Sem entrar no mérito de uma eventual facilitação para o fechamento do ciclo do carbono por meio da transição dos combustíveis fósseis para os renováveis, bem como as dificuldades de ordem técnica no âmbito do controle de emissões, não é possível desconsiderar desde aspectos mais objetivos como a maior rapidez no reabastecimento de um tanque de combustível comparada à recarga de uma bancada de baterias, até outros mais subjetivos como oscilações no cenário político ou uma associação entre o som de um motor e o prazer ao dirigir. Afinal, quem garante que os "snowflakes" que tem tomado de assalto as casas legislativas mundo afora não podem ser substituídos por uma geração menos covarde que procure restaurar valores morais sólidos ao invés de se preocupar com encenação de virtude antes que se cumpram os prazos delineados para que a venda de veículos movidos a gasolina ou óleo diesel seja extinta ou restrita aos híbridos? De fato, caso não sejam repelidas algumas pautas motivadas por um ambientalismo de fachada que está vinculado a outros discursos da esquerda-caviar, o próprio futuro da humanidade acaba se revelando nebuloso...
Naturalmente, o poderio econômico da indústria automobilística é apontado como um pretexto para a manutenção do status-quo, mas é importante olhar além da verdadeira paranóia que é a demonização do capital. Ou alguém em sã consciência acredita que seria fácil promover uma rápida requalificação profissional de cerca de 10% da população economicamente ativa em países fortemente dependentes desse setor como é hoje o caso da Alemanha? Em meio à falência iminente do welfare-state, é pouco provável que o remanejamento de um contingente tão expressivo de trabalhadores e o amparo a ser destinado às respectivas famílias nesse ínterim não venham a intensificar o risco de um colapso da seguridade social nos países que viriam a ser mais impactados por uma erradicação dos motores de combustão interna.
A crescente participação de fabricantes chineses em diversos mercados automobilísticos, inclusive no Brasil, bem como a grande variedade de modelos que vão desde carros com aparência mais próxima do convencional como o BYD e6 e ônibus urbanos como o BYD k9 até pequenos triciclos utilitários produzidos por uma infinidade de fabricantes menos conhecidos, poderia levar a crer que a barreira do custo inicial mais elevado em comparação a similares com motor de combustão interna estaria em vias de ser amortizada tanto pela escala de produção quanto pela mão-de-obra barata. No entanto, em que pese a predominância no Brasil da energia elétrica fornecida pelas hidrelétricas e tida como limpa, é importante ressaltar aspectos que vão desde a precariedade do sistema elétrico nacional e as infames "bandeiras tarifárias" na conta de luz quando as usinas termelétricas são acionadas durante períodos de estiagem, até o potencial ainda inexplorado de alguns resíduos agropecuários que poderiam ser aproveitados como matéria-prima para etanol, biodiesel ou biogás/biometano. Também é importante refletir sobre a idéia equivocada de que um veículo elétrico vá requerer menos manutenção que um análogo com motor de combustão interna ou vá ser tão fácil de fazer gambiarra quanto alguns eletrodomésticos, tendo em vista que motores elétricos e respectivos controladores apresentam diferentes graus de complexidade, e alguns tipos de bateria vão ser mais sensíveis às condições ambientais e requerer diferentes cuidados durante o manejo.
Vale destacar que a China tem demonstrado uma certa ambiguidade na tentativa de conciliar a busca pela segurança energética para uma frota em constante crescimento e evitar que contaminação do ar nas grandes metrópoles ganhe contornos mais sérios. Por exemplo, se por um lado o desenvolvimento de veículos elétricos e do crescimento na participação da energia fotovoltaica em substituição ao uso da gasolina e da geração de eletricidade a partir do carvão mineral, por outro não se pode esquecer as controvérsias a respeito dos elevados índices de poluição quando as fábricas chinesas são comparadas às concorrentes em países com normativas ambientais mais rígidas. A possibilidade de agregar valor aos excedentes de produção de milho dos agricultores chineses, que acabam sendo comprados pelo governo e apenas estocados para promover um controle artificial dos preços, vem sendo convidativa ao desenvolvimento de uma produção de etanol, podendo aproveitar ainda o "grão de destilaria" na formulação de rações pecuárias de modo a suprir as demandas de um mercado que tem se revelado cada vez mais ávido por proteína animal.
Evidentemente, fatores culturais se demonstram tão importantes quanto motivações de ordem técnica nas decisões administrativas de governos e no planejamento estratégico de indústrias, podendo às vezes levar a questionamentos quanto à real adequação de tais medidas às necessidades do usuário final. Portanto, mesmo diante de tanta ilusão em torno da mobilidade elétrica, pode-se facilmente deduzir que existem alguns desafios que não seriam facilmente transpostos com o imediatismo de alguns políticos. Enfim, as pressões para erradicação do motor de combustão interna em veículos se revelam mais distantes da realidade do que poderiam inicialmente parecer.
Usar motor elétrico não me parece ser um problema, mas garantir o suprimento de energia parece ser mesmo mais difícil do que os ecologistas de plantão tentam mostrar.
ResponderExcluirTentar impor os veículos eléctricos como uma "salvação" para a mobilidade é um devaneio dos socialistas. Mesmo que se substitua o gasóleo por óleo velho de fritar batatas, já estaria melhor para trabalhar ao campo.
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