sábado, 9 de julho de 2016

Biogás/biometano: reconhecido como um "combustível avançado" pela EPA americana, poderia vir a ser levado mais a sério também no mercado brasileiro?

Já não é de hoje que o biogás/biometano é conhecido, tendo em vista que já chegou a ser aplicado em países tão distintos quanto Alemanha e China para fins veiculares após a II Guerra Mundial antes de perder alguma popularidade para o gás natural de origem fóssil. No entanto, o recente reconhecimento como um "combustível avançado" conferido pela EPA (Environment Protection Agency - Agência de Proteção Ambiental, congênere americano do IBAMA) oferece uma ampla perspectiva para uma inserção em escala comercial abrangendo outros mercados que se mostram cruciais para as fontes renováveis de energia.

Fatores tão diversos quanto o escândalo do "Dieselgate" já discutido à exaustão, e ainda o cerco da EPA às alterações ilegais em pick-ups para que possam expelir de forma intencional fumaça com alto teor de material particulado contra pedestres, bicicleteiros, motociclistas e, talvez com mais frequência, motoristas de alguns carros associados a estereótipos de "ecochatos" como o Toyota Prius, bem como a insatisfação com efeitos colaterais da atual geração de sistemas de controle de emissões aplicados aos motores Diesel mais recentes, acabariam por favorecer uma eventual massificação do biogás/biometano nos Estados Unidos. É natural também que a presença expressiva de pick-ups e sport-utilities com grandes motores V6 e V8 a gasolina na terra do Tio Sam se mostre igualmente convidativa a experiências com os combustíveis gasosos em uma ampla variedade de condições operacionais, tanto para fins particulares quanto profissionais.

As emissões de dióxido de carbono ao menos 50% inferiores às da gasolina foram o principal parâmetro definido pela EPA para qualificar esse biocombustível como "avançado", podendo competir diretamente com o etanol celulósico no mercado americano. Num primeiro momento pode parecer difícil justificar o uso de um combustível gasoso, por necessitar de um sistema de armazenamento específico ao contrário do etanol que pode ser misturado à gasolina em qualquer proporção quando aplicado a veículos "flex", mas na verdade deve ser tratado mais como um complemento para reduzir a pressão exercida sobre os preços e disponibilidade de combustíveis fósseis e dos substitutivos mais consolidados como o etanol e o biodiesel. Dentre as muitas matérias-primas que podem ser destinadas à produção do biogás/biometano, figuram alguns resíduos da indústria sucroenergética como a vinhaça e a palha da cana, o que de certa forma reforça ainda mais a viabilidade de uma integração entre diferentes fontes de energia. A expectativa por uma maior interiorização da oferta de GNV no Brasil, constantemente apontada como fundamental para uma eventual quebra da hegemonia do Diesel no transporte rodoviário, também oferece boas oportunidades de negócio envolvendo o biogás/biometano.

Estimativas apresentadas pelo vice-presidente da Associação Brasileira de Biogás e Biometano (ABiogás), Alessandro Gardermann, dão conta de que seria possível levar a produção brasileira de biogás/biometano a uma faixa de 28,5 bilhões de metros cúbicos por ano, valor que equivaleria a 50% do consumo do óleo diesel no país e viria a aliviar em parte a intensa pressão energética observada atualmente. Não deixa de ser um bom pretexto para a indústria agroenergética pleitear por incentivos que iriam desde uma simplificação tributária até a desoneração de equipamentos para a cadeia produtiva do biogás/biometano, principalmente diante de uma menor volatilidade nos preços em comparação ao etanol. Já contra o óleo diesel convencional e o biodiesel, seria exagero dizer que os combustíveis gasosos estariam lutando uma batalha perdida mas também não é coerente cantar vitória sem conhecer as peculiaridades de cada cenário operacional ao qual um veículo ou equipamento estacionário esteja designado.

Ao contrário dos Estados Unidos, onde a prevalência do motor a gasolina se deve mais a fatores culturais, no Brasil uma das principais motivações que levariam um consumidor a optar por uma pick-up "flex" a gasolina e etanol seria o valor de uma apólice de seguro, consideravelmente maior diante da incidência mais elevada de roubos e furtos de pick-ups com motor Diesel. Entre aqueles que hoje não podem se dar ao luxo de dispensar a autonomia superior e a maior aptidão a trabalho pesado dignas do Diesel, é até possível que alguns viessem a ser atraídos pelo biogás/biometano caso passasse a estar disponível tão facilmente quanto o óleo diesel convencional e/ou o biodiesel. Ainda assim, há aplicações mais sensíveis à limitação de espaço que a presença dos cilindros de armazenamento de um combustível gasoso acarretaria, como é o caso de ambulâncias e outros veículos de emergência, e portanto não seria justo apontar o biogás/biometano como um sucessor de fato para o óleo diesel no Brasil.

É possível que o comodismo em torno do etanol, ao menos num primeiro momento, leve o biogás/biometano a ser subestimado por uma parte considerável do público brasileiro. Porém, não restam tantas dúvidas de que viria a se firmar como mais uma opção adequada às necessidades e expectativas de alguns operadores e, por mais paradoxo que possa parecer, figuraria como mais um possível pretexto para liberar o Diesel em aplicações veiculares leves por diminuir a pressão exercida ao menos pelo transporte comercial e equipamentos estacionários/industriais sobre a demanda de óleo diesel convencional.

3 comentários:

  1. Acho que quando começarem no Brasil a adaptar gás nos carros de injeção direta como já se faz na Europa, o biometano vai ser o tiro de misericórdia no etanol.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Talvez não chegue a tanto, mas vai forçar o setor sucroalcooleiro a explorar outras aplicações do etanol na indústria química. Pode ser usado para a produção de polietileno, por exemplo.

      Excluir
  2. Não tem como acabar com o álcool no Brasil, apesar de que o gás natural não chega a todos os lugares e o biometano pode ajudar nessa interiorização mesmo. Mas eu ainda acho que em fazendas menores vai ser mais fácil usar o biogás para fogão, esquentar água do banheiro e para aquecer os galinheirões.

    ResponderExcluir

Seja bem-vindo e entre na conversa. Por favor, comente apenas em português, espanhol ou inglês.

Welcome, and get into the talk. Please, comment only either in Portuguese, Spanish or English.


- - LEIA ANTES DE COMENTAR / READ BEFORE COMMENT - -

Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html