Antes muito discriminado pelo público em geral, o turbocompressor acabou por cair nas graças tanto de uma parcela mais significativa do grande público quanto de profissionais da indústria automotiva como uma das alternativas dotadas de uma relação custo/benefício favorável para conciliar metas de redução de consumo e emissões a uma manutenção de níveis de desempenho compatíveis com os mais diversos cenários operacionais e as preferências do consumidor. Uma característica que também ganhou algum destaque foi a capacidade de compensação dos efeitos da altitude, tendo em vista que a pressão absoluta no coletor de admissão (MAP - Manifold Absolute Pressure) se mantém mais constante mesmo enquanto se vai avançando para altitudes mais elevadas em relação ao nível médio do mar.
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Turbocompressor em corte esquemático, com turbina vista pela esquerda, carcaça central ao centro e compressor à direita |
Como o eixo do turbo tem a rotação livre, independentemente do virabrequim, tende a apresentar uma variação mais intensa desse parâmetro, numa razão inversamente proporcional à medida que a pressão ambiente se altere tanto pela altitude local quanto por condições meteorológicas para uma determinada pressão absoluta na qual o fluxo de ar vá ser suprido ao coletor de admissão. Assim, em localidades mais altas onde a pressão barométrica é menor, o turbocompressor necessita operar a uma rotação mais elevada para promover uma efetiva compensação de altitude e manter um desempenho mais próximo das condições encontradas ao nível médio do mar. No entanto, é impossível ignorar que o ar ambiente menos denso tende a acentuar o chamado turbo-lag, que é o atraso entre a partida do motor e o momento que a turbina "enche" o suficiente para vencer a inércia e acionar o compressor. Por exemplo, não seria de se estranhar que um veículo equipado com turbocompressor ainda venha a ter respostas mais imediatas logo após a partida em Florianópolis comparado a um similar que esteja trafegando em Lages.
Um dos métodos mais comuns para o controle da pressão de trabalho do turbocompressor é a válvula de prioridade, também conhecida por "wastegate", "blow-off" ou "válvula de alívio, que abre por ação de uma mola sensível à pressão do compressor uma passagem adicional para que uma parte dos gases de escape faça um desvio (bypass) ao invés de adentrar a turbina. No entanto, a pressão não deve ser o único parâmetro para controlar o turbocompressor e assegurar a vida útil desse componente cada vez mais importante não apenas nos motores Diesel mas também em similares com ignição por faísca que sigam o conceito do downsizing. Limitar a rotação máxima do conjunto rotor (eixo, turbina e compressor), ainda que viesse a comprometer a compensação de altitude em localidades com uma distância mais significativa do nível médio do mar, é essencial tanto para minimizar o desgaste quanto para assegurar uma maior precisão na lubrificação e evitar a formação da borra de óleo nos mancais do eixo, principalmente em turbos mais simples que dependem do óleo também para refrigerar a carcaça central. Vale destacar também que uma rotação excessiva do turbo pode acarretar em estol do compressor, causando prejuízos à eficiência do processo de compressão e também ao desempenho do motor.
É inevitável a comparação com os compressores mecânicos conhecidos como supercharger ou "blower", cuja velocidade fica diretamente vinculada à rotação do motor. Ao contrário do turbo, o "blower" é acionado pelo próprio motor, e produz pressão sem alterar a proporção volumétrica entre o fluxo de entrada no compressor e o de saída para o coletor de admissão independentemente da pressão ambiente. Em aplicações automotivas, com destaque para os hot-rods e outros veículos de concepção mais americanizada tradicionalmente dotados de motores V8, é mais comum o uso de blowers de velocidade simples que, se por um lado geram pressão desde a marcha lenta, por outro não permitem uma efetiva compensação de altitude. Até chegaram a ser produzidos superchargers de velocidade variável, aptos a promover um certo grau de compensação de altitude ao comando do operador, mas acabaram restritos a aplicações aeronáuticas numa época em que a aviação ainda dependia mais de motores convencionais como no clássico Douglas DC-3 "Dakota". No entanto, o custo tornava tal recurso pouco atrativo para muitos operadores, que dispensavam uma reserva de potência maior em altitude de cruzeiro pela maior simplicidade mecânica.
Mesmo que a compensação de altitude possa apresentar algumas limitações em condições extremas, o turbo tem reconhecida cada vez mais a importância como um recurso essencial para manter o Diesel competitivo em meio à crescente procura por uma maior "sustentabilidade" do transporte quanto as melhorias que proporciona no desempenho. Permanece, assim, ocupando um lugar de destaque entre tantos desenvolvimentos que impulsionaram o Diesel ao atual patamar de desempenho e economia de combustível.
Pensando bem, até que faz sentido essa questão da compensação de altitude. Um tio meu foi caminhoneiro por muitos anos, e de vez em quando comentava que até um turbo de baixa pressão já ajudava a subir de Santos para Suzano carregado de insumos para a indústria química.
ResponderExcluirSempre achei que o turbo não fizesse milagre nesse sentido, até o dia que o meu cunhado comprou um Up TSI e eu pude observar isso indo de Curitiba para Paranaguá e depois voltando.
ResponderExcluirLogo depois da partida, se tentar sair com uma aceleração mais forte, ainda se pode perceber uma demora um pouco maior para o motor encher se estiver num lugar com altitude maior, mas depois que o turbo enche essa diferença já some.
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