terça-feira, 4 de outubro de 2016

Uma breve reflexão sobre o fracasso das políticas para o gás natural na Venezuela

Não é de hoje que o gás natural vem sendo enaltecido como um combustível "limpo" e seguro para substituir ao menos em parte a demanda por gasolina e até mesmo o óleo diesel convencional tanto em países desenvolvidos quanto no terceiro mundo. À primeira vista, o custo de processamento inferior em comparação ao observado com os derivados de petróleo se mostra atrativo, refletindo também num preço menor para o usuário final. Encontrado tanto em bolsões isolados quanto em proporções vestigiais nas bacias petrolíferas, deixou de ser tratado como um mero subproduto da extração de petróleo e passou a uma condição de protagonismo no mercado energético.

Mesmo em países produtores e exportadores de petróleo onde os preços dos derivados no mercado interno são fortemente subsidiados, como é o caso da Venezuela, o gás chegou a ser apontado como uma opção para reduzir o déficit gerado por essas políticas, liberando assim uma maior quantidade de gasolina e óleo diesel para operações mais lucrativas de exportação com o preço atrelado às cotações internacionais. No entanto, ao contrário do que ocorre em países mais dependentes da importação de recursos energéticos, as vantagens econômicas do gás natural acabam não sendo consideradas tão relevantes pelo consumidor final acomodado diante do preço simbólico da gasolina venezuelana. O impacto negativo do peso e volume dos sistemas de gás natural veicular sobre a capacidade de carga, bem como a rede de abastecimento muito limitada, também leva o combustível alternativo a ser desacreditado na Venezuela. A imposição de uma cota mínima de 50% de todos os carros e utilitários leves 0km a ser preenchida por modelos aptos ao uso do gás, mediante decreto do então ditador Hugo Chávez em 2009 e ainda em vigor, não foi suficiente para atrair um interesse tão significativo do público nem mesmo com o custo da conversão coberto pela Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA) e o combustível sendo distribuído gratuitamente. A perda de espaço no compartimento de bagagens, e interferência com o rebatimento dos bancos traseiros quando aplicável, também desencoraja eventuais usuários e até leva alguns compradores a removerem o sistema de gás natural quando adquirem um veículo 0km.

Somente com os aumentos recentes de preço da gasolina no mercado interno venezuelano na ordem de 5400% que algum interesse vem se reacendendo junto ao público, esbarrando porém numa queda no número de postos de abastecimento que ainda oferecem o gás e na desistência de algumas oficinas mecânicas em fazer as conversões diante da escassez de kits de adaptação que deveriam estar sendo fornecidos pela PDVSA. A bem da verdade, chegaram a ser instalados postos exclusivos para a comercialização de gás natural que nunca entraram em operação em algumas cidades, como por exemplo García de Hevia, localizada no estado Táchira que em outros tempos foi um importante pólo agropecuário e poderia estar até mesmo aproveitando para iniciar uma transição do gás natural de origem fóssil para o biogás/biometano a ser gerado com resíduos do beneficiamento industrial de carnes. Assim, ocorre na Venezuela exatamente o oposto do que seria de se esperar de um programa sério para substituição da gasolina, embora esteja nitidamente de acordo com o padrão de incoerência e mediocridade da esquerda latino-americana.

Por mais que o anteriormente desprezado gás natural pudesse ser apontado como uma medida eficaz para atenuar o colapso iminente da economia venezuelana fortemente dependente da exportação de derivados de petróleo, e a presença maciça dos motores de ignição por faísca mesmo em aplicações comerciais e utilitárias em geral consolidada exatamente em função dos subsídios à gasolina que empurram a Venezuela para a falência, o programa AutoGas foi mais uma ação meramente midiática do chavismo. Ainda que não seja capaz de atender às necessidades e expectativas de muitos usuários, é evidente que o gás natural fracassou na Venezuela simplesmente por incompetência política.

Um comentário:

  1. Gás pode não ser um combustível ruim, mas na mão dessa corja que deixou falir um país petroleiro é óbvio que não ia dar certo.

    ResponderExcluir

Seja bem-vindo e entre na conversa. Por favor, comente apenas em português, espanhol ou inglês.

Welcome, and get into the talk. Please, comment only either in Portuguese, Spanish or English.


- - LEIA ANTES DE COMENTAR / READ BEFORE COMMENT - -

Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html