terça-feira, 14 de novembro de 2017

Até que ponto um jipão raiz seria tão incompatível com o uso urbano?

OK, pode inicialmente parecer contraditório ressaltar qualidades do Jeep Willys em condiçoes de uso urbanas, principalmente tendo em vista que pela tração 4X4 com caixa de transferência de dupla velocidade (a popular "reduzida") acaba não sendo afetado pelas absurdas restrições ao uso do Diesel que atingem os carros mais comuns. O próprio sistema de tração nas 4 rodas tem a desvantagem do peso e de certa forma ainda dificulta um melhor aproveitamento de espaço interno, comprometendo a eficiência geral do veículo quando usado de forma mais frequente em ruas e estradas pavimentadas. Apesar desse aspecto, para quem não se disponha a abrir mão do direito de usar um motor Diesel, não deixa de ser uma alternativa a se considerar...
Considerando o aspecto prático, modelos como o M38 e o equivalente civil CJ-3A são mais curtos e estreitos que um Volkswagen Up, e ainda contam com uma distância entre-eixos menor. Assim, não seriam de todo inadequados ao desafio de encontrar locais para estacionar em locais com tráfego mais denso, além da relativa facilidade para manobrar em espaços confinados. Naturalmente, seria de se esperar que um jipeiro prefira se lançar ao campo em detrimento de se espremer em uma vaga de estacionamento dum prédio de escritórios ou do shopping mais próximo, mas nesse sentido o Jeep de certa forma honra a designação de "veículo de transporte não-especializado", sem deixar para trás a aptidão para enfrentar condições de uso mais severas para as quais a atual geração de compactos com projeto de origem européia ou asiática passam longe de serem otimizados, por mais "tropicalizados" que estejam.
Sem dúvida, chega a ser desproporcional e até mesmo quase incabível comparar um subcompacto atual com um "pau véio" da época da Guerra da Coréia (o Jeep usado na 2ª Guerra foi o Willys MB), além do mais que uma plataforma mais moderna tende a se revelar mais apta a proporcionar uma eficiência energética superior tão apreciada na atualidade. Infelizmente, esse acaba constituindo só mais um entre tantos exemplos do quanto a estupidez burocrática por trás da proibição ao uso do Diesel em veículos 4X2 com capacidade de carga inferior a 1000kg e acomodação para menos de 9 passageiros além do motorista se revela contraproducente. Caso algum brasileiro cismasse em tentar montar do zero por conta própria um veículo de aparência semelhante ao Jeep e instalar um motor Diesel, prática que até pouco tempo atrás ainda se mantinha relativamente comum nas Filipinas, ficaria impossibilitado de dar um passo adiante e experimentar uma configuração diferente de transmissão, ou até mesmo radicalizar e tentar montar o motor em posição transversal como na maioria dos carros modernos...

A bem da verdade, uma das grandes vantagens do Jeep é a facilidade para adaptações e atualizações mecânicas. Além da troca dos motores Go-Devil ("flathead" com válvulas laterais) e Hurricane (com cabeçote em F - válvulas de admissão no cabeçote e de escape no bloco) por outros mais modernos, o que às vezes contempla justamente algum motor Diesel, são comuns também substituições de câmbio e upgrades nos freios, e a instalação de direção hidráulica. Mais difícil seria encontrar um Jeep com ar condicionado, principalmente tendo em vista que a quase-totalidade mantém a carroceria aberta e recorre só a um simples toldo ou uma capota conversível de lona, embora não seja impossível de se fazer a adaptação. Mas convenhamos, num veículo que viesse a ter um uso mais frequente e ficando sujeito a ser estacionado na rua, seria preferível contar com uma capota rígida em virtude da menor propensão a vandalismos. Infelizmente o nosso país está cada vez mais virado numa terra sem lei onde o respeito à propriedade privada fica em segundo plano diante dos "direitos humanos" para bandidos...

