segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Lada Niva: difícil justificar a falta de um motor Diesel desde o início

Um modelo tão polêmico quanto icônico, o Lada Niva se destaca pela reconhecida aptidão off-road que permitiu conquistar mercados de exportação até em regiões mais alinhadas à OTAN mesmo em meio à Guerra Fria. Nem o fato de ter permanecido sem qualquer opção de motor Diesel de '77 até '99 impediu que conquistasse fãs na Europa Ocidental, embora de '99 a 2007 contasse com o motor Peugeot XUD9 já considerado defasado em meio à crescente sofisticação técnica observada numa geração subsequente de motores turbodiesel de injeção direta que se firmavam na preferência dos consumidores generalistas. Mas se por um lado o desinteresse do público russo por motores Diesel devido a um preço inicial maior e eventuais dificuldades na partida a frio em condições extremas podia ser visto como uma justificativa conveniente para que o Niva tivesse seguido por uma parte considerável do ciclo de produção só com o motor a gasolina, em mercados de exportação tão diversos quanto a Inglaterra onde era comercializado como Lada Cossack até '96 ou o Brasil onde uma operação comercial confusa e a precariedade da rede de assistência técnica deram um contorno sombrio à presença da Lada na década de '90 possivelmente um motor Diesel mesmo que fosse tão rústico como o Perkins 4-108 poderia ter favorecido o modelo.

No caso específico do Brasil, cuja operação local da Lada estava subordinada a uma trading localizada no Panamá, o fato de alguns motores originais russos terem vindo com algumas falhas injustificáveis como a falta de alguns anéis de segmento dos pistões já seria um motivo mais que suficiente para que se preferisse um motor proveniente de outsourcing, que diga-se de passagem foi uma prática relativamente comum entre importadores de veículos soviéticos na Europa Ocidental até a década de '80 visando tanto atender à preferência por uma maior sofisticação entre motores a gasolina quanto sanar uma ausência de motores Diesel em alguns modelos. Levando em consideração também as acusações de dumping feitas pelo empresário João Augusto Conrado do Amaral Gurgel (1926-2009) quando começavam a surgir as perspectivas para uma reabertura do mercado local a veículos importados, fica ainda mais difícil ignorar a incoerência de uma operação que nem ao menos tentava aproveitar a vantagem competitiva conferida pela tração 4X4 para a eventual homologação de versões Diesel. Por mais que o preço inicial tenha sido o grande atrativo durante a incursão da Lada no mercado brasileiro, e certamente a opção por um motor Diesel causaria um impacto bastante significativo nesse aspecto, um descaso na montagem dos motores a gasolina originais a ponto de chegarem faltando peças tão importantes como anéis de segmento seria mais um bom motivo além do menor consumo de combustível para considerar até um motor Diesel que já era apontado de forma um tanto exagerada como "defasado" desde a década de '70 como o Perkins 4-108.

Além do hábito dos importadores na Europa Ocidental de fazerem uma "dieselização" dos automóveis soviéticos por conta própria já ter soado como um bom precedente para uma eventual disponibilização do motor Perkins 4-108 que pudesse já ter atendido bem ao Lada Niva, vale destacar que o modelo teve também a montagem no regime CKD em países tão diversos quanto a Grécia (de '85 a '95) e o Equador (entre os anos 2000 e 2009) além do Uruguai (como Bognor Diva Furgón entre 2000 e 2007 com motor Peugeot DW8) leva a crer que a dependência por um motor a gasolina poderia ter sido eliminada antes. Naturalmente, para seguir oferecendo ao menos uma opção Diesel ou turbodiesel para os mercados de exportação acabaria sendo necessário abdicar da rusticidade em função das mesmas regulamentações de emissões que levaram à eliminação do carburador e do platinado no motor a gasolina com a introdução de injeção e ignição eletrônicas que posteriormente também receberiam atualizações, mas não há como negar que o Lada Niva poderia ter se beneficiado desde o início da produção mesmo que com um motor demasiadamente rústico aos olhos do público generalista. Enfim, mesmo tendo cativado um público que mantém o interesse pelo modelo e despertando a curiosidade de entusiastas e só ter passado a dispor da opção Diesel quando o motor oferecido estava mais distante das expectativas do público nos mercados que teoricamente seriam mais receptivos, é difícil justificar que não tenha sido oferecido um motor até eventualmente mais adequado à proposta do modelo durante o início do ciclo de produção.

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It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

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