quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Uma reflexão crítica sobre o ProÁlcool e as raízes da restrição ao Diesel

Vem ocorrendo uma série de tentativas de desconstruir a imagem do etanol, e menosprezar o potencial desse combustível que de fato permitiu ao Brasil reduzir a dependência pelo petróleo. Há quem o classifique como antagônico ao Diesel, o que na prática se mostra não muito além de uma meia-verdade ao lembrarmos que pode ser usado não apenas como substitutivo ao óleo diesel convencional mas também associado a este ou a outros substitutivos. Não é incomum ouvir dizerem que as restrições ao Diesel foram fundamentais para que se criasse um "protecionismo" em torno do etanol, mas a percepção de que esse seria o combustível mais adequado para atender às necessidades da maior parte da frota circulante à época acabou impulsionando tal decisão. Caso a frota brasileira tivesse uma presença mais acentuada do Diesel, certamente o direcionamento de um programa de combustíveis alternativos seria outro, a exemplo do que ocorreu na Alemanha com a regulamentação do óleo de colza como combustível veicular.

Se em '76, quando instituiu-se a proibição à comercialização de automóveis movidos a óleo diesel no Brasil, a injeção direta já era uma realidade consolidada entre os veículos pesados, maquinário agrícola e equipamentos estacionários/industriais, só passou a ganhar escala comercial nos veículos leves a partir de '86, com o motor Turbo D i.d. oferecido no Fiat Croma. Vale frisar que a injeção direta é essencial para que motores do ciclo Diesel possam operar usando etanol como combustível. De qualquer forma, o uso direto de óleos vegetais brutos soa como uma opção lógica para ser aplicada aos motores Diesel, mas como a maioria dos óleos disponíveis comercialmente (incluindo os destinados ao uso alimentício) ainda é extraído com o uso de solventes ao invés da prensagem a frio fica mais difícil proceder a degomagem e a deceragem necessárias para proporcionar uma combustão mais completa e diminuir a formação de resíduos que pudessem vir a acarretar danos ao motor.

Abordar qualquer tema referente ao Regime Militar de '64 a '85 (também citado como "Quinta República" por algumas fontes, e usualmente rotulado como "ditadura") no Brasil sempre dá margem a polêmicas, e não seria diferente com relação às estratégias adotadas para o enfrentamento das Crises do Petróleo durante a década de '70. Se hoje o álcool etílico carburante, ou "etanol" como vem sendo mencionado de forma mais enfática desde fins de 2011, é reconhecido a nível mundial como um dos combustíveis alternativos de maior viabilidade econômica, isso se deve principalmente ao patriotismo de homens honrados como o general Emílio Garrastazu Médici, o professor Urbano Ernesto Stumpf, e muitos outros que tiveram a coragem para dar o pontapé inicial. Não se pode esquecer, porém, que foi durante o governo do general Ernesto Geisel, que se instituiu a proibição à comercialização de veículos leves movidos a óleo diesel no Brasil, pelas mãos do então ministro de Indústria e Comércio, o civil Severo Fagundes Gomes...

Tal medida, à época, parecia não ter um impacto tão significativo sobre o mercado de veículos novos no país, então dominado por uma Volkswagen ainda dependente do motor boxer refrigerado a ar movido a gasolina que equipava não apenas Fusca e Kombi mas também Brasília, SP2, TL e Variant, facilmente adaptável ao uso do etanol (embora pudesse operar normalmente com o álcool sem alterações em caráter temporário/emergencial, apesar da instabilidade prolongada da marcha-lenta durante a fase fria), além dos motores Diesel da época não oferecerem uma relação peso/potência tão adequada ao uso nesses modelos, e terem um custo de aquisição mais elevado que o de um similar com ignição por faísca como ainda ocorre, embora pouco tempo depois a proibição tenha se mostrado inoportuna ao manter o Brasil alijado da rápida evolução técnica que o ciclo Diesel havia passado a apresentar.

No auge da euforia em torno do ProÁlcool, chegou-se a apresentar o etanol como uma alternativa apta também às demandas do transporte pesado e da atividade agropecuária, tanto associado à ignição por faísca em motores Mercedes-Benz, Chevrolet e Dodge usados não apenas em caminhões (principalmente nos "canavieiros") e ônibus mas também em alguns tratores no caso do motor Dodge quanto no ciclo Diesel mediante o uso de aditivo promotor de ignição em motores Mercedes-Benz e Scania ou associado à injeção-piloto de óleo diesel convencional como nos motores MWM 229 PID, mas o maior poder calorífico do óleo diesel era difícil de ser batido por um hidrocarboneto leve. Pode-se considerar, portanto, que houve um comodismo diante do etanol, e tal fator acabou pesando na decisão de se restringir o uso do Diesel.