Por mais que pareça difícil incorporar muitas das conveniências modernas em um veículo de origens tão antigas, e a aparência moralizadora proporcione uma size-impression que acaba por não condizer tão fielmente com a realidade, pode-se considerar uma grave injustiça reputar o Jeep como totalmente obsoleto nesse mundo de cowboys de apartamento. Mesmo que render-se aos encantos de um jipão raiz possa soar como um convite para renunciar à defesa da liberação do Diesel em veículos leves, na verdade ao observarmos o quanto um Willys ainda se mostra compatível com algumas condições operacionais encontradas nas grandes cidades e traçarmos um paralelo com o modismo dos "crossovers" e de versões de carros comuns caracterizadas como off-road, na verdade apenas ficam mais evidentes algumas distorções advindas da proibição ao uso do Diesel em veículos leves com base nas capacidades de carga e passageiros ou tração. Guardadas as devidas proporções históricas, tendo em vista que na época do Jeep Willys era mais comum que as condições das vias requeressem efetivamente esse auxílio, pesquisas feitas pela Fiat antes de lançar a 1ª versão da Palio Adventure mostravam que uma quantidade considerável de proprietários de veículos 4X4 residentes na zona urbana nem sequer acionavam a tração suplementar.

De fato o bom e velho Jeep Willys é fascinante, e a aptidão para explorar locais bem mais afastados exerce uma forte atração mesmo sobre quem eventualmente não tenha muito tempo livre para ir além de onde termina o asfalto. A bem da verdade, diante de tantos "utilitários" de luxo que desvirtuaram a intenção de priorizar a distribuição do óleo diesel convencional para as atividades agropecuárias e o transporte comercial e comparando os tamanhos de veículos de diferentes propostas, o "pecado" de se usar um Jeep na cidade não soa tão grave... Enfim, não só por servir como uma brecha para se livrar de imposições arbitrárias quanto aos combustíveis que possam ser usados, subestimar o potencial do Jeep para ser um bom veículo até mesmo na cidade acaba se revelando um erro...

8 comentários:

  1. Então quer dizer que é possível legalizar um motor diesel num jeep raiz? E numa rural? Como fica? Numa jeep pickup?

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    1. Se a Rural ou a pick-up for 4X4 de fábrica pode, mas as que eram 4X2 agora não podem mais ser regularizadas depois da conversão por causa de uma restrição no número do chassi. As 4X2 que aparecem de vez em quando convertidas e documentadas permanecem rodando por direito adquirido.

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  2. Pior que a ideia não é de todo má. Além de ser geralmente melhor para as condições das ruas em quase todo canto, com mais buraco que asfalto, um jipe é muito mais imponente e talvez possa parecer menos convidativo para investidas de elementos mal-intencionados. Já um subcompacto de aparência muito mais delicada passa menos respeito.

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  3. Pelo menos ficaria mais autêntico que os SUVzinhos de madame raspar na lombada da entrada do shopping mesmo.

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  4. Se não fosse pela patroa com medo por causa da segurança das crianças, eu já teria comprado um Jeep antigo para reformar e adaptar motor a diesel para usar todo dia mesmo. De repente se eu mostrar esse com 4 portas e capota de metal, já dá uma amolecida no coração dela. Mas por parte dos meninos, a diversão estaria garantida.

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  5. Nunca percebi que Jeep Willys era tão pequeno por fora. Mas até que gostei da ideia e fiquei com vontade de reformar um para mim. Se botar um freio moderno com ABS, uma capota fechada de metal, ar condicionado e direção hidráulica já não fica devendo em muita coisa para os carros populares de hoje, e se for o caso de colocar um câmbio automático fica uma maravilha para se usar no trânsito infernal daqui de São Paulo. Ou então um Toyota Bandeirante daqueles curtos e adaptar tudo da Hilux.

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  6. Não vejo muita vantagem em Jeep, prefiro Fusca que faz a mesma coisa e gasta menos, mas se for o objetivo usar diesel faz algum sentido.

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  7. Só ia ficar estranho o eixo dianteiro com suspensão independente.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html