terça-feira, 18 de junho de 2013

Diesel: uma alternativa válida para os carros "populares"?

O mercado automobilístico brasileiro, assim como em outros países "emergentes", acaba tendo algumas particularidades, como o caso dos carros "populares", que contam com tributação diferenciada baseada arbitrariamente na cilindrada. Motores até 1.0L acabaram conquistando um expressivo market-share devido a essa característica, e apesar do desempenho mais contido ficar menos incoerente quando restrito a um hatch compacto como o Fiat Palio, acabaram ganhando espaço até em outros segmentos, desde sedãs até furgões compactos como o Renault Kangoo que contou com versões de motor 1.0L feitas na Argentina exclusivamente para o mercado brasileiro enquanto para qualquer outro país um motor 1.2L era o menor disponível.
Em muitos casos, tanto pelas relações de marcha muito mais reduzidas para garantir o mínimo de agilidade necessário para acompanhar o tráfego urbano ou ter retomadas que não se tornem um risco à segurança numa rodovia quanto pelo peso do veículo, além da faixa de rotação do pico de torque mais elevada visando uma maior potência, na prática o consumo de combustível não tem uma vantagem muito significativa, e a suposta economia no custo de aquisição é rapidamente deteriorada, tanto que alguns modelos como a Fiat Palio Weekend atualmente não contam com motor 1.0L nem sequer como opção.

Certamente seria mais difícil amortizar o custo inicial de um motor Diesel mais moderno e enquadrado nas atuais normas ambientais do que aconteceria com os vetustos 1.3L de 45cv e 1.7L de 60cv que foram usados na Fiat Duna Weekend (como a Fiat Elba era mais conhecida em mercados de exportação), mas pode-se assegurar que não é uma missão impossível. Mesmo o maior custo inicial trazido pela popularização do turbocompressor e dos modernos sistemas de gerenciamento eletrônico e controle de emissões, há outras brechas que podem ser exploradas pela engenharia para balancear o custo de produção mais favoravelmente aos motores Diesel e mantê-los como uma alternativa acessível ao consumidor.

Nada impede, por exemplo, uma maior modularidade no desenvolvimento de motores com diferentes quantidades de cilindros para atender a faixas de cilindrada mais variadas de modo a manter uma intercambialidade de alguns componentes internos, como acontecia no motor turbodiesel 1.5L de 3 cilindros usado pela Hyundai Matrix e em alguns outros Hyundai que tinham motor 2.0L de 4 cilindros. Nada impediria também até o desenvolvimento de um 1.0L com apenas 2 cilindros, que cairia como uma luva no HB20...
Convém recordar que uma menor quantidade de cilindros em comparação com o layout de 4 cilindros que tem predominado nos veículos de fabricação nacional, e que a própria Hyundai desafia com o 1.0L flex de 3 cilindros, acarreta em menos inércia e atritos internos, concorrendo para um incremento na eficiência do motor. Também considerando as curvas de torque mais planas, apesar da potência normalmente ainda permanecer ligeiramente menor que a de similares com ignição por faísca, um motor 1.0L turbodiesel ainda poderia ser uma opção plausível mesmo em comparação com um 1.6L flex de aspiração natural como o usado no Hyundai HB20X.

Um caso digno de nota é o do Chevrolet Spark, que na Índia é comercializado como Chevrolet Beat, e lá conta com um motor 1.0L turbodiesel de 3 cilindros, ao que tudo indica baseado no layout do 1.3L Multijet de 4 cilindros desenvolvido pela Fiat na época que a empresa italiana ainda mantinha a joint-venture com a General Motors. Apesar da potência de discretos 62cv, o torque na faixa dos 16m.kgf é ligeiramente superior ao do Chevrolet Sonic equipado com motor Ecotec 1.6L disponível no mercado brasileiro...

Considerando também o aspecto econômico e ecológico: ao invés de manter os adeptos do Diesel restritos a veículos com capacidade de carga ou tração superiores como uma Ford F-1000, que podem chegar na faixa dos 14km/l em trechos rodoviários no caso de alguns exemplares repotenciados com motor MWM de 3 cilindros usado nos caminhões Agrale da década de 80, para quem se dá por satisfeito com um veículo de porte menor como o Ford Fiesta existe a possibilidade de manter médias de consumo numa faixa que pode chegar aos 30km/l, beneficiados tanto pela aerodinâmica mais apurada quanto pelo peso menor e layout de transmissão com menos atritos internos, sem esquecer da adaptabilidade a combustíveis alternativos sem interferências no desempenho.

