quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Utilitários chineses e a insistência em motores de ignição por faísca: uma estratégia a ser lamentada

É fácil perceber que a imensa maioria daquelas caminhonetes de fabricação chinesa, como as Effa V21 que ainda fazem relativo sucesso no mercado brasileiro dada a atual escassez de pick-ups compactas e efetivamente direcionadas ao uso profissional, seguem bem de perto a concepção básica de utilitários de origem japonesa com uma faixa de tamanho e cilindrada similares. No caso específico dos modelos que a Effa monta em Manaus, uma particularidade é o fato de ainda usarem somente o motor 1.3 a gasolina copiado da Suzuki pela Dongfeng Sokon, homologado no Brasil para usar gasolina com 22% de adição de etanol embora o mais usual seja encontrar gasolina com 25 ou 27% a depender do resultado da safra da cana e das cotações tanto do etanol quanto do açúcar no mercado internacional das commodities. Só a ausência de uma opção flex, que ainda poderia ter uma receptividade maior ao menos em São Paulo e outros poucos estados onde o etanol mantém uma demanda estável mesmo fora da safra que se estende de novembro a março, já é algo que chama a atenção, além do mais diante do recente recrudescimento das normas de emissões em vigor no Brasil que passaram a estar mais equiparadas às americanas que às européias especialmente no tocante a veículos com motor de ignição por faísca.
Tendo em vista ainda que as pick-ups Effa já estão apresentando capacidades de carga acima do mínimo de uma tonelada exigido para homologação de veículos de tração simples com acomodações para até 9 pessoas já incluindo o motorista serem considerados utilitários aptos ao uso de motor Diesel no Brasil, e portanto já fosse justificável oferecer tal opção e se fosse o caso valer-se do outsourcing junto a algum fornecedor de motores com fábrica no Brasil mesmo, também é curioso lembrar que até no segmento de pick-ups médias para as quais os fabricantes tradicionais passaram a deixar de lado a ignição por faísca no mercado brasileiro, os chineses que comercializam também pick-ups médias nos países vizinhos a exemplo da GAC Gonow que chegou a vender no Uruguai lançavam mão de motores muitas vezes já tidos como obsoletos mas ainda copiados à exaustão na China como o 4G64 da Mitsubishi ou o 4Y da Toyota para as versões a gasolina. Naturalmente é uma estratégia favorecida pela economia de escala ao usar motores cujo projeto já é bastante conhecido e a assistência técnica vá requerer pouca ou nenhuma formação continuada para atender nos mercados de exportação, e algo parecido pode ser observado com relação às versões Diesel mais frequentemente equipadas com cópias dos motores Isuzu 4JA1 e 4JB1 às vezes ainda com injeção mecânica mas em outros casos já incorporando injeção eletrônica common-rail e até dispositivos de controle de emissões modernos como filtro de material particulado (DPF) e SCR a depender das regulamentações de cada país onde sejam vendidas. Porém, por mais que num primeiro momento seja possível alegar que uma caminhonete pequena como uma Effa V21 disponha de menos espaço no compartimento do motor que uma GAC Gonow Fan, e tal fator pudesse atrapalhar também a integração de componentes como o turbocompressor e do sistema de pós-tratamento de gases de escape, vale destacar que alguns fabricantes chineses menos conhecidos que a Dongfeng e a GAC conseguiram instalar em caminhonetes compactas de cabine semi-avançada alguns motores que a princípio pareciam viáveis só em modelos de porte médio...
A insistência de fabricantes chineses nos motores de ignição por faísca pode até ser compreendida tanto pelo menor custo de implementação favorecer o dumping em mercados de exportação como aconteceu no Uruguai e outros tantos países onde a fabricação propriamente dita de automóveis fica mais ofuscada pela montagem no regime CKD quanto por eventuais politicagens favorecendo o uso de combustíveis gasosos, tanto na China onde o gás natual e o gás liquefeito de petróleo (GLP - "gás de cozinha") já são amplamente usados e até obrigatórios para algumas categorias de veículos em cidades muito poluídas como Pequim e Xangai quanto em países hoje fortemente dependentes do dumping chinês no mercado automobilístico a exemplo do Irã. Mesmo com fabricantes de motores Diesel renomados a exemplo da Cummins tendo oferecido soluções inicialmente específicas para o mercado chinês, e que podiam ainda ser uma resposta mais séria às alegações de violação da propriedade intelectual que costumam ser mais respeitadas em mercados de exportação que na própria China, a insistência dos fabricantes chineses em usar motores de ignição por faísca copiados de projetos "velhos" de fabricantes tradicionais também tem o agravante de inibir a busca por soluções mais eficientes para o progresso tecnológico no tocante aos motores de combustão interna como um todo. Enfim, essa insistência chinesa na ignição por faísca é algo a se lamentar.

Um comentário:

  1. Impressionante esse caminhãozinho chinês ter motor tão pequeno

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
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