Um dos desdobramentos do "Dieselgate" sobre o qual já vinha-se debatendo, a destinação de carros a serem recomprados dos consumidores atingidos nos Estados Unidos pela Volkswagen ganhou outra vez algum espaço nos holofotes da mídia à medida que foram sendo reveladas imagens de veículos no aeroporto Southern California Logistics, famoso cemitério de aviões na cidade de Victorville, a 140km de Los Angeles. As instalações no deserto de Mojave, cujo clima seco e quente é considerado ideal para a estocagem de veículos e máquinas, são apenas uma dentre 37 alugadas para que os automóveis das marcas Volkswagen e Audi recomprados pelo fabricante após o escândalo de emissões permaneçam até que o futuro dos mesmos seja definido. No entanto, enquanto especula-se a aplicação de soluções que vão desde as atualizações necessárias para que cumpram as normas de emissões nas quais foram homologados ou o sucateamento, outra possibilidade que seria a exportação também se vê afetada pela burocracia ao depender de aprovação para as alterações a serem efetuadas, mesmo que sejam destinados a países com normas de emissões menos restritivas.
Dos cerca de 350 mil veículos recomprados, apenas 41 mil (entre 11 e 12%) já tiveram destinação final, que para 13 mil foi a revenda enquanto 28 mil foram destruídos. Convém recordar que alguns proprietários optaram por retirar peças e acessórios que não impedissem que o veículo chegasse às concessionárias funcionando, que junto com o licenciamento válido estava entre as únicas exigências da Volkswagen para a participação no plano de contingência para a crise deflagrada, e portanto alguns dos veículos que ainda poderiam ser requalificados para cumprir as normas de emissões tornaram-se economicamente inviáveis de restaurar com vistas a uma eventual revenda. Além de objeções morais que possam ser feitas à prática, que não deixa de ter um fundo daquela desonestidade tão associada ao "jeitinho brasileiro", não deixa de ser relevante considerar também o impacto ambiental resultante do manejo dos veículos que passam a ser considerados inservíveis e cujo único destino adequado é a reciclagem, bem como da fabricação de automóveis novos (independentemente dos tipos de motor e combustível que venham a usar) que viessem a substituí-los. Portanto, não deixa de soar até um pouco desmedida a reação de agências regulatórias que penalizaram ainda que de forma indireta os consumidores que tenham se sentido enganados pela promessa fraudulenta de conciliar um baixo índice de emissões e o consumo modesto de combustível, e foram condicionados a crer que estariam "salvando o mundo" ao abrir mão do Diesel durante um momento de relativa perplexidade.
De fato, o "Dieselgate" escancarou problemas que vão desde a concorrência desleal da Volkswagen até o nefasto jogo de poder por trás da EPA durante o governo Obama, mas não deixa de ser irônico que um país que exporta veículos de produção local em versões com motores Diesel não-homologados para o mercado interno tenha entraves para o fim dessa novela quando uma extensão da vida útil operacional de carros em bom estado de conservação em países com normas de emissões menos rígidas como o Paraguai ou Angola seria aceitável. O custo e o esforço na busca por uma "solução" que na prática serviria mais para encenação de virtude e demonstração de poder por parte de burocratas torna-se um transtorno tão severo quanto a violação cometida pela Volkswagen, ao passo que outras iniciativas até mais efetivas no tocante à "sustentabilidade" como uma ampliação do uso de biodiesel e outros combustíveis renováveis é tratada com algum descaso. Enfim, por mais que seja justo buscar por uma solução eficaz para cumprir a promessa feita aos consumidores e satisfazer as exigências ambientais, enterrar os pivôs do escândalo num cemitério de aviões soa contraproducente...
Realmente seria loucura destruir tantos carros que ainda podem ter alguma utilidade, mas se mandar para o Paraguai não devem durar muito. Sempre que eu via algum carro de paraguaio a diesel no Guarujá, estava caindo aos pedaços. Até achei isso estranho, já que outros carros que pareciam mais normais (a gasolina) não costumavam estar tão destruídos.
ResponderExcluirParaguaio é meio cupim de ferro mesmo, além do mais que em alguns casos chega a ser mais barato importar outro "pau véio" japonês do que esperar chegarem peças de reposição e consertar como se deve o carro que já tenham na mão. Mas se for algum modelo europeu que não tenha um motor parecido na linha brasileira, aí que fica mais difícil ainda a situação.
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