Motor Pratt&Whitney Canada PT-6A, este exemplar já se encontra não-aeronavegável e serve apenas para ensino |
Não se pode ignorar o aspecto financeiro, tendo em vista que os motores são hoje os componentes de custo mais elevado num avião comercial moderno e, por mais que alguns mecânicos aeronáuticos mais experientes de vez em quando digam o contrário, a manutenção não parece muito mais simples em comparação a um motor convencional que possa proporcionar um desempenho semelhante. É inegável a vantagem no peso e volume principalmente ao considerarmos os jatos modernos, que já nem costumam ser "jato puro" e tem grande parte do fluxo de ar admitido circulando ao redor do núcleo (core) do motor, no chamado fluxo secundário ou "bypass" (desvio). Na prática, o chamado "turbofan" recorre a uma espécie de hélice carenada de passo fixo, sem variação no ângulo das pás (blades), mas acaba gerando a maior parte da tração por meio de um fluxo de ar que não é aplicado ao processo de combustão como também é o caso dos turboélices que costumam recorrer ao chamado "passo variável" para ajustar o ângulo das pás de acordo com a incidência do vento relativo ao invés de variar a aceleração do motor, e assim possibilitando que este permaneça operando o máximo possível em regime de rotação constante de modo a assegurar uma maior eficiência.
As necessidades específicas da aviação comercial moderna, que vão além da questão do custo e disponibilidade do querosene mais favoráveis que os da gasolina de aviação (AvGas) e passam também por aspectos como a sangria de ar do próprio compressor nas turbinas a gás para uso no sistema de climatização (que opera por ciclo de ar ao invés do ciclo de vapor usado em equipamentos de ar condicionado comuns) e pressurização da cabine visando aumentar o teto operacional (altitude máxima de voo) a temperaturas confortáveis e sem a necessidade de recorrer a oxigênio suplementar para passageiros e tripulação, fazem com que nenhum outro tipo de motor ofereça hoje uma relação custo/benefício competitiva. Nesse sentido, cabe destacar a redução de peso e volume não apenas nos motores mas também nos conjuntos de ar condicionado e no sistema de pressurização, tendo em vista que se tornam desnecessários compressores de acionamento mecânico adicionais imprescindíveis caso fossem usados motores convencionais na mesma aplicação. É importante frisar também que em altitudes mais elevadas o ar menos denso acaba favorecendo a economia de combustível, visto que oferece uma menor resistência (atrito) ao deslocamento do avião e possibilita o uso de um volume de combustível menor para manter a proporção ar/combustível correta para uma combustão mais completa e limpa.
CAP-4 "Paulistinha", derivado do clássico Piper Cub normalmente usado para voos de instrução |
Piper Pawnee C |
Levando em consideração a dificuldade das turbinas a gás em operar com uma variação mais intensa das condições de carga, até poderia-se especular sobre uma viabilidade das mesmas em veículos com câmbio do tipo CVT como o usado no Honda Civic de 10ª geração, que conta com infinitas relações de marcha entre a mais reduzida e a mais longa mediante o uso de polias cônicas e correias, ao invés de uma quantidade fixa de marchas definidas por engrenagens em um câmbio manual, automático convencional ou automatizado. Nesse caso, o câmbio acabaria por assumir uma função análoga ao governador de hélice em aviões ou ao "cíclico" dos helicópteros, tornando-se o controle primário da velocidade do veículo com o intuito de manter o motor sempre "cheio", mas mesmo assim já não seria tão vantajoso recorrer às turbinas a gás num carro ao considerarmos o anda-e-para tão frequente ao trânsito urbano pesado. Na melhor das hipóteses, poderia servir a modelos híbridos como o Toyota Prius ou até mesmo pesados como o ônibus Volvo B215RH. Tendo em vista algumas peculiaridades dos sistemas híbridos, como o desligamento do motor a combustão durante paradas e desacelerações eliminando a operação em marcha-lenta (idling) e a possibilidade de variar a aceleração dos motores elétricos visando emular o funcionamento de um câmbio CVT no caso do Prius, já poderia soar mais plausível incorporar turbinas a gás em substituição aos motores convencionais num veículo híbrido.
A presença mais maciça do turbocompressor em motores convencionais em aplicações diversas também pode fomentar discussões quanto à viabilidade de uma transição para as turbinas a gás, tendo em vista a aparente simplicidade desse dispositivo. Naturalmente o uso de um compressor de fluxo centrífugo e estágio de compressão único acaba por reforçar essa imagem, além de ter um custo menor que os compressores do tipo axial de múltiplos estágios que se tornaram padrão na aviação. A evolução das câmaras de combustão, que deixaram para trás o formato "caneca" enquanto as câmaras anelares vão se consolidando em virtude de fatores como o menor volume externo em proporção ao interno e a propagação de chama mais uniforme, também pode ser apontada como um pretexto para que as turbinas a gás venham a ter maior aceitação ou ao menos despertem alguma curiosidade por parte de potenciais novos usuários. No entanto, as temperaturas extremamente altas em comparação aos motores convencionais também requerem atenção para evitar danos ao motor, valendo-se de uma parte do fluxo de ar turbilhonando de modo a refrigerar e evitar que a chama entre diretamente em contato com as paredes das câmaras de combustão. O risco do fogo se alastrar para a turbina propriamente dita e chegar a queimá-la também não pode ser desconsiderado. Justamente em função das temperaturas mais altas e de operar com chama constante (ciclo Brayton) ao invés das explosões controladas observadas em motores convencionais, a ocorrência de superaquecimento em turbinas a gás pode-se tornar ainda mais danosa e exigir reparos mais caros ou eventualmente a substituição de toda a seção quente (câmaras de combustão, turbinas e seção de escapamento).
Turbina a gás chegou a ser usada até em tanque de guerra, mas parece que andou dando problema lá no Iraque. Já tem planos para trocar por motor a diesel mesmo, e até a Norinco chinesa quando projetou uma espécie de concorrente do Abrams já escolheram motor a diesel desde o início.
ResponderExcluirIngestão de partículas estranhas é um problema até mais comum nas turbinas a gás em comparação aos motores convencionais.
ExcluirNão acredito que as turbinas a gás possam chegar a ser viáveis para uso em carros tão cedo, mas pelo que eu vejo elas só chegaram ao atual sucesso quando se começou a usar o turbofan ao invés de depender só dos gases de escape para gerar tração.
ResponderExcluirPois é. Em comparação aos jatos puros, mesmo que o tamanho e a área frontal de um turbofan seja muito maior por uma mesma quantidade de tração que vá ser gerada, pelo menos consegue economizar combustível e ter uma melhor supressão de ruídos.
ExcluirLindo demais esse C-47, pena que não é mais aeronavegável. De vez em quando até me dá uma vontade de ir no interior da Colômbia só para fazer a viagem num desses que ainda opera comercialmente.
ResponderExcluirSe nem nos aviões as turbinas a gás são unanimidade, tanto que ainda existe mercado para motores a pistão com uma concepção bastante arcaica, fica ainda mais difícil supor que possam ser consolidadas de curto a médio prazo no mercado automobilístico. Só mesmo como gerador para veículos com tração elétrica, como propõe a Wrightspeed para uso em caminhões e ônibus. Só para constar, a uns anos atrás a extinta fábrica de motores canadense Orenda chegou a tentar adaptar um motor V8 big-block da Chevrolet para ser usado no lugar da PT6 em alguns aviões como o King Air.