quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Refletindo sobre a questão dos "caminhões leves" nos Estados Unidos e "utilitários" no Brasil com uma breve observação sobre o mercado brasileiro de motos de pequena cilindrada

De uma pick-up como a Ford Ranger que mesmo nas versões de cabine dupla ainda pode efetivamente atender a finalidades profissionais até um SUV como o Jeep Compass que é de fato mais direcionado ao público generalista, algumas definições essencialmente burocráticas tornam diversos modelos de ambas as categorias uma opção convidativa e até desejável a consumidores que intencionem parecer estar levando uma vantagem ou aos próprios fabricantes que podem alegar o retorno mais rápido do investimento em comparação a automóveis mais austeros. Enquanto a principal motivação de um brasileiro para comprar uma caminhonete seja o direito de usar um motor turbodiesel caso a capacidade de carga ultrapasse uma tonelada ou disponha de tração 4X4, para um americano a possibilidade de obter um abatimento no imposto de renda justifica a eventual preferência por um "caminhão leve" mesmo descartando uma aplicação efetivamente utilitária. Também chama a atenção no caso dos Estados Unidos, além das regras menos rígidas quanto à capacidade de carga nominal, que os SUVs ainda podem ser enquadrados como "caminhões leves" mesmo quando dotados de tração simples, em oposição ao ocorrido no Brasil onde só as versões 4X4 de modelos com capacidade de carga nominal inferior a uma tonelada e lotação de menos de 10 pessoas já contando o motorista são homologadas como "utilitário" de acordo com as restrições ainda em vigor contra o uso de motores Diesel em automóveis.

O fato de SUVs e outros "caminhões leves" especificamente direcionados ao transporte de passageiros serem isentos da Chicken Tax incidente sobre pick-ups e furgões de carga nos Estados Unidos, além das normas mais lenientes no tocante às metas de redução no consumo de combustível que viabilizaram aos fabricantes americanos insistirem na produção de motores V8 sedentos por gasolina mesmo durante os primeiros choques do petróleo e o recrudescimento de normas de emissões, motivou ainda fabricantes de outras nacionalidades a darem cada vez mais atenção a esse segmento e impulsionando o fenômeno dos "crossovers" que aliam uma estética de SUV a uma configuração mais próxima a um automóvel que efetivamente a um caminhão. Como o Brasil está numa área que reúne influências tanto americanas quanto européias e japonesas sobre o mercado automotivo local, até alguns fabricantes que o público generalista reputa conservadores tem seguido aquela estratégia "americanizada" de impor os SUVs aos consumidores cujo perfil anteriormente privilegiaria as station-wagons, a exemplo da Toyota que chegou a introduzir o Corolla Cross antes no mercado brasileiro antes mesmo que o modelo chegue aos Estados Unidos. Ainda que o sufixo Cross possa num primeiro momento levar a crer que vá oferecer uma aptidão off-road muito destacada, na prática é só mais uma forma para burlar uma regra que inicialmente parecia ter uma finalidade nobre para atender a operadores profissionais mas rapidamente ficou obsoleta à medida que os americanos passaram a privilegiar caminhonetes em geral, mantendo a mesma concepção básica predominante nos automóveis modernos com estrutura monobloco e tração dianteira com motor transversal.

Torna-se inevitável fazer uma analogia com situações observadas no mercado brasileiro de motocicletas de pequena cilindrada, com destaque para a Honda CG hoje na 9ª geração, e a Honda NXR Bros dotada do mesmo motor da CG e atendendo ao segmento trail mas também atraindo consumidores generalistas de forma análoga ao que pode ser observado com relação ao modismo dos SUVs. Naturalmente, a idéia de uma maior capacidade de incursão off-road torna-se muito convidativa tanto para o uso cotidiano em ruas nem sempre bem conservadas quanto para quem deseje percorrer trilhas em momentos de lazer, e a diferenciação técnica entre as configurações de chassi é só a ponta do iceberg, e alguns fatores que num primeiro momento possam parecer irrelevantes como a altura do paralama dianteiro evitando o acúmulo de detritos entre o paralama e o pneu revelam-se mais práticas que uma abordagem meramente estética de alguns SUVs contemporâneos destinados a parecer mais brutos do que efetivamente sejam. No fim das contas, mesmo com as motos de um modo geral estando ainda mais afastadas de uma possibilidade para oferecer motores Diesel no Brasil, e uma trail possa ter uso urbano análogo às gerações recentes de SUVs com tração simples, constituem um bom parâmetro para avaliar também as distorções na regra de "caminhões leves" aplicáveis aos Estados Unidos.

3 comentários:

  1. E no Brasil, mesmo quem não aproveita para comprar SUV 4X4 e escolhe um modelo mais simples de motor flex para usar só álcool em São Paulo também segue essa moda. Mas para chegar até o Corolla a virar SUV já foi longe demais mesmo.

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    1. Com essa moda de SUV, no fim das contas o tipo de tração acaba sendo o que menos importa para quem deseje simplesmente "ostentar".

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  2. Botando na ponta do lápis, essa história de hoje tentar apresentar até um Corolla como caminhão não faz o menor sentido. Dá até saudade da época que as minivans estavam na moda, sempre foram muito mais confortáveis.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html