sexta-feira, 22 de abril de 2022

Produção de biometano a partir de grãos de destilaria e outros subprodutos do etanol de milho e outros cereais: podem justificar aos olhos do público generalista uma busca por alternativas à cana-de-açúcar?

Embora o etanol seja por si só um combustível polêmico, e mais desacreditado aos olhos do público que dos dirigentes da indústria automobilística instalada no Brasil além de estar ganhando destaque até em países à primeira vista um tanto improváveis como a Índia, a forte dependência pela cana-de-açúcar na produção brasileira é um problema, tanto por oscilações no custo e disponibilidade na entressafra quanto pelo impacto percebido sobre a disponibilidade de terras agricultáveis para cultivo de alimentos. Ainda que outras matérias-primas como o milho amplamente usado nos Estados Unidos tenham um potencial para minimizar tais problemas, tendo em vista um eventual uso do grão de destilaria como substrato de alto teor proteico para a formulação de rações pecuárias, o brasileiro médio é condicionado pela mídia generalista a considerar somente o rendimento em litros de etanol por hectare para mensurar o sucesso da produção baseada na cana em detrimento de outros cultivares para os quais o combustível alternativo seja apenas um dos derivados a serem obtidos pelo beneficiamento industrial. O recente caso da destilaria da William Grant & Sons na cidade escocesa de Dufftown, onde o whisky Glenfiddich é feito, chama a atenção pelo uso do grão de destilaria como matéria-prima para a produção de biometano usado na frota de caminhões da empresa, ao invés de ser vendido para servir à alimentação de gado que é a destinação mais frequente para esse subproduto também no caso de outros cereais como a cevada e o trigo que são os mais usados na produção de bebidas alcoólicas "puro malte".

A bem da verdade, tal situação suscita dúvidas também quanto à popularização do vegetarianismo e de vertentes mais radicais como o veganismo, por mais que o consumo de carne e derivados ainda seja um aspecto cultural relevante em algumas regiões tanto no Brasil quanto no exterior justificando que o etanol de milho seja implementado com relativa facilidade, como poderia ser o caso no Rio Grande do Sul e nos estados do Centro-Oeste por exemplo, embora uma verticalização possa ser conveniente para diminuir os custos da logística. E como o biometano já pode ser usado com os sistemas de combustível destinados ao uso de gás natural sem alterações, sendo também injetado sempre na fase de vapor, outro aspecto que chama a atenção é a possibilidade de simplificar os sistemas de controle de emissões, tendo em vista uma eliminação da necessidade de um filtro de material particulado, bem como uma menor formação de óxidos de nitrogênio (NOx) que permanece vantajosa especialmente a motores de ignição por faísca com injeção multiponto sequencial no coletor de admissão. Portanto, em que pesem o maior volume ocupado pela instalação de um sistema de gás natural veicular e um eventual impacto sobre a capacidade de carga, e ainda considerações quanto à segurança como a necessidade do teste hidrostático periódico para validação dos cilindros em função da alta pressão de armazenamento do combustível que já levaram até taxistas em cidades como Florianópolis a abandonarem o uso do gás natural motivados também pelo alegado incremento na depreciação do veículo, para alguns operadores que possam tanto produzir o biometano por conta própria quanto gerenciar todo o processo de abastecimento da própria frota a destinação do grão de destilaria a essa finalidade já soa mais fácil de justificar.

Embora seja problemático o uso do biometano como uma bandeira contra uma liberação do Diesel para veículos leves sem distinções pelas capacidades de carga e passageiros ou tração, bem como o eventual prejuízo que um sistema de combustível mais volumoso e pesado possa causar à aptidão operacional de alguns utilitários, vale lembrar que a crescente sofisticação das gerações mais recentes tanto de motores turbodiesel quanto dos dispositivos de controle de emissões leva uma parte do público generalista a se acomodar em torno da percepção dos motores de ignição por faísca como inerentemente mais simples, o que acaba favorecendo os motores "flex" mesmo com o etanol hoje desacreditado e o gás natural mais restrito a algumas regiões. Naturalmente um aproveitamento da produção para interiorizar o biometano, e integrar aos gasodutos que já servem alguns dos principais eixos de transporte rodoviário e os grandes centros urbanos com gás natural, também poderia parecer útil para justificar o etanol de milho junto ao público generalista ao ser considerado o saldo energético entre o que se aplica do cultivo e colheita até a usina e os combustíveis a serem aproveitáveis, além do mais que a maior resistência à pré-ignição serve de pretexto para o uso de misturas mais pobres com o gás natural de modo que o rendimento em km/m³ também pese a favor. Logo, mesmo que no exemplo da William Grant & Sons o biometano seja tratado mais como um contraponto à hegemonia de motores turbodiesel no transporte pesado, vale destacar que no contexto brasileiro seria mais oportuno para diminuir a dependência do etanol pela cana-de-açúcar.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html