sexta-feira, 5 de maio de 2017

Esclarecendo algumas dúvidas quanto à viabilidade de conversões para Diesel em motores 2-tempos para motocicletas

O tema de hoje visa esclarecer algumas dúvidas levantadas por Israel Dantas, que manifestou interesse em converter uma Yamaha RD 135 para Diesel.

Dentre os motores de ignição por faísca, os 2-tempos ainda contam com entusiastas fervorosos que apreciam principalmente a simplicidade construtiva e a leveza dos mesmos em comparação aos 4-tempos que se tornaram predominantes. A ausência de um sistema de válvulas de admissão e escape os torna mais baratos, bem como o sistema de lubrificação que na maioria das vezes dispensa uma bomba própria ao valer-se de uma mistura prévia de óleo à gasolina (ou ao etanol quando aplicável) e também apresenta pouca sensibilidade a variações acentuadas de inclinação, mas a tão apreciada simplicidade sofre um revés quando se trata da viabilidade de uma conversão para Diesel.
Ao contrário dos motores 4-tempos, que mantém uma certa similaridade no sistema de lubrificação e nos fluxos de admissão e escape sem tanta distinção entre o Diesel e a ignição por faísca, os 2-tempos tornam mais evidentes algumas diferenças. Por exemplo, enquanto um motor 2-tempos de ignição por faísca dispensa válvulas tanto de admissão quanto de escape, muitos motores Diesel 2-tempos ainda recorrem a válvulas ao menos para o escape e também já incorporam um lóbulo para sincronização da bomba injetora no próprio eixo de comando de válvulas. Também é importante lembrar que, ao contrário dos motores 2-tempos de ignição por faísca que normalmente tem o óleo lubrificante distribuído no fluxo de admissão e queimado durante o processo de combustão, os Diesel 2-tempos geralmente tem um sistema de lubrificação por recirculação forçada como nos 4-tempos.
Um ponto a se destacar é a necessidade de um compressor mecânico, também conhecido como "blower" ou "supercharger", para gerar pressão de admissão. Ao contrário do turbocompressor, que é acionado pelo fluxo dos gases de escape e portanto só entra em ação após a partida, o blower depende de acoplamento ao motor (podendo ser por meio de correia e polias, ou ainda direto por engrenagens, ou axial por tomada de força no virabrequim) e é imprescindível que esteja gerando pressão desde a partida. Outra diferença notável entre o blower e o turbo é que, em função dos diferentes métodos de acionamento, o compressor mecânico mantém uma rotação sempre proporcional ao virabrequim e portanto, apesar de prover pressão de forma mais imediata e consistente desde regimes de rotação mais baixos, estaria longe de proporcionar uma compensação de pressão atmosférica tão efetiva quanto a que pode ser observada com o turbo.

Para adaptação em motocicletas, nas quais fica mais difícil adaptar tomadas de força pela necessidade de alterar as tampas laterais que protegem a embreagem e o estator, prover acoplamentos tanto para o blower quanto para sincronizar a bomba injetora torna-se um desafio. Em modelos como as Yamaha RD 135 e DT 200 R, à primeira vista pode parecer tentador usar o acoplamento original da bomba de óleo do sistema Autolube, que possibilita o armazenamento do óleo em um tanque separado do combustível e a dosagem de acordo com as condições de carga a que o motor esteja submetido, ou até mesmo usar essa bomba como injetora, mas está longe de ser assim tão fácil. Afinal, mesmo que o combustível passasse a ser suprido ao motor por meio de injeção direta, a lubrificação continua dependendo da aspersão do óleo no cárter junto ao fluxo de ar da admissão.

Por mais que a viabilidade das conversões de alguns motores 4-tempos de ignição por faísca (ciclo Otto) para Diesel possa num primeiro momento soar como um bom precedente, é um caso em que não convém generalizar. Algumas especificidades dos motores 2-tempos, principalmente no âmbito dos fluxos internos e do sistema de lubrificação, acabam impondo necessidades especificas que, se não chegam a impedir totalmente, trariam algumas dificuldades ainda mais evidentes numa aplicação tão sensível a um aumento de peso e com restrição de espaço como é o caso de motocicletas. Enfim, a intenção não é das piores, mas a execução poderia se revelar problemática...

12 comentários:

  1. Numa moto realmente ia ficar tenso por causa do espaço e até do peso puxando mais para um lado dependendo de onde fosse montado o blower e a bomba injetora, mas depois que apareceu aquele Voyage com motor de CG 150 até que a idéia de fazer a conversão dum motorzinho desses de 2 tempos para rodar com diesel fica parecendo menos absurda.

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    1. Mas será que um motor tão pequeno assim ficaria bom? Se fosse pelo menos de 500cc como em algumas motos antigas de motocross, talvez pudesse ser uma base melhor para esse tipo de adaptação.

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    2. Se fosse para usar motor 2 tempos a diesel num carro, o bom seria aquele Commer num carro grande como o Landau.

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  2. Eu me lembro que a Peugeot chegou a fazer uns motores de scooter com blower, de repente ficasse até mais fácil para converter para diesel por precisar fazer menos gambiarra.

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  3. Moto a diesel ficaria até bom para usar a trabalho ou em trilha, mas para quem pega moto só para lazer numa estradinha de montanha eu acho pouco provável que prefira.

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  4. Até que moto a diesel ficaria uma boa para usar em trilha, com uma boa economia em comparação a um jipe. Mas nunca pensei nessa hipótese de converter um motor 2T direto para rodar no diesel, se bem que como o câmbio das 2T tem o óleo separado do motor eu até achava que pudesse não ser muito difícil cortar fora a parte do cárter do motor para usar só o câmbio original da moto com um motor a diesel estacionário pequeno.

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  5. Mas é só difícil ou não tem mesmo como passar uma moto para funcionar com diesel? Em último caso para quem quer economia vale mais a pena trocar o motor da DT por um da CG varetada?

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    1. É muito difícil, mas passa longe de ser efetivamente impossível. Quanto ao motor de CG, eu até já vi algumas DTs repotenciadas em Santa Catarina.

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  6. Tava com ideia de tramformar um motor da rd 135 para o diesel... Sera q funciona?

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    1. A princípio é melhor não arriscar. Pode até ser tecnicamente possível, mas está longe de ser economicamente viável.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html