Os modestos motores de 1 cilindro que acompanharam o Piaggio Ape desde o despretensioso início em 1948 na Itália até a concentração de toda a produção dos modelos com motores acima de 50cc na Índia por volta de 2013 também justificam uma improvável analogia com o Ford Modelo T, levando em conta desde a simplicidade técnica que apresentam até usos que os mesmos motores podem ter em aplicações totalmente distintas, e no caso de antigos motores 2-tempos de ignição por faísca ainda seria justificável traçar um paralelo entre a cultura dos hot-rods surgida nos Estados Unidos e uma oferta de preparações por empresas como a Malossi, mais voltadas à scooter Vespa da qual o Piaggio Ape inicialmente foi um derivado. Mas sem sombra de dúvida, hoje em muitos mercados o grande destaque é o uso de pequenos motores Diesel de 1 cilindro entre 400 e 600cc de acordo com a classificação de emissões, favorecendo tanto a economia de combustível quanto a logística especialmente em regiões rurais onde o mesmo tipo de motor ser usado em equipamentos especializados facilita a disponibilidade de manutenção e o uso de insumos como combustível e óleos lubrificantes de especificação comum a distintas aplicações. Talvez a menor complexidade dos sistemas de controle de emissões pela classificação análoga à de motocicleta ainda pudesse até favorecer experiências com combustíveis alternativos como o biodiesel ou até um uso direto de óleos vegetais brutos ou reaproveitados de um uso culinário, de forma análoga à qual chegou a ser usado álcool de milho por fazendeiros dos Estados Unidos no Ford Modelo T até durante a vigência da Lei Seca, e certamente o espírito de independência energética para produtores rurais ainda receberia as bênçãos de Rudolf Diesel tanto na Índia ou nas Filipinas quanto na Colômbia, na África e até mesmo no Brasil se aqui fosse derrubada a absurda proibição ao uso de motores Diesel em veículos leves.
Embora a limitada presença de uma geração mais recente do Piaggio Ape no Brasil aconteça mais com motores a gasolina, sem qualquer experiência voltada ao uso do etanol puro mesmo considerando tanto a mistura obrigatória de etanol em toda a gasolina comercializada regularmente no Brasil quanto a massificação de automóveis flex e até algumas motocicletas já contarem com essa mesma configuração, e a princípio nem o uso do gás natural que já é amplamente difundido em triciclos utilitários na Índia ser levado em consideração nas condições operacionais brasileiras, uma adaptabilidade a diversos segmentos que vão desde o transporte de cargas leves até o transporte comercial de passageiros de forma análoga a um táxi tanto em países asiáticos quanto na Bolívia ou no Peru e na Colômbia certamente ainda remete a como o Ford Modelo T serviu também para uma infinidade de aplicações mantendo uma mesma plataforma básica. Apesar que no caso do Piaggio Ape a evolução técnica seja mais destacável ao longo das quase 8 décadas, desde o lançamento em 1948 na Itália como "uma Vespa com carroceria de pick-up" até a geração atual com motor traseiro e uma transição para motores 4-tempos que acabou por contemplar também a opção pelo Diesel, em contraste aos quase 20 anos da produção ininterrupta do Ford Modelo T entre 27 de setembro de 1908 e 26 de maio de 1927 ao longo dos quais as principais características do projeto se mantiveram praticamente inalteradas. E além do próprio Piaggio Ape, também é inegável que modelos similares produzidos por diversos fabricantes principalmente na Índia e na China permanecem desempenhando um papel importante como veículo particular e até de uso familiar à medida que os custos de um carro tornam-se uma barreira para muitas famílias em países "emergentes" mundo afora.
Por mais que a importância tanto histórica quanto contemporânea do Piaggio Ape pareça hoje distante ou simplesmente "exótico" aos olhos de um brasileiro que insiste em viver numa bolha de ignorância e "ostentação", muito fazendeiro indiano ou filipino hoje consegue manter um Piaggio Ape ou um similar produzido pela Bajaj em ordem por uma fração do custo que arcariam para substituir o filtro de material particulado (DPF) que apresentasse problema em uma caminhonete, embora naturalmente as diferentes categorias de veículo possam conviver em harmonia sob o teto de uma mesma garagem. A viabilidade do uso de combustíveis alternativos, podendo contemplar diversas opções que possam ser produzidas em uma pequena ou média propriedade rural desde o etanol e o biodiesel ou até o biogás/biometano, é um aspecto que certamente remete a um passado no qual a difusão do veículo motorizado contou com o trabalho de idealistas para ser impulsionada, embora algumas lacunas ainda estejam por ser preenchidas. E assim como o Ford Modelo T foi um elemento fundamental para ser instituído o que seria o American Way of Life retratado à exaustão por Hollywood, hoje o Piaggio Ape continua aquela hercúliea missão de conciliar simplicidade técnica e baixo custo operacional em regiões onde essas premissas seguem tão relevantes quanto eram por volta de 100 a 120 anos atrás quando o Ford Modelo T cumpria essa função.
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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.
It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.
Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html