Um país com forte vocação agroindustrial, e muito dependente do transporte rodoviário, na teoria deve ser particularmente receptivo a alternativas para diminuir a dependência pelo óleo diesel convencional derivado do petróleo, mesmo com as incoerentes restrições ao uso de motores Diesel em veículos leves como ocorre no Brasil há quase 40 anos. No entanto, uma série de fatores tem se mostrado particularmente desfavoráveis a uma participação mais ampla do biodiesel na matriz energética do transporte comercial no país.
Não seria equivocado atribuir ao cenário político um peso maior nesse contexto, tanto pela constante esquiva diante de qualquer argumento favorável à liberação do Diesel para veículos leves quanto pela atuação da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) impedir um cenário competitivo que acabaria com muitas tetas para o PT e a base aliada seguirem mamando na Petrobras. Restrições à livre comercialização do etanol, do biogás e do biodiesel puro (B100) diretamente do produtor para o consumidor final, ou mesmo para distribuidores e revendedores retalhistas que não tenham autorização da ANP para operar, acabam por contribuir para desacreditar os biocombustíveis ao tornar os preços menos competitivos diante dos combustíveis fósseis, facilitando o achaque praticado pela ANP contra as usinas nos ditos "leilões" de biodiesel. Enquanto isso, cientistas brasileiros exportam tecnologia para produção do biodiesel até para os Estados Unidos. Uma usina em Gilman, Illinois, e outra em Durant, Oklahoma, já incorporam métodos de produção desenvolvidos por pesquisadores da USP sob coordenação do professor Miguel Dabdoub, que trabalha com biodiesel desde 1989.
Outro ponto a ser considerado é o comodismo de grande parte do público brasileiro, que ainda se ilude com as promessas de economia e supostos benefícios ambientais dos carros híbridos, ainda que tenham uma relação custo/benefício menos favorável do que o Diesel. Outros tantos ainda nutrem alguma esperança diante do etanol como uma opção mais sustentável que a gasolina e o próprio óleo diesel convencional, mesmo com a sabotagem institucionalizada pelo atual governo contra o setor sucroalcooleiro e um maior consumo em volume quando comparado com os combustíveis fósseis tanto em motores de ignição por faísca quanto por compressão. Há ainda a percepção equivocada de que os motores Diesel seriam mais "sujos",
reforçada pela imagem estereotípica de caminhões e ônibus com motor
desregulado soltando uma densa fumaça preta, no entanto os sistemas de
injeção e gerenciamento eletrônico mais avançados aplicados à nova
geração de motores tornam o processo de combustão mais eficiente e limpo.
Até o gás natural, que ainda apresenta uma disponibilidade mais limitada fora dos grandes centros, é às vezes apresentado de forma antagônica ao Diesel, apesar de apresentar ainda um manejo mais complexo e depender da ignição por faísca ou de alguma injeção-piloto de um combustível que sofra auto-ignição ao operar no ciclo Diesel. Para operadores comerciais que hoje encontram uma disponibilidade mais limitada de veículos leves movidos a gás natural direto de fábrica, principalmente taxistas, há ainda o problema da perda de garantia ao ter o veículo convertido por empresas que não tenham a homologação do fabricante, e ainda as burocracias dos testes hidrostáticos dos cilindros de gás que acabam tirando os veículos de circulação por mais tempo para manutenção. Nesse caso, o Diesel seria uma opção mais prática, e o biodiesel viria a atender à necessidade de um combustível mais limpo e menos afetado pela volatilidade dos preços do petróleo.
O biodiesel tem a vantagem de ser produzido a partir de uma infinidade de óleos vegetais, possibilitando a seleção de matérias-primas mais adequadas às diferentes realidades regionais do país, e também gorduras de origem animal, com destaque para o sebo bovino proveniente do processamento industrial de carnes que já é usado em 15% da produção nacional de biodiesel. Até óleo de fígado de peixe pode ser utilizado, o que seria uma boa alternativa para o uso em embarcações de pesca artesanal, e apesar da escala de produção muito reduzida já aproveitaria um material antes considerado um resíduo em função do valor comercial irrisório. Outra opção relativamente fácil de implementar visando a obtenção de matéria-prima para a produção de biodiesel seria o cultivo de algas oleaginosas, valendo-se da experiência já desenvolvida em função da criação de ostras nas "fazendas marinhas" de Florianópolis.
Não resta dúvidas de que o biodiesel é uma alternativa tecnicamente viável e racional, cuja aplicação em larga escala no Brasil só encontra impedimentos de ordem meramente administrativa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seja bem-vindo e entre na conversa. Por favor, comente apenas em português, espanhol ou inglês.
Welcome, and get into the talk. Please, comment only either in Portuguese, Spanish or English.
- - LEIA ANTES DE COMENTAR / READ BEFORE COMMENT - -
Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.
It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.
Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html