quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Toyota 4Runner de 3ª geração e Ford Modelo T: uma comparação menos absurda do que pode parecer inicialmente

Os mais distintos mercados automobilísticos mundo afora impõem uma série de desafios aos principais fabricantes de veículos, em aspectos tão complexos quanto normas de segurança e as divergências entre as classificações de emissões em cada região. Portanto, acaba sendo mais difícil atender às expectativas de consumidores com perfis variados sem negligenciar algumas regulamentações técnicas ou em alguns casos meramente políticas, tomando por referências o Toyota 4Runner de 3ª geração mais conhecido no Brasil como Toyota Hilux SW4 e o Ford Modelo T para uma comparação até mais justa do que se podia supor considerando um distanciamento histórico das premissas de cada projeto. Saltando imediatamente aos olhos o contraste entre o 4Runner que dispôs de uma variedade de motores entre gasolina ou Diesel, tanto de aspiração natural com uma disponibilidade mais limitada a mercados periféricos que apreciam a rusticidade quanto turbodiesel de injeção indireta e posteriormente injeção direta, e no Ford Modelo T um único motor a gasolina que até podia operar com etanol visando atender aos produtores americanos de milho capazes de produzir o álcool "moonshine" nas propriedades rurais.

Uma configuração de chassi independente da carroceria com motor longitudinal e tração primariamente traseira por eixo rígido guardava inegáveis semelhanças entre um SUV com pretensões até certo ponto sofisticadas e o calhambeque reconhecido como pioneiro entre carros de proposta "popular", apesar das evoluções no tocante aos sistemas de freios e de suspensão ao longo do distanciamento histórico de 68 a 87 anos entre o lançamento do Toyota 4Runner de 3ª geração em '95 e respectivamente encerramento da produção do Ford Modelo T em 1927 e lançamento em 1908. A maior ênfase dada ao uso recreativo dos SUVs, com destaque especial para a predominância da tração 4X4 que foi imprescindível para o Toyota 4Runner/Hilux SW4 ser reconhecido como "utilitário" no Brasil num âmbito burocrático que assegurou o direito de ter oferecido o motor 1KZ-TE turbodiesel, contrasta com a austeridade da época que o Ford Modelo T era usado em condições de terreno severas por efetiva necessidade mesmo dispondo somente de tração traseira. Kits de tração 4X4 desenvolvidos especificamente para o Ford Modelo T a partir de 1914 por Jesse Livingood estiveram disponíveis em tempo hábil para um batismo de fogo já na I Guerra Mundial, mas ainda era algo tido como supérfluo até em viaturas militares pelo custo e complexidade.

A extrema rusticidade do motor do Ford Modelo T, desenvolvido numa época que nem os mais ousados devaneios de ficção científica ousavam prever uma obrigatoriedade de catalisadores ou uma hegemonia do gerenciamento eletrônico que durante o ciclo de produção do Toyota 4Runner de 3ª geração chegava também aos motores Diesel, fomenta observações quanto a uma adaptabilidade ao uso de combustíveis com especificações muito diferentes da originalmente recomendada a cada veículo. Um ponto inusitado em comum é como o querosene iluminante acaba tendo uma aplicabilidade em ambos os casos, embora no "Ford Bigode" a partida a frio possa ser mais problemática que com o etanol, enquanto para motores Diesel as maiores preocupações sejam a compatibilidade do querosene com alguns materiais usados em componentes do sistema de combustível e a lubrificação da bomba injetora, e portanto pode causar uma estranheza ao público generalista as adaptações destinadas ao uso de algum motor Diesel específico em viaturas militares dê atenção especial às juntas e retentores principalmente nas bombas injetoras do tipo distributiva ou rotativa que predominam em motores como o Toyota 1KZ-TE que equipa a maioria dos exemplares do 4Runner de 3ª geração comercializados como Hilux SW4 no Brasil.

Diferenças econômicas e sociais que se revelaram condições mais desafiadoras à proposta "popular" do Ford Modelo T foram posteriormente abordadas tanto por meio de outras características técnicas quanto por políticas de incentivo à indústria automobilística também em países como o Brasil, e ironicamente a concepção "de calhambeque" encontrou sobrevida mais longa em veículos de porte maior com proposta declaradamente utilitária a exemplo do Toyota 4Runner de 3ª geração. Levando em conta que ambos os modelos tiveram uma presença global comparável mesmo em meio ao grande distanciamento histórico, e o sucesso da linha de utilitários em regiões que preservam condições ambientais severas foi essencial para a Toyota ser alçada a uma condição de liderança mundial que Henry Ford tomava por garantida na época dos calhambeques até se ver superado por uma ampla concorrência, a atual hegemonia dos SUVs entre os veículos de passageiros nos Estados Unidos e a percepção da categoria como objeto de desejo da classe média emergente brasileira acaba por guardar mais uma semelhança. Enfim, uma comparação entre o Ford Modelo T e o Toyota 4Runner de 3ª geração é menos absurda do que poderia inicialmente parecer.

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It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
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