Logo, por mais que hoje em mercados latino-americanos o Diesel esteja se concentrando em segmentos de mais prestígio (e por conseguinte maior valor agregado) como o disputado pelo Fiat Bravo, e pareça menos atrativo em função do custo inicial, certamente ainda há vantagens que poderiam ainda ser apreciadas mesmo pelo consumidor que opta por um "popular" como o Palio...

10 comentários:

  1. Já vi uns Fuscas com motor a diesel adaptado, mas era daqueles que se usa em gerador de luz e bomba de poço em sítio. Nem o meu irmão que eu nunca vi mais louco por esses motores a diesel achava bom aquele motor num carro por causa do peso e eu não teria um por causa do barulho.

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    1. Já cheguei a cogitar o uso dum motor desse tipo num Baja, mas a relação peso/potência nesses motores estacionários é muito desfavorável. Tem muito motor de 1 cilindro a diesel entre 0.9L e 1.2L pesando mais de 140kg e mal chegam a 20cv. Muitos motores a diesel de alta rotação com 4 cilindros numa faixa de potência em torno de 60cv e cilindrada até 1.5L não chegam nos 140kg.

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  2. Boa tarde, um amigo meu aficionado por fiats teve 3 oggis e hoje usa um premio com motor sevel, porém tem dois motores fiasa parados que eram dos oggis, e numa conversa que tive com ele essa semana cogitamos a conversão de um desses motores fiasa para o ciclo diesel. Esse meu amigo foi para a Argentina no início do ano, e ficou maravilhado com os pequenos diesel da fiat que existem por lá. Então a dúvida que surgiu foi essa, é possível converter esses fiasa para o ciclo diesel? É viável? Quais são as peças necessárias?

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    1. Até houve quem fizesse essa adaptação no Fiasa 1.3, usando peças do 1.3 Diesel original, mas costumavam ter problema, principalmente vazamentos de óleo e queimas de juntas de cabeçote. Pode até valer a pena se for bem feito, mas eu particularmente prefiro motores de injeção direta, e o 1.3D original tinha injeção indireta.

      De modo geral, para converter um motor do ciclo Otto para Diesel, o básico é substituir o cabeçote por um específico para o ciclo Diesel, bem como o sistema de injeção completo com bomba, bicos, linhas de alta pressão e retorno, e eliminar o sistema de ignição por faísca, mas também pode-se recomendar troca de pistões por uns mais "cabeçudos" e bielas mais longas para obter uma maior compressão. Um motor de arranque de maior potência é altamente recomendado para vencer a maior inércia e compressão iniciais. Em alguns casos, também pode ser necessário substituir o virabrequim em função das pressões internas mais altas geradas no motor convertido ao ciclo Diesel e também para ampliar o curso das bielas. Para facilitar a partida a frio, podem ser usadas resistências elétricas conhecidas como "vela de pré-aquecimento", ou um único elemento aquecedor montado no coletor de admissão (grid-heater).

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  3. Lo conoci mejor al Fiat Palio en Sudáfrica, un auto bueno para la clase de los supermini, pero con motor 1.2 gasolinero. Si el ensamblaje de los Fiat en las Filipinas hubiera prosperado, creo yo que el motor 1.3D que lo usaba el Uno lo quedaría bien. Y no puedo dejar de notar a ese Uno brasileño más largo, ese lo iba a ser perfecto para usar como taxi, me acuerda al Bedford Harabas.

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    1. Já cheguei a ver Palio com o motor 1.3 Diesel no Uruguai, mas o 1.7 acabou tendo mais sucesso. Não custa nada lembrar que o Palio é um pouco mais pesado que o Uno.

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  4. Tinha que liberar logo motor a diesel em carro pequeno, os populares que diziam ser mais econômicos já bebem igual carro 1.6 e andam menos.

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  5. Até que faz sentido mesmo, mas o problema é que o governo nunca vai liberar uma coisa dessas.

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  6. Realmente os carros populares a diesel são muito mais viáveis, mas a questão aqui no Brasil é que esses carros populares com motor diesel, viriam num preco nada popular, lembrando que a tendência mundial esta voltada para carros híbridos e elétricos, mesmo assim, os preços praticados seriam nada populares, lembrando que no Brasil, e o país com carros mais caros do mundo, fevide a alta carga tributária, ou seja, carro a diesel no Brasil??? Infelizmente, so em outra existência...

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    1. A verdade é que o conceito de carro "popular" já foi totalmente desvirtuado no Brasil. Mas tendo em vista a recente difusão do turbo e da injeção direta até em veículos com motor de ignição por faísca na faixa de cilindrada dos "populares", a imagem de uma maior simplicidade inerente ao motor a gasolina ou aos flex na prática é ilusória.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html