segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Milho: uma opção mais sustentável como matéria-prima para a produção de biocombustíveis do que poderia parecer inicialmente

Um dos grandes dilemas para a renovação da matriz energética do transporte é o impacto sobre a disponibilidade de terras agricultáveis para a produção de gêneros alimentícios, e nesse sentido a experiência brasileira com o etanol produzido predominantemente a partir da cana de açúcar às vezes é superestimada enquanto outras opções como o milho são tidas como ineficientes. Não há de se duvidar que uma eventual rejeição ao milho seja mais motivada por pirraça de esquerdistas que por qualquer critério técnico, tendo em vista que é a principal matéria-prima para a produção do etanol nos Estados Unidos No entanto, comparando o saldo energético entre o consumo de combustível aplicado entre o plantio e a colheita até o volume de etanol obtidos de cada hectare cultivado, a cana inicialmente parece incontestável, embora o uso do milho ainda tenha um melhor potencial para conciliar a segurança energética com a disponibilidade de alimentos.

Não se pode ignorar que um dos principais usos do milho é na formulação de rações pecuárias, nas quais o grão in natura proporciona um ganho de peso menor do gado de corte em comparação ao "grão de destilaria" que sobra da produção de etanol a partir do milho e tem uma maior concentração de proteínas. A bem da verdade, justamente por essa característica, o "grão de destilaria" chega a ser até mais valorizado que o próprio etanol. Em regiões onde o plantio e o beneficiamento do milho estão mais próximos das áreas de confinamento de gado, o "grão de destilaria" pode ser administrado ainda úmido para os animais, além de poder ser seco tanto para ter uma maior durabilidade em estocagem quanto para facilitar o transporte para localidades mais distantes. E nessa época em que o consumo de alimentos industrializados é frequente, não se pode desconsiderar o uso do "grão de destilaria" como substituto para a proteína texturizada de soja em alguns produtos destinados à alimentação humana, tendo em vista não apenas o custo mais baixo como também a menor incidência de alergia ao milho em comparação à soja.

Um exemplo categórico do quanto o milho pode ser útil para conciliar a produção de biocombustíveis com a segurança alimentar é o caso da Venezuela, que acabou acomodada em torno da indústria petrolífera e de pesados subsídios aos preços da gasolina e do óleo diesel. Levando em consideração o uso intenso do milho na culinária venezuelana, tendo como destaques a hallaca (que parece uma pamonha salgada e recheada com carne e temperos diversos, mas é feita de fubá ao invés de milho verde, e enroladas em folha de bananeira ao invés da palha do próprio milho) e a arepa (uma espécie de pão de milho não-fermentado, que também é muito popular na Colômbia), até certo ponto chega a soar estúpido e arrogante que o etanol não tenha sido incentivado nem mesmo em regiões rurais como uma alternativa para fortalecer a autonomia energética do setor agropecuário e até liberar uma maior quantidade de petróleo para exportação. Convém destacar que a baixa qualidade do petróleo pesado venezuelano torna necessária a importação de óleos leves para ser feita a diluição e então viabilizar o refino, e nesse sentido um combustível alternativo a ser produzido com matérias-primas locais seria mais adequado para manter um equilíbrio nas contas públicas da Venezuela, e até liberar recursos para o sistema de saúde por lá ao invés de exportar moribundos para sobrecarregar os hospitais brasileiros na zona de fronteira.

Também não se pode esquecer que o milho também acumula óleo e, além de aplicações culinárias, pode ser usado para a produção do biodiesel ou mesmo diretamente como combustível veicular, podendo atender tanto a aplicações leves nas quais ainda predomina a ignição por faísca como também no transporte pesado dependente do Diesel. Já a cana só produz óleo em algumas variedades transgênicas que ainda estão em fase experimental, além de não apresentar um teor de proteínas que pudesse ser comparado ao milho. Portanto, antes de tomar como verdade absoluta o discurso do setor sucroalcooleiro, convém deixar o ufanismo de lado e pesar os prós e contras de outros cultivares com potencial energético. Enfim, para evitar que o comodismo em torno da cana de açúcar leve o Brasil a correr o risco de se tornar uma "Venezuela verde", é necessário reconhecer que o uso do milho para fins energéticos está longe de ser tão problemático no âmbito da sustentabilidade.

4 comentários:

  1. Por ese lado, suena más razonable el etanol hecho a partir del maíz, además que la caña pasa a ocupar extensiones de tierra que serian mejor aprovechadas para cultivar otras plantas tropicales con un valor alimenticio muy superior.

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  2. Até que não é de todo ruim essa proposta de fazer álcool com milho.

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    1. Seguramente não é de todo ruim, tanto que está ganhando força no Mato Grosso.

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  3. Se for o jeito para baixar o preço do álcool e da proteína animal ao mesmo tempo, não faz o menor sentido que se procure atrapalhar a implementação.

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