sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Por que ainda faria sentido tomar como referência o motor do Fusca como parâmetro para o desenvolvimento de um motor Diesel até uma faixa de 50cv?

Um daqueles motores que efetivamente mudaram o mundo, tendo equipado desde carros compactos de pretensões familiares como o Fusca até utilitários primariamente destinados ao trabalho mas que ainda hoje conquistam entusiastas até para uso recreativo como a Kombi que frequentemente serve como base para motorhomes e campervans, o motor boxer com 4 cilindros refrigerado a ar projetado para o Fusca é um exemplo de simplicidade construtiva e com uma instalação que pode ser considerada compacta até os dias de hoje, mesmo que a disposição de motor longitudinal para a qual foi desenvolvido tenha caído em desuso nos veículos compactos mundo afora. E apesar de ser basicamente impossível regularizar um Fusca que venha a ser convertido para Diesel no Brasil, além da própria Kombi ter esbarrado em alguns entraves burocráticos que limitaram tal opção a versões estritamente cargueiras, alguns fatores fazem do motor do Fusca um improvável parâmetro que viesse a nortear melhores soluções em faixas de potência nas quais a oferta de motores Diesel é demasiado precária ou com relação peso/potência inadequada. As diferentes especificações que o motor boxer da Volkswagen teve desde um precário início da produção às vésperas da II Guerra Mundial, e portanto remanejado para atender às necessidades militares alemãs sob a ditadura nacional-socialista até finalmente alcançar o público civil generalista pela valorosa ação do interventor das forças de ocupação britânicas que ficou encarregado da remoção dos escombros da fábrica de Wolfsburg mas preferiu retomar a produção até mesmo para atender a necessidades logísticas das próprias forças britânicas, embora o interventor major Ivan Hirst eventualmente não tivesse idéia da magnitude que a retomada da produção do Fusca e do motor boxer teriam a nível mundial...

Pode parecer muito mais simples considerar opções como o álcool/etanol cuja experiência de sucesso visando reduzir a demanda por gasolina no Brasil à época do regime militar acabou infelizmente sendo usada até como pretexto para desincentivar experiências no âmbito dos motores Diesel em aplicações leves, ou o gás natural e eventualmente até o gás liquefeito de petróleo (GLP - "gás de cozinha") muito usado em equipamentos especializados para operação em ambientes com pouca renovação de ar como instalações industriais. Naturalmente seria difícil competir com o motor do Fusca no tocante à leveza, e as próprias diferenças operacionais entre o ciclo Otto aplicado a motores de ignição por faísca e o ciclo Diesel acabariam por ser refletidas desde o uso de diferentes ligas metálicas na produção dos motores até eventuais reforços que viessem a ser necessários para suportar as pressões internas mais intensas em um motor Diesel, embora tenham sido feitas tentativas com os mais diversos graus de sucesso visando o atendimento a uma demanda tão específica. Considerações quanto à refrigeração também continuariam relevantes no intuito de manter um volume reduzido da instalação, com a configuração de refrigeração a ar originalmente usada no motor do Fusca e também em alguns motores Diesel com cilindrada abaixo de 1.6L e potência até aproximadamente 30cv que ainda caberiam no compartimento do motor no Fusca ou na Kombi tendo recorrido a tal expediente, embora o peso ainda fosse um problema mesmo diante de alguns aspectos visando uma simplificação construtiva como a configuração de 2 cilindros verticais muito usada nos motores de pequenos tratores e outros equipamentos especializados, lembrando que a posição horizontal do motor Volkswagen boxer do Fusca impõe um desafio maior para as substituições em função da pequena altura mesmo considerando a versão com a "capelinha" alta para o alternador e a ventoinha de refrigeração forçada que o Fusca e a Kombi usavam.

Haverá certamente quem repute contraproducente a busca por um motor rústico porém compacto e leve na medida do possível até uma faixa de 50cv que viesse a tomar como parâmetro básico aplicabilidade a veículos apontados como "defasados" a exemplo do Fusca e da Kombi, que no entanto permanecem muito comuns nas ruas e estradas brasileiras atendendo a usuários com os mais variados perfis, embora a própria utilização de motores Volkswagen também em aplicações tão variadas quanto embarcações e dispositivos estacionários/industriais denota haver certamente espaço para um motor Diesel direcionado especificamente a ser uma opção plug-and-play para substituir o venerável boxer em repotenciamentos, e outras aplicações que viessem em sequência também seriam obviamente beneficiadas. E caso ainda fosse tentada uma aplicação para repotenciamento até em alguns veículos mais modernos, para os quais levar em consideração toda a parafernália de controle de emissões como catalisadores e eventualmente o filtro de material particulado (DPF) além de gerenciamento eletrônico pudesse dar a impressão que o molho estaria ficando mais caro que o peixe, é natural que algumas características como o comando de válvulas no bloco e sincronizado diretamente por engrenagens tal qual no motor do Fusca acabariam sendo apreciadas tanto para resgatar a durabilidade e simplificar a manutenção de médio a longo prazo, como já ocorre em motores especificamente desenvolvidos para usos fora do segmento automotivo em faixas de potência e cilindrada próximas às que já foram atendidas pelo boxer da Volkswagen. Enfim, se a antiguidade parece tornar redundante o boxer como balizador para o desenvolvimento de um motor Diesel na faixa de 50cv, a variedade de aplicações alheias ao segmento veicular evidencia ser adequado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja bem-vindo e entre na conversa. Por favor, comente apenas em português, espanhol ou inglês.

Welcome, and get into the talk. Please, comment only either in Portuguese, Spanish or English.


- - LEIA ANTES DE COMENTAR / READ BEFORE COMMENT - -

Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html