quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Eletrificação da frota governamental de um país com grandes extensões territoriais: uma idéia impraticável

Em meio a tantas polêmicas envolvendo a mais recente eleição presidencial americana, com Joe Biden sendo declarado eleito e empossado mesmo em meio a denúncias de fraude, o início da ocupação do cargo por ele também já foi marcada por medidas questionáveis sob um viés estritamente técnico, e que também colocam em dúvida a aptidão para exercer essa função tão crítica não só no tocante aos Estados Unidos mas que acaba por afetar todo o cenário político mundial. Uma das pautas mais estúpidas, ainda que talvez num primeiro momento não pareça figurar entre as mais perigosas para a própria segurança nacional dos Estados Unidos, foi a volta ao Acordo Climático de Paris ratificado em 2015 quando o cargo ainda estava nas mãos de Barry Soetoro Barack Hussein Obama Junior. Logo após o presidente Donald Trump deixar o posto, que exerceu entre o período Obama e a posse de Joe Biden, o atual ocupante do cargo não só voltou ao Acordo de Paris como deu um passo ainda mais largo ao anunciar planos ambiciosos para substituir mais de 600.000 veículos governamentais tanto na esfera federal quanto nas estaduais e municipais por modelos totalmente elétricos, além da conversão de cerca de 500.000 ônibus escolares.

Não é de hoje que existem iniciativas visando uma maior participação de veículos elétricos no mercado americano, principalmente na Califórnia onde algumas preocupações inicialmente legítimas quanto à contaminação ambiental tomaram proporções questionáveis a ponto de tornarem-se impraticáveis e até ilógicas em determinados momentos. Um súbito incremento na demanda por automóveis e utilitários elétricos motivado somente por preferências políticas, como diga-se de passagem é o caso da Califórnia onde normalmente o eleitorado tende a ser mais favorável ao partido no qual Joe Biden é afiliado, pode até parecer suficiente para impulsionar o surgimento de uma demanda tanto da parte de instituições públicas quanto de grandes frotistas do setor privado que vislumbrem algum benefício, mas permanece necessário analisar fatores que vão desde as condições operacionais encontradas em diversas atividades até o suprimento da energia elétrica para assegurar a prontidão em algumas funções mais críticas como serviços de emergência e forças militares. De fato, em algumas situações pode até ser plausível o uso de veículos 100% elétricos, embora sejam demasiadamente especializados para um uso mais regionalizado e com intervalos de tempo suficientemente previsíveis para a recarga das baterias, ao passo que o motor de combustão interna permanece desejável em outras condições nem que seja somente para acionar um gerador on-board em alguns tipos de veículo híbrido plug-in.

Enquanto alguns alegam que a eletricidade seria mais versátil numa comparação até a biocombustíveis, tendo em vista que um motor elétrico não vá fazer distinção entre a energia gerada por usinas nucleares ou hidrelétricas por exemplo enquanto num motor "flex" tende a haver uma diferença no desempenho e no consumo alternando entre a gasolina e o etanol, ainda é justificável considerar a maior viabilidade da permanência do motor de combustão interna na matriz energética do transporte. Se por um lado é ainda mais indispensável em frotas militares que trafeguem por regiões onde não só a energia elétrica tem um fornecimento extremamente precário mas também a variação nas especificações dos combustíveis torna desejável um motor com capacidade multicombustível hoje predominantemente baseado na tecnologia dos motores Diesel tanto para os veículos quanto para equipamentos especiais como grupos geradores instalados nas bases militares tanto em território americano quanto nas missões em outros países, por outro convém recordar como intempéries podem prejudicar o fornecimento de eletricidade em algumas localidades mesmo com os Estados Unidos sendo um país desenvolvido. Só a temporada de furacões que geralmente afeta mais intensamente a Flórida já seria um motivo suficiente para considerar estúpida a hipótese de serviços como polícia, bombeiros e ambulâncias ficarem impossibilitados de atender às emergências, especialmente em momentos de maior vulnerabilidade, e portanto seria menos inoportuno eventualmente recorrer a veículos híbridos plug-in.

Também se faz necessário frisar que tornou-se especialmente problemática a apresentação de sistemas híbridos como se fossem inerentemente antagônicos ao Diesel, inibindo alternativas que já até poderiam otimizar o uso de recursos energéticos para operadores cujas condições de rodagem inviabilizam que se recorra à eletrificação total das frotas, ou cuja abrangência geográfica da operação exija a versatilidade que não se replica sem a capacidade de gerar energia a bordo com o auxílio de um motor de combustão interna. E mesmo que o desenvolvimento de uma nova infra-estrutura especificamente para recarga das baterias de veículos elétricos já esteja em curso, é relevante considerar o impacto ambiental que alguns sistemas de geração de eletricidade apresentam não apenas a curto prazo mas também de médio a longo prazo, tanto pela complexidade que os sistemas de geração de energia alegadamente renováveis possam apresentar quanto pela proporção entre a área ocupada e a capacidade instalada. A utopia quanto ao uso de geradores eólicos e painéis solares eventualmente suprir os aumentos na demanda pela eletricidade a serem causados por frotas maciçamente eletrificadas acaba sendo o menor dos problemas, considerando tanto a necessidade de distribuir pontos de recarga rápida de baterias abrangendo um raio que permita à operação de veículos elétricos ter alguma previsibilidade no tocante à distância percorrida entre pontos de apoio quanto o fato de ser mais difícil trocar uma bancada de baterias por outra com mais carga em comparação a reabastecer um tanque de combustível com auxílio de uma "Jerry can" para retornar a um local com infra-estrutura mais consolidada.

Ao anunciar um plano tão ambicioso sem definir um prazo concreto, Joe Biden suscita dúvidas quanto à viabilidade de eletrificar totalmente a frota governamental dos Estados Unidos, e a situação até guarda algumas semelhanças com outros países como a Austrália e até o Brasil, apesar das disparidades entre a economia americana e a brasileira ditarem diferentes graus de dificuldade técnica e logística. Não sendo necessário mencionar as controvérsias envolvendo o etanol tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, a bem da verdade o uso de biocombustíveis ainda pode ser mais "sustentável" inclusive a longo prazo já considerando uma maior eficiência no fechamento dos ciclos do carbono e do nitrogênio aproveitando a biomassa para fins energéticos ao invés de simplesmente degradar liberando na atmosfera o metano que é o principal componente do gás natural, e que alguns sistemas de cogeração por microturbinas podem usar como combustível mesmo com as impurezas contidas no "biogás" sem a purificação para aumentar a concentração de metano que viabilize o uso do biometano em motores convencionais. Enfim, mesmo que alguns acreditem que a intenção seja boa, a eletrificação total de frotas governamentais em países de grande extensão territorial permanece inviável.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html