Um lugar para os malucos por motores do ciclo Diesel compartilharem experiências. A favor da liberação do Diesel em veículos leves no mercado brasileiro, e de uma oferta mais ampla de biocombustíveis no varejo.
sexta-feira, 28 de maio de 2021
Ford Bronco Sport: praticamente impossível justificar a ausência de ao menos uma opção turbodiesel
Com a proposta da Ford de concentrar esforços em segmentos mais lucrativos como o dos SUVs, para os quais a preferência do público permanece mais favorável aos motores turbodiesel mesmo na Europa que tem sofrido tanto com a insensatez no âmbito regulatório, não seria de todo má idéia disponibilizar os motores EcoBlue tendo em vista a compatibilidade com algum câmbio automático Ford 8F como o já aplicado ao Bronco Sport. A plataforma C2 aplicada a esse modelo também é compatível com as gerações mais recentes de sistemas de controle de emissões, inclusive o SCR que necessita do tanque para o fluido-padrão AdBlue/ARLA-32/ARNOx-32/DEF já massificado mesmo em automóveis leves na Europa e nos Estados Unidos quando equipados com motores turbodiesel. Não seria de se descartar a importância que um motor turbodiesel poderia ter para ampliar a presença do Ford Bronco Sport em mercados de exportação, somando-se o fato do México onde é produzido ser um país bioceânico ainda facilitar a logística para atender tanto regiões banhadas pelo Oceano Atlântico como Mercosul e União Européia quanto pelo Oceano Pacífico a exemplo de Austrália e Nova Zelândia, e portanto chega a ser incompreensível a Ford ignorar essa possibilidade em um modelo destinado ao segmento onde passou a depositar todas as fichas em busca de uma retomada da lucratividade.
quinta-feira, 20 de maio de 2021
Pick-ups ou SUVs: dentre os compactos, quais permanecem mais relevantes à pauta da liberação do Diesel?
quarta-feira, 12 de maio de 2021
5 opções de motor para adaptar na Effa Plutus
Uma das pick-ups médias com uma história mais obscura no mercado brasileiro, a Effa Plutus fabricada na China pela Huanghai e montada no Uruguai a partir de kits CKD não teve um grande destaque. Além da desconfiança com relação a veículos de fabricação chinesa ser mais forte no Brasil que no Uruguai, a utilização de um motor copiado do Mitsubishi 4M41 numa calibração bastante conservadora contrasta com a preferência por maior sofisticação e desempenho mais vigoroso observada junto a modelos da mesma categoria oferecidos pelos fabricantes mais tradicionais entre 2011 e 2012. Naturalmente, por não ter um valor de revenda tão alto comparada a outras pick-ups e a assistência técnica autorizada não ser tão facilmente encontrada, fica convidativa a adaptações com outros conjuntos mecânicos e sistemas diversos à medida que ainda houver interesse de manter em condições operacionais, e ao menos 5 motores podem ser opções bastante convenientes para adaptar na Effa Plutus:
1 - MWM Sprint 4.07 TCE: por ter sido homologada no Brasil na vigência das normas de emissões Euro-3, a versão gerenciada eletronicamente desse motor a princípio seria mais indicada para evitar que entraves burocráticos dificultem o licenciamento para trafegar por vias públicas. Como esse motor já é muito usado para adaptações em modelos Mitsubishi originalmente equipados com o 4M40, também não seriam de se esperar maiores dificuldades para o MWM ser acomodado;
2 - Cummins ISF2.8: um motor desenvolvido especificamente para atender à demanda da China, onde cópias do Isuzu 4JB1-TC permanecem populares entre os fabricantes de veículos utilitários. Tendo em vista que a Huanghai Plutus também dispôs de cópias do motor Isuzu tanto no mercado interno chinês quanto para exportação a outras regiões, e que o Cummins ISF2.8 ganhou algum espaço no Brasil não só em utilitários de origem chinesa mas também em caminhões Ford e Volkswagen e nos jipes Agrale Marruá, pode ser uma opção satisfatória para adaptações;
3 - Cummins ISF3.8: apesar da cilindrada mais alta e regimes de rotação mais modestos, esse outro motor também desenvolvido com vistas inicialmente ao mercado asiático teve como prioridade durante o projeto um envelope relativamente compacto. Também já usado em caminhões Volkswagen Delivery e chassis de microônibus Volksbus, e em alguns modelos da Agrale tanto de caminhões quanto chassis de microônibus. O fato desse motor já ser produzido também no Brasil pesa favoravelmente;
4 - Mitsubishi 4D56: além de copiado por alguns fabricantes chineses de motores, o 4D56 também tem versões ainda produzidas sob licença pela Hyundai na Coréia do Sul. Algumas versões ainda de injeção indireta com comando de válvulas simples no cabeçote foram usadas pelo grupo Souza Ramos/HPE em versões nacionais da Mitsubishi L200 até 2011, enquanto configurações de duplo comando de válvulas e injeção eletrônica common-rail são vistas mais facilmente nos utilitários Hyundai HR já montado no Brasil e no Kia K2500 montado no Uruguai. Vale destacar que, apesar da cilindrada menor, no exterior o 4D56 na configuração mais moderna chegou a ser usado em algumas aplicações que o 4M41 foi usado no Brasil;
5 - Yanmar 4TNV98T: mais usado no Brasil em tratores Agritech, e apesar de ter uma calibração de potência e torque até ligeiramente mais contida em comparação ao motor chinês mesmo com cilindrada pouquíssimo mais alta, é uma boa opção devido à concepção mais resistente a condições operacionais severas. Por mais que num primeiro momento pareça contraditório sugerir um motor ainda mais rústico e não ser exatamente um upgrade no tocante ao desempenho, até porque essa é uma das características que desagradava ao público generalista quando a Effa Plutus foi oferecida no Brasil, o fato de já ser um motor mais confiável e ter uma rede de assistência técnica até em algumas regiões rurais o favorece. Para quem eventualmente precise fazer viagens com o veículo tanto a lazer quanto a trabalho, é uma opção a ser levada em conta.
