sexta-feira, 17 de junho de 2022

Fusca: adaptar um motor monocilíndrico horizontal ainda seria um bom quebra-galho

Um dos carros prejudicados de forma mais desproporcional pelas restrições ao uso de motor Diesel com base nas capacidades de carga e passageiros e tração, o Fusca ainda é visto com relativa facilidade pelas ruas de muitas cidades brasileiras, tanto em capitais como Porto Alegre quanto espalhadas pelo interior, e para as zonas rurais e as periferias das grandes metrópoles a configuração de motor e tração traseiros é uma qualidade ainda digna de nota por facilitar o tráfego por condições de terreno mais severas. Cabe observar uma série de outras peculiaridades que destacam o modelo, e fizeram a Volkswagen conquistar um público fiel e romper a antiga hegemonia dos carrões americanos que reinavam até a década de '50, e uma daquelas características tão bem exploradas pela publicidade era a simplicidade da refrigeração a ar do motor boxer, levando qualquer idéia de adaptação de outros motores a uma condição de tabu que já se sobrepõe às dificuldades de ordem técnica para encontrar motores Diesel viáveis para substituir o boxer sem alterações tão drásticas. E levando em consideração as históricas dificuldades para encontrar motores Diesel relativamente compactos no Brasil, intensificadas pela antiga influência mais americana e pela imagem de "à prova de burro" que o motor do Fusca conquistou pela facilidade de manutenção, a hipótese de adaptar um motor Diesel monocilíndrico horizontal de refrigeração líquida já parece menos absurda, também devido ao histórico de sucesso em máquinas agrícolas e embarcações leves.
A princípio pareceria ainda mais difícil sugerir que motores com uma faixa de rotação mais estreita que a do boxer, e com potência quase sempre menor que a do motor 1200 e torque mais próximo dos 1200 e 1300 que do 1600, justificasse uma adaptação no Fusca para um uso nas condições normais previstas no projeto original do veículo, além de serem mais pesados e um dos métodos mais comuns para acoplar a diversos equipamentos estacionários ou máquinas agrícolas ser através de correias e polias. Mesmo que outra instalação seja viável sem a necessidade de correias e polias para transmissão primária, a exemplo de embarcações para as quais um reversor é acoplado diretamente no volante do motor, a desconfiança de uma parte do público generalista acabava ficando mais exacerbada, e a considerável diferença entre os tamanhos do volante de um motor de Fusca e de um estacionário como os Yanmar das séries TF e TS também suscitaria dúvidas quanto às possíveis soluções para contornar essa discrepância e proporcionar uma montagem "limpa" que pudesse parecer até original de fábrica. Certamente um torneiro-mecânico poderia usinar um volante de motor que atenda bem a essa aplicação, e um motor "de bomba de poço" que é tão conhecido quanto o boxer da Volkswagen até em localidades rurais mais distantes de grandes centros acabaria proporcionando uma relativa tranquilidade quanto a uma disponibilidade de assistência técnica praticamente em qualquer lugar do país, condição que chegou a ser apontada como favorável ao relançamento do Fusca entre '93 e '96 pelo ex-presidente do Fusca Clube do Brasil Alexander Gromow em contraponto a alguns deslumbrados que criticavam o "Fusca Itamar" ainda um tanto inebriados pela reabertura das importações de veículos em '90.
Tendo em vista como o mercado de veículos antigos colecionáveis no Brasil ficou especulativo demais nos últimos anos, e os mais diversos componentes de especificação original como motores boxer novos para eventual reposição vem atingindo preços estratosféricos, a "heresia" de fazer algumas adaptações nada ortodoxas pode soar tentadora para quem ainda considere o Fusca mais como um veículo "usável"  que como uma peça de museu fadada a ficar trancafiada num galpão. E convenhamos que a economia e a simplicidade de alguns motores Diesel horizontais monocilíndricos de refrigeração líquida entre 1.1L e 1.5L ainda fornecidos tanto por fabricantes tradicionais como a Yanmar quanto por importadores que costumam oferecer cópias dos motores Yanmar feitas principalmente na China viriam a calhar, em que pese um desempenho austero mas longe de impedir por exemplo algumas viagens para visitar parentes interioranos ou ir comer um peixe fresco no litoral, e na pior das hipóteses um mecânico familiarizado só com motores de trator ou um pescador artesanal teriam como auxiliar em algum reparo emergencial. Enfim, mesmo longe de ser tecnicamente "perfeita" e esbarrando na burocracia que impede regularizar a conversão para Diesel, a eventual adaptação de um motor monocilíndrico horizontal ainda seria um bom quebra-galho para um Fusca...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja bem-vindo e entre na conversa. Por favor, comente apenas em português, espanhol ou inglês.

Welcome, and get into the talk. Please, comment only either in Portuguese, Spanish or English.


- - LEIA ANTES DE COMENTAR / READ BEFORE COMMENT - -

Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html