segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Alta rotação vs. baixa rotação: alguns aspectos devem ser ponderados

Em se tratando dos motores Diesel, que normalmente apresentam faixas de rotação mais baixas que os concorrentes de ignição por faísca, falar em "alta rotação" pode soar contraditório. Diga-se de passagem, até a definição mais comum sobre tal aspecto em aplicações automotivas pode ser considerado impreciso e arbitrário, enquadrando motores com potência máxima desenvolvida numa faixa de giros igual ou inferior a 3000 RPM, preferencialmente com pico de torque apresentado abaixo de 2000 RPM, e limite máximo operacional igual ou inferior a 4000 RPM como "baixa rotação", e com potência máxima desenvolvida acima das 3000 RPM como "alta rotação".

Acaba por chamar à atenção a atual geração de caminhonetes Ram, que desde a época em que usavam a marca Dodge são oferecidas com motor Cummins de 6 cilindros da série B, de baixa rotação por definição, ainda que o atual ISB6.7 entregue seus saudáveis 350hp a 3013 RPM. Também vale destacar que, em gerações mais antigas, era comum entre usuários ávidos por desenvolver mais potência que alterassem o sistema injetor para que o motor ficasse mais "girador". Há relatos do antigo B5.9 beirando 5000 RPM...

Outro caso bastante emblemático envolve o Toyota Bandeirante, que durante décadas foi equipado com motores fornecidos pela Mercedes-Benz, com destaque para o OM-324 de 3.4L com 78cv a 3000 RPM, posteriormente o OM-314 de 3.8L com 85cv a 2800 RPM e finalmente o OM-364 de 4.0L com 90cv a 2800 RPM, até que a partir de '94 estreou no mercado brasileiro o motor 14B de fabricação própria da Toyota, de 3.7L com 96cv a 3400 RPM, mas que acabou sendo rejeitado por alguns consumidores, que preferiam a disponibilidade do pico de torque a regimes ligeiramente mais baixos e vantagem em valores absolutos para o OM-364 (27mkgf a 1400 RPM contra 24,4mkgf a 2200 RPM).

Nos motores Diesel de alta rotação, normalmente, a relação peso-potência é favorecida, em detrimento do torque, como pode ser observado numa comparação entre o motor Kia JT de 3.0L e 85cv a 4000 RPM usado na Besta Grand e o já citado Mercedes-Benz OM-314, que além do Bandeirante foi usado no "Mercedinho" 608. Apesar da mesma potência absoluta, com vantagem para o Kia em valores específicos (cv/l), há uma grande diferença nos valores do torque e respectivas faixas de rotação, de 18,5mkgf a 2200 RPM para o Kia e 24mkgf a 1800 RPM para o Mercedes-Benz.

Mesmo em motores de alta rotação podem-se notar significativas diferenças, que podem ser influenciadas pela diferença entre os sistemas de injeção (indireta ou direta), ausência ou presença de gerenciamento eletrônico e até pelos avanços na tecnologia do turbocompressor, como pode ser observado tomando por referência o último modelo do Ford Escort e o Ford Focus de 2ª geração atualmente feito na Argentina. Enquanto o velho Escort podia ser encontrado no exterior com um motor 1.8L com turbo de geometria fixa, injeção indireta 100% mecânica e modestos 70cv a 4500 RPM e aproximados 14mkgf a 2500 RPM, o mesmo propulsor atualizado com injeção direta eletrônica do tipo common-rail, turbo de geometria variável, intercooler e 115cv a 3700 tem o torque de generosos 28mkgf entregue já a partir de 1900 RPM, característica mais próxima dos motores de baixa rotação.

E apesar de serem mais indicados para veículos leves, alguns motores Diesel de alta rotação também são aplicados a utilitários como o antigo GMC 5-90 baseado no Isuzu NLR, equipado com motor Isuzu 4JG2 de 3.1L, injeção indireta, 83cv a 3400 RPM e torque de 19mkgf a 2300 RPM, ou o Agrale Furgovan 6000 que usava o motor MWM Sprint 4.07 TCA de 2.8L, com injeção direta, turbo e intercooler 132cv a 3200 RPM e um saudável torque de 34mkgf a 1800 RPM. Nesses casos, o peso do motor no mínimo 100kg mais leve que um de baixa rotação acaba contribuindo para um melhor balanceamento de peso entre os eixos, favorecendo a dirigibilidade mesmo quando o veículo encontra-se vazio, e tirando um peso morto que acaba reduzindo a capacidade de carga, favorecendo a rentabilidade em operação comercial...

Na prática, tanto motores de alta rotação quanto de baixa rotação apresentam vantagens que devem ser ponderadas de acordo com a aplicação, visando conciliar a já conhecida economia do Diesel com um desempenho satisfatório.

2 comentários:

  1. Faz 3 meses que eu comprei uma besta com motor e caixa de opala a alcol mas quero reverter para diesel. É melhor ir de motor original ou tem algum de baixa rotação que sirva nela?

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    Respostas
    1. É uma aplicação mais complicada por conta do espaço disponível para o motor. É mais fácil encontrar um de alta rotação que dê certo, pode ser tanto o original quanto algum outro.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html