segunda-feira, 3 de maio de 2021
Refletindo sobre o dilema entre tradição e modernidade
Convém lembrar que fabricantes europeus como a antiga Rover, responsável pelo projeto de uma linha modular de motores com 4 cilindros específica para os jipes Land Rover originalmente lançada ainda na década de '50 e que teve versões a gasolina e Diesel oferecidas até o fim da montagem do Defender no Brasil em 2006 em configuração turbodiesel de 2.5L e 115cv, já favoreciam motores de alta rotação até para aproveitar melhor a escala de produção devido ao compartilhamento de alguns componentes. Vale destacar também como um motor de porte menor e portanto peso mais contido sobre o eixo dianteiro já podia encontrar uma boa receptividade junto a um público que frequentemente opere em condições de rodagem severas por trechos não-pavimentados, mesmo com um desempenho menos vigoroso diante de similares com ignição por faísca considerando que ambos os motores tenham aspiração natural. Tanto o motor Diesel com aspiração natural e injeção indireta quanto uma opção a gasolina usando carburador permaneceram em produção na Inglaterra até '94, tendo em vista a necessidade do Exército Britânico por um motor compatível com um sistema elétrico de 24 volts mais frequentemente usado nos veículos militares que era incompatível tanto com o motor Diesel Turbo de injeção indireta quanto com o 200Tdi já com injeção direta que no mesmo ano deu lugar ao 300Tdi que equipou até '98 modelos ingleses com a substituição pelo Td5 com a mesma cilindrada de 2.5L mas deixando de lado a configuração com 4 cilindros para passar a 5 cilindros e também incorporando o gerenciamento eletrônico.
É relevante destacar como diferentes configurações de motor podem adequar-se a veículos de propostas um tanto parecidas, em que pese um eventual impacto sobre a capacidade de carga favorecendo mais o downsizing num caminhão como o Volkswagen Delivery Express com motor Cummins ISF2.8 usando o sistema EGR para controlar as emissões de óxidos de nitrogênio mesmo que outras versões da linha Delivery recorram ao SCR tanto especificadas com o ISF2.8 quanto com o ISF3.8 usado nos modelos mais pesados. Tendo em vista que o Delivery Express mantém-se enquadrado numa faixa de peso bruto total até 3.500kg que permite a condução com CNH categoria B para automóveis, um motor maior afeta tanto a lotação máxima quanto a concentração de peso entre os eixos, e o foco na distribuição urbana já torna a princípio mais previsível a disponibilidade de óleo diesel S-10 com baixo teor de enxofre que causa menos problemas aos motores equipados com EGR. Já em modelos maiores como o 11.180 que usa o motor Cummins ISF3.8 e o sistema SCR, por mais que a necessidade de suprir também o fluido-padrão ARLA-32/ARNOx-32/AdBlue que é pulverizado sobre os gases de escapamento pareça mais inconveniente, as perspectivas de utilização mais frequente também em rotas regionais torna desejável que o motor sofra menos danos ao usar o óleo diesel rodoviário S-500 que mantém um teor de enxofre 50 vezes mais alto e que diga-se de passagem não é recomendável para nenhum veículo homologado nas normas Euro-5.
