quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Escândalo da Volkswagen: ramificações bem mais profundas

O recente episódio acerca da trapaça da Volkswagen nos testes de emissões para obter as certificações ambientais necessárias nos Estados Unidos (e Canadá por extensão) ganhou repercussão mundial, e também levou autoridades de outros países e regiões a desconfiar que o mesmo problema de não-conformidade às normas de emissões, mesmo as que ainda sejam menos rígidas que as norte-americanas. França e Alemanha já fecham o cerco contra a Volkswagen, que indica haver vendido aproximadamente 11 milhões de veículos com o software fraudulento inserido no sistema de gerenciamento do motor ao redor do mundo, e reservou 6 bilhões de euros para cobrir eventuais compensações que venha a ser obrigada a efetuar pelos alegados danos ao meio-ambiente.

Até mesmo no Brasil, apesar de oficialmente apenas a pick-up Volkswagen Amarok e alguns exemplares do utilitário-esportivo Audi Q5 serem equipados originalmente com o motor EA189 2.0TDI, já há margem para dúvidas entre potenciais compradores e preocupações para atuais proprietários. Não custa nada lembrar que as normas de emissões brasileiras são menos rigorosas que as americanas, e portanto é muito pouco provável que os veículos venham a exceder os limites em vigor mesmo em operação normal, o que em tese já descartaria qualquer possibilidade de um recall referente a esse problema atingir o consumidor brasileiro. Além do mais, como a alteração nos mapeamentos de injeção ocorre sem qualquer interferência do condutor, ao contrário dos emuladores de SCR clandestinos usados em caminhões e ônibus, é muito difícil que os proprietários dos veículos sofram quaisquer penalizações.

Em último caso, se houver alguma prova de que a Amarok emita níveis de poluentes acima do permitido pelas normas PROCONVE Fase 7 (análogas à Euro-5) em condições normais de operação, o máximo que pode acontecer é a Volkswagen ser acionada judicialmente pelo IBAMA para firmar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) prevendo uma readequação de novos exemplares que venham a ser importados ou que já estejam em estoque no país mas ainda não tenham sido licenciados para trafegar nas vias públicas, e alguma multa que pode até ter o valor pecuniário comutado por um repasse de novas viaturas para órgãos públicos e/ou entidades beneficentes.

Enquanto isso, no exterior a situação atinge proporções mais dramáticas. Além de algumas empresas do Grupo Volkswagen (Volkswagen, Audi, Seat e Skoda), outros fabricantes usavam o motor Volkswagen 2.0TDI em modelos destinados principalmente aos mercados europeu e australiano, caso da Mitsubishi que o oferecia na minivan Grandis e no Lancer. Devo confessar que já me vinha a pulga atrás da orelha quando me dava conta de que, mesmo com esse motor sendo certificado pela EPA e pelo CARB, apenas a Volkswagen e a Audi o usavam nos mercados americano e canadense. Seria alguma cláusula do contrato de fornecimento dos motores, ou será que já havia alguma suspeita da fraude revelada esse mês pela qual não queriam pagar para ver?

3 comentários:

  1. Pelo que entendi, a maioria dos modelos envolvidos na fraude não possuem SCR e no modo "vistoria" fazem abrir totalmente a EGR para reduzir as emissões. Então como ficaria o recall para regularizar esses carros?
    1-Reprogramar para manter a EGR aberta o tempo todo, reduzindo o desempenho e a vida útil do motor, ou.
    2-Instalar SCR num veículo que não foi projetado para isso.
    E a garantia de tal procedimento, feito em veículos que já saíram da garantia 2009, 2010...
    Qual será a saída adotada pela fábrica?

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    1. O mais provável é que seja feita a reprogramação, afinal o problema apontado é com o software. E não haverá impactos sobre a garantia, embora possivelmente alguns operadores passem a sofrer com acúmulo de fuligem no coletor de admissão e mais saturação do filtro de material particulado (DPF) quando aplicável.

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  2. Eu li em algum lugar que a VW fez propaganda de ter sido a única montadora que conseguiu atingir o baixo nível de emissões exigido nos EUA (muito mais severo que a Euro5) sem instalar SCR e isso dava a vantagem de não ter gastos com DEF (diesel exhaust fluid).
    Ao meu ver, a única maneira de conseguir isso seria deixar a EGR aberta o tempo todo, o que implicaria em baixo desempenho além de diversos problemas a médio e longo prazo, como fuligem no coletor e redução da vida útil do motor. Para evitar isso inventaram a solução de software de somente abrir a EGR em médias e altas rotações quando detectada a situação de inspeção. Ou seja, ficou igual ao Euro 5 em que a EGR so atua em marcha lenta e baixas rotações, fechando quando o motor é mais solicitado.
    Portanto, entendo que não é apenas um problema de alteração de software. A alteração ocorreu para mascarar as consequências da decisão de não instalar o SCR.
    Quem tem um carro nessas condições terá como consequência do recall, além de perda de performance, aumento do custo de manutenção (limpeza constante do coletor) e redução da vida útil por trabalhar o tempo todo com ar sujo na admissão.
    Duvido que a maioria dos usuários, mesmo os americanos, conheça o funcionamento do sistema a ponto de entender essas consequências, mas a perda de desempenho será bem perceptível e suficiente para gerar direito à indenização, já que o carro deixará de entregar a potência especificada na propaganda.

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