quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Questionamentos acerca do downsizing em motores de ignição por faísca tomando o Fiat Pulse como referência

Um carro que expõe muito bem algumas incoerências do downsizing no âmbito dos motores de ignição por faísca, o Fiat Pulse foi lançado inicialmente com os motores Firefly 1.3 aspirado e 1.0 turbo flex no Brasil, e só a gasolina em mercados de exportação, sendo que em alguns países como o México apenas o motor 1.3 foi oferecido. Naturalmente o motor 1.3 aspirado acabou sendo um tanto subestimado pelo público generalista, embora para alguns segmentos como o dos táxis possa ser vantajoso tanto por ser mais austero quanto pela maior facilidade de implementar uma conversão para gás natural, embora esse procedimento tenha perdido bastante popularidade entre os operadores em cidades como Florianópolis em anos recentes. E apesar do desempenho um tanto mais modesto, além da ausência de modernidades como a injeção direta e o comando de válvulas com controle eletro-hidráulico das válvulas de admissão que poderia até possibilitar uma eliminação da borboleta de admissão (throttle-plate) mantida somente como uma provisão de vácuo para os freios, o motor de concepção mais tradicional até tem apresentado médias de consumo mais favoráveis tanto com gasolina quanto com etanol, lembrando que em função das normas de emissões que passaram a vigorar em 2022 o tanquinho de partida a frio foi eliminado nos carros e utilitários flex e o pré-aquecimento elétrico nos bicos injetores tem sido usado como auxílio na partida a frio em motores flex desprovidos de injeção direta.
Enquanto o motor 1.0 turbo na prática só se justifica em função da tributação mais favorável incidente sobre essa faixa de cilindrada para atender ao segmento de carros "populares", e o downsizing seja uma aplicação da Lei de Gérson em segmentos teoricamente mais prestigiosos, o motor 1.3 já se justificava sob um aspecto estritamente técnico desde quando ainda era oferecido somente com aspiração natural e injeção sequencial, embora uma versão turbo com injeção direta também tenha chegado ao Fiat Pulse na versão Abarth de pretensões declaradamente esportivas. Apesar de ser possível atribuir a presença do turbocompressor também a um favorecimento no tocante às alíquotas de IPI escalonadas de acordo com faixas de cilindrada, tendo em vista que um motor 1.3 turbo recolhe um percentual menor comparado a um motor 2.4 aspirado que proporcionaria um desempenho semelhante, é previsível que seja despertado um fascínio simplesmente pela presença desse componente, e a injeção direta permitindo que se recorra a uma proporção ar/combustível menos enriquecida diante do aquecimento aerodinâmico mais intenso das cargas de admissão mesmo com a presença de um intercooler realmente se revela favorável visando uma melhoria no consumo de combustível, tal qual se pode constatar observando que a massificação do turbo e da injeção direta foi crucial para os motores Diesel décadas atrás. Ainda assim, para uma parcela mais austera do público, soa excessivamente inconveniente lidar com algumas peculiaridades como o maior rigor em alguns aspectos da manutenção preventiva como a observância das especificações do óleo lubrificante para assegurar uma durabilidade do motor e mais especificamente do turbocompressor que é um componente caro e particularmente sensível devido à exposição direta às altas temperaturas dos gases de escape e ao risco de formação de borra de óleo nos mancais do eixo principal que conecta a turbina e o compressor.
Também é importante lembrar que, embora a ignição por faísca ainda proporcione uma certa facilidade para controlar os índices de emissões de óxidos de nitrogênio (NOx) somente pelo enriquecimento da proporção ar/combustível, com a injeção direta a formação de material particulado também se torna um ponto a considerar no tocante ao pós-tratamento dos gases de escape, e portanto tem marcado presença nos motores mais recentes desenvolvidos de acordo com preceitos do downsizing um filtro de material particulado, análogo ao DPF já amplamente usado nos motores turbodiesel modernos. Se para alguns perfis de operação ao menos teoricamente especializados como num carro esportivo pode parecer mais fácil assimilar alguns graus de complexidade técnica, em contraste com a forma que motores de ignição por faísca mais modestos e eventualmente referenciados como "à prova de burro" se contrapõem a uma percepção de maior complexidade técnica que acabava até mesmo afastando uma parte expressiva do público tradicional dos motores Diesel que o viam essencialmente como uma ferramenta de trabalho, já é questionável uma atribuição de vantagens absolutas ao downsizing sem avaliar as condições de uso. Enfim, apesar de ter sido até apontado em alguns momentos como um eventual pretexto para minimizar a importância que uma liberação do uso de motores Diesel em veículos leves poderia ter, o downsizing aplicado a motores de ignição por faísca pode ser menos coerente nesse sentido do que se alega.

2 comentários:

  1. Ruim o 1.0 turbo não deve ser, eu pelo menos vejo quase tudo desse modelo com o adesivo atrás dizendo que é turbo

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    1. A questão é mais pelo downsizing em motores a gasolina ou flex eventualmente se revelar insuficiente como um argumento contrário à eventual liberação de motores Diesel em veículos leves.

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