sábado, 8 de novembro de 2014

Uma reflexão acerca do rechaçamento do PL 1013/11

Na sessão do dia 29 de outubro, a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados mostrou mais uma vez que o Brasil é uma terra de incoerências, ao rechaçar o Projeto de Lei 1013/11, de autoria do deputado Aureo (Solidariedade-RJ), favorável à liberação da comercialização de veículos com motor Diesel e capacidade de carga inferior a uma tonelada, sem as pré-condições de acomodar no mínimo 9 passageiros além do motorista e/ou ter tração 4X4 com reduzida. Foi relator da matéria o deputado Sarney Filho (PV-MA).

O voto do relator não causaria a menor surpresa a quem já se acostumou a ver os políticos brasileiros promovendo verdadeiros absurdos, mas a perpetuação de preconceitos contra o ciclo Diesel e a falta de boa-vontade na análise do tema proposto contrastam com o alegado comprometimento tanto da Comissão quanto do relator e respectivo partido (Partido Verde) diante da questão ecológica e de sustentabilidade...

De acordo com Sarney Filho, os motores do ciclo Diesel emitem uma maior quantidade dos chamados "gases-estufa", o que não é nada além de uma meia-verdade: de fato os óxidos de nitrogênio (NOx) eram um calcanhar-de-Aquiles para os motores Diesel mais antigos, mas hoje há métodos mais avançados para redução nas emissões desses compostos, além da emissão de dióxido de carbono (CO²) por quilômetro rodado ser naturalmente menor num veículo com motor Diesel em comparação a um similar de ignição por faísca.

Ainda de acordo com o parlamentar, apesar de recentes aprimoramentos na qualidade do óleo diesel comercializado no país, tal combustível ainda seria de 7 a 8 vezes mais poluente que a gasolina. Manter as restrições a um tipo de motor com grande adaptabilidade a uma vasta gama de combustíveis alternativos com base na "performance ambiental" alegadamente inferior do combustível atualmente mais usado é, a bem da verdade, tão incoerente quanto alegar que garfos, facas e colheres são a causa da obesidade.

Levantando ainda o tópico do desenvolvimento sustentável, acaba-se deixando passar uma grande oportunidade para geração de emprego e renda tanto em áreas rurais quanto espaços suburbanos degradados, com a possibilidade de tornar mais descentralizada a produção de combustíveis no país, usando matérias-primas mais adequadas a cada realidade regional e diminuindo o custo e complexidade de processos logísticos. Por exemplo, para um morador do interior do meu querido Amazonas faria muito mais sentido usar algum óleo vegetal de origem local, como o óleo de dendê (que mesmo não sendo nativo pode ser cultivado na região) ou de castanha-do-Pará, ou até óleo diesel convencional, ao invés de depender de uma maior quantidade de gasolina que teria de ser transportada do litoral ou de etanol vindo de São Paulo, e o mesmo poderia ser aplicado a outras regiões de acordo com as necessidades locais e o que fosse mais fácil de integrar à cadeia de produção agropastoril.

Não há o que justifique o descaso com o qual a questão da liberação do Diesel vem sendo tratada pelos políticos brasileiros, mas essa é só uma ponta de um iceberg de contradições...

7 comentários:

  1. Já percebi que vocês são fãs dos militares, mas o erro deles foi ter insistido no álcool combustível em vez de pensar no biodiesel que já era conhecido na Alemanha ou mesmo o óleo vegetal puro já que os motores a diesel da época eram normalmente mais rústicos e podiam tolerar melhor. E ainda teve o caso daquele motor Elko alemão que uma empresa do interior de São Paulo comprou a licença de produção, montou alguns protótipos para teste mas no fim das contas não fez a produção em série ir para a frente.

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    1. Os militares não estavam de todo errados, afinal a transição da gasolina para o etanol seria relativamente simples numa frota majoritariamente composta por veículos de ignição por faísca. O problema foi não ter se buscado uma solução paralela ao etanol para atender melhor às necessidades do transporte pesado à época sem ter de se recorrer à ignição por faísca.

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  2. Lógico que os políticos brasileiros não iam fazer alguma coisa que realmente melhorasse a vida do povo, o negócio deles é sombra e água fresca.

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  3. Seja lá quem for que se diga "ambientalista" mas tenta inviabilizar o uso de combustíveis limpos e motores com uma eficiência maior como forma de manter uma reserva de mercado eterna para a Petrobras com aquela gasolina podre, com certeza não se preocupa tanto com a ecologia como alega. E para piorar, além do álcool ter se tornado um fracasso por conta de politicagem, o gás natural que é mais difícil de adulterar e já é mais limpo que a gasolina não é levado a sério.

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  4. Sempre inventam alguma desculpa para carcar o povo.

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  5. Esses ecologistas brasileiros são uma piada mesmo, usam o discurso verde para aparecer mas sempre tentam barrar qualquer solução efetiva. Parece que querem eternizar o problema para ter do que reclamar e se promover em cima.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html