente tão precário e com nomes que remetem aos produtos das Organizações Tabajara viesse a encontrar um lugar no mercado. Chega a ser até certo ponto chocante que de vez em quando apareça algum interessado em implementar tal aberração técnica num motor Diesel, pois ocorreria uma defasagem mais significativa entre as temperaturas internas dos cilindros que permaneceriam funcionando de forma contínua comparados aos que teriam uma intermitência nos respectivos ciclos de combustão, e nesse ponto o ciclo Diesel é mais sensível, tornando o funcionamento mais áspero e trazendo mais prejuízos do que benefícios à eficiência geral.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Sul: amplo potencial inexplorado para a bioenergia

Ao contrário de muitos países que apresentam uma cultura mais homogênea por todas as respectivas extensões territoriais, o Brasil apresenta algumas diferenças substanciais devido à grande extensão territorial, diversas composições étnico-raciais e das peculiaridades geográficas de cada região. Pode parecer insignificante levar tais fatores em consideração, e até ser visto com maus olhos pelos desocupados de plantão que ficam procurando pêlo em ovo para acusar de "xenofobia" ou "racismo" um descendente de europeus da região Sul, mas é evidente que tais particularidades influenciam no predomínio de opiniões favoráveis ou contrárias à liberação do Diesel em diferentes partes do país.

No caso do Sul, com uma forte tradição agropastoril, a disponibilidade de matérias-primas para a produção de biodiesel é um argumento favorável, seguido pelo modelo de colonização rural adotado e focado inicialmente na subsistência dos colonos e no suprimento aos mercados locais. O apego à terra natal e a valorização dos produtos regionais, ocorrendo numa proporção mais significativa no Rio Grande do Sul, também pode ser facilmente direcionada ao uso de combustíveis a serem produzidos localmente. Além da soja, que vem sendo a principal matéria-prima do biodiesel brasileiro, não se pode esquecer que os óleos de outros cultivares também serve para essa finalidade, inclusive o óleo de arroz, para não entrar no mérito do uso de gorduras animais que se encaixa como uma luva devido à tradição da pecuária gaúcha, e ainda um eventual redirecionamento de resíduos agrícolas com altos teores de celulose ou amido para a produção de etanol ou metanol, que podem tanto ser usados diretamente como combustível ou como reagente na produção do biodiesel. Sobras da produção de biodiesel e álcoois também podem ser processadas em biodigestores para a obtenção de biogás/biometano.

Paraná e Santa Catarina também tem um enorme potencial bioenergético a ser explorado. Além do Paraná estar hoje numa posição privilegiada no cenário da avicultura, com grande participação também em mercados de exportação, e a força da suinocultura em Santa Catarina, chega a soar absurdo a participação inexpressiva do biogás que poderia ser gerado a partir do processamento dos dejetos em biodigestores. Vísceras de baixo valor comercial que não servem nem para fabricar ração de cachorro também podem ser processadas em biodigestores, juntamente com sangue, penas, pêlos e outros restos do abate. O processamento industrial das carnes também possibilita um reaproveitamento de quantidades consideráveis da gordura corporal dos animais para a produção de biodiesel. No caso de Santa Catarina, a experiência de sucesso com a maricultura na produção de ostras em Florianópolis também poderia ser aproveitada no cultivo de algas oleaginosas, e de peixes brancos que concentram a maior parte da gordura corporal no fígado. Também merece destaque a produção de cachaça artesanal em Santa Catarina e, além da "cabeça" da coluna de destilação poder ser usada diretamente como combustível, há também a "cauda", e ambas as porções podem ser reprocessadas para se extrair a água e servirem como reagente na produção de biodiesel.

Com a grande adaptabilidade do ciclo Diesel ao uso de combustíveis alternativos e a possibilidade de uma autonomia regional na produção de uma ampla variedade de biocombustíveis adequados a diferentes cenários operacionais e preferências pessoais dos operadores, a proposta de liberação do Diesel soa bastante convidativa. Mesmo o biogás/biometano ainda dependendo da ignição por faísca ou da injeção-piloto de algum combustível líquido que se auto-inflame por compressão, há de se considerar também a implementação de normas de emissões para equipamentos agrícolas que acaba despertando algum interesse pelos motores de ciclo Otto nessa aplicação em função do custo de aquisição mais baixo e dos dispositivos de controle de emissões menos sofisticados, ao mesmo tempo que tanto uma operação em escala comercial destinada ao biodiesel quanto uma mais focada no etanol ainda tem o potencial para desenvolver o uso do biogás para atender à própria demanda por combustíveis, e assim uma quantidade considerável de outros substitutivos do óleo diesel convencional fica liberada para atender a aplicações veiculares diversas.