Invariavelmente o gerenciamento eletrônico e o turbocompressor tornaram-se hegemônicos nas mais diferentes categorias, e continuando a observação quanto aos caminhões Volkswagen cabe lembrar não só a linha Delivery mas também os Constellation que em algumas versões como o 17.230 usam EGR ao invés do SCR. A presença do filtro de material particulado (DPF) também tornou-se inevitável visando o cumprimento das normas de emissões mais restritivas tanto no Brasil e países vizinhos quanto outras regiões onde já se observa um rigor maior nesse aspecto, não estando limitada aos veículos comerciais pesados, ainda que comportem mais facilmente a instalação de dispositivos de controle de emissões em comparação a automóveis, pick-ups e SUVs em função do espaço requerido para a montagem junto ao chassi e um impacto teoricamente menor sobre a capacidade de carga tanto em peso quanto no volume. Não convém ignorar no entanto que o segmento de caminhões e ônibus também é alvo de pressões para uma maior participação da tração elétrica e de combustíveis alternativos como o gás natural, valendo-se de uma caça às bruxas ainda mais acirrada contra motores Diesel e uma alegada incompatibilidade do DPF com teores mais elevados de biodiesel ou com o eventual uso direto de óleos vegetais brutos como combustível.
Considerando as especificidades de automóveis e alguns veículos comerciais de concepção moderna, o caso de alguns modelos Peugeot que em algum momento contaram com uma especificação do motor turbodiesel DW10 de 2.0L com injeção direta common-rail gerenciada eletronicamente é digno de nota, tomando por referência a Peugeot 306 Break que chegou a oferecê-lo em versão de 90cv e 8 válvulas sem intercooler e a geração atual do Peugeot Boxer que o oferece em configuração de 130cv já com 16 válvulas e intercooler além de incorporar um controle de emissões mais rígido. Enquanto o 306 teve a produção encerrada em 2002 ainda durante a vigência das normas Euro-3 no mercado europeu, tendo o DW10 substituindo o XUD9T de 1.9L com injeção indireta enquanto o XUD9 aspirado deu lugar ao DW8 que mantinha uma configuração semelhante e mais palatável a consumidores de perfil tradicional em países onde o uso de motores Diesel não sofre restrições pelas capacidades de carga ou passageiros e tração, a atual geração do Boxer lançada em 2006 na Europa e remodelada em 2014 cobriu da Euro-4 à atual Euro-6d TEMP aplicável na União Européia para veículos comerciais com peso bruto total de 1760 a 3500kg. Não deixa de ser curioso que, embora pudesse ser enquadrado nas normas Euro-5 ainda em vigor no Brasil sem a necessidade do SCR, o modelo importado da Itália já é importado com esse dispositivo que ainda desperta alguma antipatia por parte de operadores tradicionais.
Apesar da posição de destaque do Brasil no cenário agropecuário internacional tornar até previsível a demanda por pick-ups, que já deixaram de ser somente uma ferramenta de trabalho para serem aceitas também no uso particular e/ou familiar impulsionadas também pela ascensão junto ao público urbano, é necessário reconhecer que ainda há espaço para motores de concepção mais simples que por exemplo o YS23 usado na atual geração da Nissan Frontier. Naturalmente há de se considerar a escala de produção que acaba favorecendo a nível mundial uma série de motores mais moderna, embora o fato de ainda ser usado em outros países também o motor YD25 levasse a crer que não fosse totalmente inoportuno fazer o outsourcing junto a um fornecedor independente de motores Diesel como era mais comum na época que pick-ups full-size ainda prevaleciam a nível de América do Sul. Ainda que a lembrança de quando a Ford usava motores MWM da série 229 no Brasil com 4 cilindros e 3.9L tanto de aspiração natural quanto turbo para a F-1000 e na Argentina ainda chegou a equipar a F-100 com motores Perkins possa soar como um mero improviso que remonta ao imediatismo de um mercado fechado em meio aos primeiros choques do petróleo, não deixaria de ser tentador eventualmente substituir um motor mais sofisticado por outro com concepção mais tradicional e que também seja percebido como de manutenção mais simples.
Vale destacar que no caso dos motores MWM, em que pesem algumas mudanças como incrementos de cilindrada entre as séries 229 e 10 que foram oferecidas na Ford F-1000 e da série 10 para a atual série 12 que numa versão de 6 cilindros e 7.2L gerenciada eletronicamente com filtro de material particulado e SCR hoje equipa por exemplo os chassis de ônibus Volvo B270F, permanece uma concepção modular que continua viabilizando oferecer configurações com diferentes quantidades de cilindros hoje cobrindo também outras aplicações. Lembrando também de quando se insistia pura e simplesmente na adaptação de motores MWM D-229-3 com 3 cilindros e ainda aspiração natural em pick-ups como a F-1000 com a expectativa de diminuir o consumo de combustível como se fosse sempre diretamente proporcional à cilindrada, a viabilidade de alcançar faixas de potência e torque mais confortáveis para acompanhar o fluxo do trânsito tanto urbano quanto rodoviário com a ascensão do turbo e do gerenciamento eletrônico levam a crer que tal opção hoje não seria tão inadequada para a grande maioria dos usuários de pick-ups médias. Enfim, por mais que se faça necessário avaliar os prós e contras de cada configuração e como possam atender às legislações atuais, não seria tão inviável conciliar melhor a tradição e a modernidade.