segunda-feira, 2 de abril de 2018

Rápida observação sobre o caso dos Volkswagens afetados pelo "Dieselgate" e estocados no deserto de Mojave

Um dos desdobramentos do "Dieselgate" sobre o qual já vinha-se debatendo, a destinação de carros a serem recomprados dos consumidores atingidos nos Estados Unidos pela Volkswagen ganhou outra vez algum espaço nos holofotes da mídia à medida que foram sendo reveladas imagens de veículos no aeroporto Southern California Logistics, famoso cemitério de aviões na cidade de Victorville, a 140km de Los Angeles. As instalações no deserto de Mojave, cujo clima seco e quente é considerado ideal para a estocagem de veículos e máquinas, são apenas uma dentre 37 alugadas para que os automóveis das marcas Volkswagen e Audi recomprados pelo fabricante após o escândalo de emissões permaneçam até que o futuro dos mesmos seja definido. No entanto, enquanto especula-se a aplicação de soluções que vão desde as atualizações necessárias para que cumpram as normas de emissões nas quais foram homologados ou o sucateamento, outra possibilidade que seria a exportação também se vê afetada pela burocracia ao depender de aprovação para as alterações a serem efetuadas, mesmo que sejam destinados a países com normas de emissões menos restritivas.

Dos cerca de 350 mil veículos recomprados, apenas 41 mil (entre 11 e 12%) já tiveram destinação final, que para 13 mil foi a revenda enquanto 28 mil foram destruídos. Convém recordar que alguns proprietários optaram por retirar peças e acessórios que não impedissem que o veículo chegasse às concessionárias funcionando, que junto com o licenciamento válido estava entre as únicas exigências da Volkswagen para a participação no plano de contingência para a crise deflagrada, e portanto alguns dos veículos que ainda poderiam ser requalificados para cumprir as normas de emissões tornaram-se economicamente inviáveis de restaurar com vistas a uma eventual revenda. Além de objeções morais que possam ser feitas à prática, que não deixa de ter um fundo daquela desonestidade tão associada ao "jeitinho brasileiro", não deixa de ser relevante considerar também o impacto ambiental resultante do manejo dos veículos que passam a ser considerados inservíveis e cujo único destino adequado é a reciclagem, bem como da fabricação de automóveis novos (independentemente dos tipos de motor e combustível que venham a usar) que viessem a substituí-los. Portanto, não deixa de soar até um pouco desmedida a reação de agências regulatórias que penalizaram ainda que de forma indireta os consumidores que tenham se sentido enganados pela promessa fraudulenta de conciliar um baixo índice de emissões e o consumo modesto de combustível, e foram condicionados a crer que estariam "salvando o mundo" ao abrir mão do Diesel durante um momento de relativa perplexidade.

De fato, o "Dieselgate" escancarou problemas que vão desde a concorrência desleal da Volkswagen até o nefasto jogo de poder por trás da EPA durante o governo Obama, mas não deixa de ser irônico que um país que exporta veículos de produção local em versões com motores Diesel não-homologados para o mercado interno tenha entraves para o fim dessa novela quando uma extensão da vida útil operacional de carros em bom estado de conservação em países com normas de emissões menos rígidas como o Paraguai ou Angola seria aceitável. O custo e o esforço na busca por uma "solução" que na prática serviria mais para encenação de virtude e demonstração de poder por parte de burocratas torna-se um transtorno tão severo quanto a violação cometida pela Volkswagen, ao passo que outras iniciativas até mais efetivas no tocante à "sustentabilidade" como uma ampliação do uso de biodiesel e outros combustíveis renováveis é tratada com algum descaso. Enfim, por mais que seja justo buscar por uma solução eficaz para cumprir a promessa feita aos consumidores e satisfazer as exigências ambientais, enterrar os pivôs do escândalo num cemitério de aviões soa contraproducente...

2 comentários:

  1. Realmente seria loucura destruir tantos carros que ainda podem ter alguma utilidade, mas se mandar para o Paraguai não devem durar muito. Sempre que eu via algum carro de paraguaio a diesel no Guarujá, estava caindo aos pedaços. Até achei isso estranho, já que outros carros que pareciam mais normais (a gasolina) não costumavam estar tão destruídos.

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    1. Paraguaio é meio cupim de ferro mesmo, além do mais que em alguns casos chega a ser mais barato importar outro "pau véio" japonês do que esperar chegarem peças de reposição e consertar como se deve o carro que já tenham na mão. Mas se for algum modelo europeu que não tenha um motor parecido na linha brasileira, aí que fica mais difícil ainda a situação.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html