domingo, 10 de abril de 2016

Biodiesel e crise: oportunidades jogadas no lixo por politicagem

Num país tão dependente do transporte rodoviário como é o Brasil, o óleo diesel acaba refletindo as tendências da economia. No cenário atual, a recente queda no consumo desse combustível é um claro indício de retração, e também impacta de forma significativa a produção do biodiesel adicionado obrigatoriamente em proporções hoje definidas entre 7% (B7) e 8% (B8), forçando usinas a manterem uma capacidade ociosa. Há aqueles que tentam manter um otimismo diante da implantação de um cronograma para ampliação gradual do blend obrigatório até que se alcance os 10% de biodiesel (B10), podendo chegar a 15% (B15), mas até que se chegue nesse ponto o problema da ociosidade não será totalmente resolvido e muitos recursos financeiros ainda serão expatriados em contrapartida à importação de óleo diesel.

Uma eventual liberação da venda varejista do biodiesel puro (B100) estaria entre as alternativas mais coerentes com a realidade econômica brasileira, tendo em vista não apenas o valor agregado à atividade agroindustrial/agropastoril mas principalmente uma maior estabilidade cambial de modo a garantir certa segurança a investidores e por conseguinte a manutenção de postos de trabalho. Ainda que não chegasse exatamente às mesmas proporções, tal medida viria a ser de certa forma análoga ao "New Deal" implementado pelo então presidente americano Franklin Delano Roosevelt durante a Grande Depressão e que foi essencial para a recuperação relativamente rápida da economia americana ainda em meio ao conturbado período entre-guerras e viabilizando até mesmo o financiamento dos esforços de reconstrução do Japão após a II Guerra Mundial. Há condições técnicas muito favoráveis ao biodiesel como opção para minimizar o impacto da atual crise institucional sobre o setor produtivo brasileiro, esbarrando apenas em politicagens alheias aos reais interesses nacionais.

A média de idade avançada da frota de caminhões brasileira, vista por muitos como um problema em decorrência da não-conformidade a normas de emissões mais rigorosas em vigor para veículos novos, acaba por oferecer condições adequadas ao biodiesel devido à maior resiliência dos motores antigos diante de oscilações no padrão de qualidade dos combustíveis e da ausência de alguns dispositivos de controle de emissões mais recentes cuja eficiência ainda fica comprometida diante de divergências mais acentuadas entre as atuais especificações do óleo diesel convencional e substitutivos diversos. Além da vaporização do biodiesel quando injetado em um filtro de material particulado (DPF) durante um ciclo de regeneração forçada ser menos intensa que a do óleo diesel de baixo teor de enxofre, a neutralização de óxidos de nitrogênio (NOx) por meio do sistema SCR requer uma dosagem maior do fluido ARLA-32/AdBlue em comparação ao óleo diesel convencional. Já um vetusto Ford F-600 ou um Mercedes-Benz "muriçoca", que remontam aos tempos do óleo diesel com 5000ppm de enxofre (S-5000), podem ter como únicos empecilhos as linhas de combustível originais repletas de sedimentos e o material dos selos, juntas e retentores originais que possa sofrer deterioração em contato com concentrações elevadas de biodiesel, embora uma correta manutenção e a substituição de tais componentes em prazos adequados venha a evitar maiores intercorrências nesse sentido, enquanto modelos com uma tecnologia mais recente possam demandar soluções tecnicamente mais sofisticadas.

Pesca, agricultura, manejo florestal e o beneficiamento dos respectivos produtos também são muito dependentes do óleo diesel, e tais atividades viriam a ser beneficiadas significativamente pelo uso de um combustível alternativo que poderia ter como matérias-primas alguns subprodutos hoje rejeitados nos respectivos ciclos produtivos. Desde o óleo de fígado de peixes brancos que passariam a ser destinados à produção do biodiesel até resíduos vegetais com teores elevados de celulose, amido ou outros sacarídeos aproveitáveis para a produção do álcool (tanto metanol quanto etanol) que viesse a servir de reagente para a transesterificação do óleo-base, muitos recursos energéticos são atualmente desperdiçados diante de cenários regulatórios balizados mais por modismos e tendências politiqueiras que pela viabilidade técnica e benefícios econômicos e ambientais proporcionados por uma renovação da matriz energética.

Enquanto a Petrobras permanecer aparelhada e usada como celeiro da corrupção e cabide de emprego para criminosos, é pouco provável que o cenário político se volte favoravelmente a uma liberação da venda varejista do biodiesel puro, ainda que viesse a ser adequado até para agilizar a cobertura dos rombos nas contas da estatal devido a uma menor dependência por óleo diesel convencional cotado em dólar no mercado internacional. A bem da verdade, a atual situação ainda torna cada vez mais evidente a necessidade de uma liberalização no mercado interno de combustíveis e de uma quebra do monopólio da Petrobras. Mesmo que ainda vigorem restrições ao Diesel em veículos leves, por conseguinte limitando o market-share alcançável pelo biodiesel, o problema continua sendo meramente político e não técnico.

6 comentários:

  1. Boa tarde, onde posso obter informações sobre o procedimento necessário para turbinar um motor Tobatta TR 16? Qual seria o desempenho esperado?

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    1. Tempos atrás eu vi um vídeo dum microtrator Tobatta turbinado em algum lugar do interior de Santa Catarina, mas era um TR14, e a potência ficou em torno de 20cv com 1 bar de pressão e sem intercooler. No caso desse TR16, pode chutar em torno de 23cv.

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  2. Com a queda iminente da Dilma, há esperança para uma reversão desse quadro?

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  3. É tudo muito estranho. Com tanta capacidade ociosa nas usinas e a queda no consumo comercial de diesel, teoricamente não deveria se sustentar qualquer impedimento ao uso em carros normais.

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  4. Até borra de café podia virar biodiesel, mas o que predomina é a cultura do desperdício.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html