Ao mesmo tempo que o consumidor não se dava conta da evolução dos motores Diesel leves, os fabricantes instalados localmente ainda acabaram inseridos nesse progresso durante a década de '80 em função da demanda externa, caso da Volkswagen que oferecia no Passat LDE o mesmo motor EA-827 1.6D usado localmente na Kombi Diesel e na Saveiro, da Chevrolet com versões de Chevette, Monza e Kadett equipados com motores Isuzu 4FB1 de 1.8L, 4FC1 de 2.0L e 4EC1 de 1.5L para atender principalmente aos mercados argentino e uruguaio, e da Fiat com o 147 (incluindo a Panorama) e os utilitários compactos Fiorino exportados até para o exigente mercado europeu com o motor Super Diesel de 1.3L e 45cv. À época, Volkswagen e Fiat chegaram a participar ativamente de testes visando a validação de óleos combustíveis de origem vegetal, tendo a primeira pesquisado o uso dos óleos de amendoim e soja enquanto a segunda deu mais atenção à mamona.

Cabe salientar que o motor Fiat de 1.3L permaneceu em produção até 2003 para atender não apenas a aplicações automotivas (que à época se resumiam a algumas versões do Fiat Palio destinadas ao Uruguai e ao Fiat Uno montado nas Filipinas a partir de kits CKD poloneses) como também estacionárias/industriais (mais notadamente grupos geradores) e pequenas embarcações, onde a maior suavidade, desempenho superior e relação peso/potência mais favorável em comparação ao que alguns líderes de mercado (Yanmar e Agrale) ainda oferecem na mesma faixa de cilindrada para atender a tais segmentos era particularmente apreciada em uso doméstico ou náutico recreacional, ao passo que as versões de 1.7L (naturalmente aspirado de 59cv e turbo de 70cv) que chegaram a ser usadas em testes de validação de óleos vegetais naturais como combustível veicular num projeto conduzido pela Fiat em parceria com o Inmetro entre 2007 e 2008 permaneceram até 2011 quando foram substituídas em definitivo pelo Multijet de 1.3L (sempre com turbo, em versões de 75 ou 90cv).

De fato, em função da imposição de restrições ao uso de óleo diesel em veículos leves, foram perdidas algumas oportunidades para consolidar ainda mais a posição de liderança do Brasil no campo dos biocombustíveis, visto que hoje a Malásia é líder mundial na produção de biodiesel mesmo tendo desenvolvido a infra-estrutura necessária para produção e distribuição algum tempo depois da experiência brasileira com o etanol estar consolidada, motivada por experiências com o azeite de dendê (ou "óleo de palma" como é mais conhecido no exterior) a partir da década de '80 tendo usado como mula de testes até alguns motores Elko Multifuel (o mesmo que foi apresentado no Salão de Detroit em '83, e cujos direitos de produção e comercialização no Brasil foram adquiridos pelo extinto Grupo Garavelo em '85).

O sistema de injeção direta do tipo common-rail gerenciado eletronicamente, predominante na atual geração de motores Diesel, pode ser considerado oportuno numa busca por recuperar o mercado brasileiro dos efeitos do distanciamento tecnológico  já permite uma adequada integração entre diferentes combustíveis de modo a reduzir o eventual impacto que uma crise no fornecimento de algum deles possa comprometer a operacionalidade não apenas de veículos utilitários/comerciais mas também de automóveis particulares, caracterizando portanto como obsoleta a manutenção das restrições ao uso de motores Diesel em função das capacidades de carga, passageiros ou tração.

2 comentários:

  1. Me acuerdo del Fiat Uno, no se puede decir que es bonito pero es un bueno bantam, sobretodo en la version con motor diesel. Lo intentaron poner en servicio de taxi pero la cajuela un tanto chica no fue bien recibida, aun que los motoristas lo tomen a sedans y pongan una botella de autogas...

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  2. Ao invés de fazer burrada na economia, os militares deviam ter se concentrado em baixar o cacete na bandidagem que é o que eles sabiam fazer de útil para o país.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html