quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Teria o Gol Geração 3 influenciado tão significativamente uma restrição às opções Diesel em veículos destinados a mercados "emergentes"?

O mercado brasileiro tem uma série de peculiaridades que transcendem a questão das restrições ao uso de motores Diesel em veículos leves, abrangendo desde aspectos como a atual prevalência dos motores "flex" mesmo em meio a um descrédito do etanol até o desenvolvimento de projetos específicos para as condições regionais antes que carros destinados a mercados "emergentes" se tornassem mais comuns a nível mundial. Vale até lembrar o caso da Volkswagen, que por bastante tempo teve no Gol um grande destaque em diversos mercados latino-americanos e até em algumas partes da África, tendo chegado até à Rússia, à China e ao Irã durante a "Geração 3". E enquanto no Brasil os motores 1.0 beneficiados pela alíquota de IPI menor, além de versões inicialmente a álcool e posteriormente "flex" em outras faixas de cilindrada que também foram beneficiadas por uma tributação diferenciada mantida mesmo após o fim do ProÁlcool, é conveniente lembrar que em países vizinhos como Argentina e Uruguai houve um forte destaque ao Diesel mesmo que a austeridade do modelo preconizasse o uso de motores mais rústicos de aspiração natural hoje a princípio inviáveis de enquadrar em normas de emissões mais atuais.
Se por um lado no exterior era incontestável a prevalência de motores com uma concepção mais austera no Gol durante a dita geração 3, que na prática era uma reestilização da geração anterior, por outro lado no Brasil houve algum espaço para experiências visando obter um rendimento menos insatisfatório sem exceder o limite de cilindrada até 1.0L definido para os carros "populares". Antes que fossem revisadas as alíquotas de IPI no final de 2002, fazendo os motores com duas válvulas por cilindro numa faixa de cilindrada imediatamente superior ficarem menos desfavorecidos nesse aspecto comparados a um motor 1.0 com 4 válvulas por cilindro, agregar um grau de sofisticação para o qual o público generalista ainda se mostrava despreparado a seguir planos de manutenção mais criteriosos foi um tiro no pé, a ponto de hoje ainda ser comum encontrar um Gol Geração 3 com qualquer motor de 8 válvulas a gasolina ou flex em um estado de conservação melhor que o da maioria dos 1.0 de 16 válvulas, mesmo considerando os aspirados e ignorando a hoje rara versão Turbo que praticamente sumiu do mapa. Nesse aspecto, apesar de mais recentemente ter se tornado relativamente comum o uso do turbocompressor em motores 1.0 de modo a atender às necessidades de veículos em segmentos mais prestigiosos e usar o mesmo benefício fiscal atribuído aos carros "populares", por volta de 20 anos atrás uma massificação do turbo junto aos adeptos de motores Diesel estava bem mais consolidada em contraste à percepção de maior austeridade em torno de veículos de entrada.
A bem da verdade, hoje um motor com 4 válvulas por cilindro só permanece estigmatizado em modelos antigos em parte pela inconsistência dos históricos de manutenção e a relativa escassez de mão-de-obra qualificada, bem como mudanças na cultura automotiva brasileira como uma maior atenção a planos de manutenção preventiva e o uso de insumos como óleos lubrificantes de melhor qualidade para prevenir a borra de óleo e outros problemas que causavam uma má fama aos motores de 16 válvulas. Já entre os turbodiesel modernos, o custo de alguns dispositivos de controle de emissões como o filtro de material particulado (DPF) e eventuais incompatibilidades com teores elevados de enxofre no óleo diesel ou até com algumas misturas de biodiesel em concentrações mais altas fomentam a percepção dos motores de ignição por faísca com aspiração natural e injeção sequencial como mais "à prova de burro" tanto com o uso de gasolina e álcool/etanol quanto em conversões para gás natural, além do turbocompressor exigir alguns cuidados com o óleo lubrificante e também ter algumas peculiaridades na manutenção. Enfim, se por um lado uma parte mais austera do público generalista ainda deseja o caráter utilitário de um motor turbodiesel moderno em um veículo de pretensões mais modestas em meio à atual histeria em torno dos SUVs, e por outro o Gol quando ofereceu motores Diesel contou neles somente com a aspiração natural em contraste com o uso do turbo num motor 1.0 a gasolina exclusivo para o Brasil, o Gol "Geração 3" é um retrato de algumas transições tecnológicas e de mercado ao redor dos últimos 20 a 25 anos.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html