sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Motocicletas: é possível se beneficiar do ciclo Diesel nesses veículos

Ainda que as primeiras imagens associadas a motocicletas sejam antagônicas aos estereótipos relativos a uma relação peso/potência desfavorável constantemente apontada como um problema crônico dos motores Diesel, é possível conciliar a eficiência térmica destes com a leveza habitual das motos.
Para uso estritamente urbano ainda predominam modelos utilitários com cilindrada entre 100 e 200cc em motores do ciclo Otto movidos a gasolina ou etanol, faixa de potência de 8 a 15cv, e torque poucas vezes superior a 1,5kgfm. Entre os motores Diesel, para uma potência em torno de 10cv e um bom torque superior a 2,5kgfm, permitindo um desempenho adequado tanto em ambiente urbano quanto proporcionando uma maior segurança em trajetos rodoviários, cilindrada ao redor de 400cc é o mais usual. O que acaba atrapalhando a adaptação desses propulsores ao uso veicular, mais especificamente motociclístico, é a concepção dos mesmos priorizando aplicações estacionárias menos sensíveis ao excesso de peso e volume. Comparando com algumas motocicletas mais leves de 125cc, um único motor Diesel na faixa dos 400cc pode alcançar metade do peso total da moto, mesmo sem câmbio.


Entretanto, em algumas motocicletas de porte médio ou grande, a estrutura oferece condições mais adequadas para abrigar motores Diesel, permitindo ainda uma variedade mais ampla de propulsores, incluindo alguns de especificação automotiva.

Vale destacar que nos últimos 20 anos houveram avanços significativos na redução do "NVH" (Noise, Vibration and Harshness - ou Barulho, Vibração e Aspereza), além da oferta de motores Diesel mais compactos mantendo um bom rendimento, obtido sobretudo pelos sistemas de injeção mais atuais e pelos aperfeiçoamento da tecnologia do turbo.
 
Na prática, considerando o menor peso e o coeficiente aerodinâmico extremamente apurado das melhores motos superesportivas como a Yamaha YZF R-1, é possível manter acelerações e retomadas com uma resposta adequada sem sacrificar tanto a capacidade de atingir altas velocidades mesmo ao se usar o motor de um automóvel compacto com peso entre 4 ou 5 vezes mais elevado (já contando o acréscimo ao peso da moto devido à aplicação do motor Diesel), e ainda com a possibilidade de se usar relações de marcha mais longas para ampliar a velocidade final - a disponibilidade do torque já a partir de rotações mais baixas reduz os evevntuais prejuízos à aceleração. Talvez seja o segmento que mais oferecesse alguma resistência à introdução do Diesel, mas não chega a ser inatingível...

Outros usuários que podem se beneficiar das principais vantagens do ciclo Diesel são os adeptos do off-road recreativo, ou mesmo para competições. Ainda que às motos de trilha a leveza seja apontada como uma das qualidades mais apreciadas, para enfrentar trechos com aclives mais acentuados a disponibilidade do torque em rotações mais baixas é uma vantagem considerável, reduzindo o esforço do próprio motor que precisaria ser "esgoelado" com menos freqüência para vencer obstáculos.

Fora isso, a maior robustez, menor sensibilidade a variações da qualidade dos combustíveis disponíveis, e a confiabilidade de depender menos de sistemas elétricos para se manter em funcionamento é bastante apreciada em locais inóspitos, então não é à toa que os Marines americanos usam motocicletas com um motor Diesel, desenvolvido pela Hayes Diversified Technologies para aplicação em motos.
Ainda tem vantagens referentes à segurança contra explosões, razão pela qual os motores Diesel são o padrão adotado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para frotas militares.

No mercado civil, entretanto, o segmento que parece mais próximo do Diesel é o das motos turísticas, principalmente as "custom", que tem nas Harley-Davidson a referência mais absoluta.
A imagem que vem à mente de seus tradicionais motores V-Twin é de uma potência específica baixa, estereótipo igualmente associado aos Diesel, mas disponível a rotações normalmente bem mais baixas que o habitual nas principais concorrentes européias e japonesas.



Entre os modelos turísticos ainda há outros de concepção mais moderna, como as big-trail, que apesar de assim serem conhecidas normalmente são dotadas de uma ciclística mais favorável a caminhos bem pavimentados. Já costumam ser dotadas de fartos tanques de combustível, e caso fosse usado um motor Diesel as visitas aos postos de abastecimento seriam menos freqüentes, permitindo se aproveitar melhor o tempo em viagens mais longas, cobrindo distâncias maiores.

Enfim, por mais que pareçam antagônicos ao extremo, motos e o ciclo Diesel podem conciliar suas distintas vantagens.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja bem-vindo e entre na conversa. Por favor, comente apenas em português, espanhol ou inglês.

Welcome, and get into the talk. Please, comment only either in Portuguese, Spanish or English.


- - LEIA ANTES DE COMENTAR / READ BEFORE COMMENT - -

Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html