terça-feira, 5 de maio de 2015

Sul: amplo potencial inexplorado para a bioenergia

Ao contrário de muitos países que apresentam uma cultura mais homogênea por todas as respectivas extensões territoriais, o Brasil apresenta algumas diferenças substanciais devido à grande extensão territorial, diversas composições étnico-raciais e das peculiaridades geográficas de cada região. Pode parecer insignificante levar tais fatores em consideração, e até ser visto com maus olhos pelos desocupados de plantão que ficam procurando pêlo em ovo para acusar de "xenofobia" ou "racismo" um descendente de europeus da região Sul, mas é evidente que tais particularidades influenciam no predomínio de opiniões favoráveis ou contrárias à liberação do Diesel em diferentes partes do país.

No caso do Sul, com uma forte tradição agropastoril, a disponibilidade de matérias-primas para a produção de biodiesel é um argumento favorável, seguido pelo modelo de colonização rural adotado e focado inicialmente na subsistência dos colonos e no suprimento aos mercados locais. O apego à terra natal e a valorização dos produtos regionais, ocorrendo numa proporção mais significativa no Rio Grande do Sul, também pode ser facilmente direcionada ao uso de combustíveis a serem produzidos localmente. Além da soja, que vem sendo a principal matéria-prima do biodiesel brasileiro, não se pode esquecer que os óleos de outros cultivares também serve para essa finalidade, inclusive o óleo de arroz, para não entrar no mérito do uso de gorduras animais que se encaixa como uma luva devido à tradição da pecuária gaúcha, e ainda um eventual redirecionamento de resíduos agrícolas com altos teores de celulose ou amido para a produção de etanol ou metanol, que podem tanto ser usados diretamente como combustível ou como reagente na produção do biodiesel. Sobras da produção de biodiesel e álcoois também podem ser processadas em biodigestores para a obtenção de biogás/biometano.

Paraná e Santa Catarina também tem um enorme potencial bioenergético a ser explorado. Além do Paraná estar hoje numa posição privilegiada no cenário da avicultura, com grande participação também em mercados de exportação, e a força da suinocultura em Santa Catarina, chega a soar absurdo a participação inexpressiva do biogás que poderia ser gerado a partir do processamento dos dejetos em biodigestores. Vísceras de baixo valor comercial que não servem nem para fabricar ração de cachorro também podem ser processadas em biodigestores, juntamente com sangue, penas, pêlos e outros restos do abate. O processamento industrial das carnes também possibilita um reaproveitamento de quantidades consideráveis da gordura corporal dos animais para a produção de biodiesel. No caso de Santa Catarina, a experiência de sucesso com a maricultura na produção de ostras em Florianópolis também poderia ser aproveitada no cultivo de algas oleaginosas, e de peixes brancos que concentram a maior parte da gordura corporal no fígado. Também merece destaque a produção de cachaça artesanal em Santa Catarina e, além da "cabeça" da coluna de destilação poder ser usada diretamente como combustível, há também a "cauda", e ambas as porções podem ser reprocessadas para se extrair a água e servirem como reagente na produção de biodiesel.

Com a grande adaptabilidade do ciclo Diesel ao uso de combustíveis alternativos e a possibilidade de uma autonomia regional na produção de uma ampla variedade de biocombustíveis adequados a diferentes cenários operacionais e preferências pessoais dos operadores, a proposta de liberação do Diesel soa bastante convidativa. Mesmo o biogás/biometano ainda dependendo da ignição por faísca ou da injeção-piloto de algum combustível líquido que se auto-inflame por compressão, há de se considerar também a implementação de normas de emissões para equipamentos agrícolas que acaba despertando algum interesse pelos motores de ciclo Otto nessa aplicação em função do custo de aquisição mais baixo e dos dispositivos de controle de emissões menos sofisticados, ao mesmo tempo que tanto uma operação em escala comercial destinada ao biodiesel quanto uma mais focada no etanol ainda tem o potencial para desenvolver o uso do biogás para atender à própria demanda por combustíveis, e assim uma quantidade considerável de outros substitutivos do óleo diesel convencional fica liberada para atender a aplicações veiculares diversas.

5 comentários:

  1. Boa noite amigo, olhe isso http://autoentusiastas.com.br/2015/05/peugeot-estabelece-recorde-de-consumo-de-combustivel-com-o-208-blue-hdi-50-kml/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O teste foi feito em condições mais próximas do ideal, mas vá lá, fazer de 25 a 30km/l na cidade e de 35 a 40 na estrada em condições reais de uso é perfeitamente viável com um desses.

      Excluir
  2. Centro-Oeste que é cheio de paranaense filho de gaúcho velho seria então o maior pólo de produção de combustível por causa da pecuária e da soja e do milho.

    ResponderExcluir
  3. Estive mês passado em Santa Catarina e por lá o pessoal parece que gosta bastante do gás. Estão perdendo tempo e dinheiro por não aproveitar todo o potencial que uma Sadia ou uma Perdigão teriam para produzir combustível limpo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É verdade, o gás é muito popular por lá. Eu morei em Florianópolis na época que o gás começou a ganhar força em Santa Catarina, e apesar da popularidade das conversões ter diminuído brevemente na época da crise com o governo boliviano após a "nacionalização" das instalações da Petrobras em Santa Cruz de la Sierra e dos danos ao gasoduto em decorrência daquelas chuvas de 2008 que causaram vários transtornos no litoral norte de Santa Catarina, ainda há um forte interesse pelo gás por lá não só devido ao uso veicular mas também como combustível industrial.

      Excluir

Seja bem-vindo e entre na conversa. Por favor, comente apenas em português, espanhol ou inglês.

Welcome, and get into the talk. Please, comment only either in Portuguese, Spanish or English.


- - LEIA ANTES DE COMENTAR / READ BEFORE COMMENT - -

Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html