quinta-feira, 8 de outubro de 2020

5 carros franceses que não ficariam tão ruins com o motor Perkins 4-108

Algumas rivalidades históricas dão margem às mais diversas situações, especulações e até incidentes diplomáticos, e uma das mais destacadas mundialmente é entre França e Inglaterra. E por mais que os fabricantes franceses de automóveis sejam hoje uma referência no desenvolvimento de soluções para motores Diesel, houve uma época que a fornecedora independente de motores inglesa Perkins estava entre as principais referências mundiais. Atualmente a Perkins está fora do segmento veicular, apesar de continuar fornecendo motores para outras aplicações, e um dos produtos mais destacados e que foi importante para firmar a marca em veículos leves em países como a Espanha também já deixou de ser fabricado. Mas certamente o motor Perkins 4-108 de 1.8L ainda poderia ter avançado pela década de '90 e até já adentrar pelo ano 2000 afora por mais algum tempo enquanto mercados de exportação com normas de emissões menos estritas assim o viabilizassem, e por incrível que pareça ao menos 5 carros feitos por fabricantes franceses ainda poderiam ter sido bons receptores para esse motor...

1 - Citroën C3: ao menos com a 1ª geração seria mais fácil, tendo em vista que a maior parte do ciclo de produção no Brasil se deu durante a vigência das normas Proconve P5 equivalentes à Euro-3, e o grupo PSA do qual a Citroën faz parte chegou a conseguir manter homologados os motores TUD5 de 1.5L e DW8 de 1.9L na Euro-3 em alguns mercados embora tais motores não fossem aplicados ao C3 ainda que tecnicamente possível. Naturalmente, um motor como o Perkins 4-108 com o comando de válvulas no bloco e sincronização por engrenagens ao invés do comando no cabeçote sincronizado por correia dentada poderia parecer demasiadamente obsoleto, além do mais considerando o recurso à injeção indireta e aspiração natural quando o Citroën C3 teve em versões Diesel os modernos motores DV4 de 1.4L e DV6 de 1.6L sempre com turbo e injeção eletrônica tipo common-rail. No entanto, é justo ponderar que um modelo cuja estética é nitidamente inspirada no Citroën 2CV conseguiria se destacar com uma proposta mais utilitária exatamente caso fosse oferecido ao menos um motor mais rústico e de manutenção mais simples. Considerando desempenho e custo de produção, ainda seria mais viável fazer uma comparação entre o Perkins 4-108 com os motores PSA TU1 de 1.1L e EB0 de 1.0L a gasolina que foram oferecidos o TU1 em ambas as gerações e o EB0 somente na 2ª geração. E por mais que um motor com a cilindrada de 73 a 76% mais alta tenha na prática uma "obrigação" de oferecer desempenho mais adequado, e na comparação tanto com o TU1 quanto com o EB0 mantém até 3800 RPM um torque superior, cobrindo portanto a maior parte das faixas de rotação às quais um automóvel normal vá ser utilizado rotineiramente;

2 - Citroën ZX: pouco comum no Brasil, o modelo foi produzido de '90 a '98 e chegou a ser feito no Uruguai numa época em que o Diesel reinava por lá. Dado o forte caráter agropecuário cisplatino, a eventualidade de um motor que chegou a ser usado até em alguns tratores Massey-Ferguson entre as décadas de '60 e '70 poder servir a um carro não seria algo tão absurdo. Por mais que pudesse parecer loucura considerar um motor de concepção claramente mais antiga que o PSA XUD9 de 1.9L dotado de comando no cabeçote que foi originalmente oferecido como opção Diesel no ZX, e que mesmo as opções a gasolina mais básicas com o motor PSA TU3 de 1.4L ainda estariam favorecidas no tocante ao desempenho numa parte mais considerável dos regimes de rotação, a rusticidade do motor Perkins 4-108 certamente teria seus entusiastas devido à percepção de uma manutenção mais fácil aliada ao uso em outras aplicações nas quais uma maior simplicidade construtiva permanece valorizada. O fato das station-wagons serem conhecidas como "rural" na Argentina e no Uruguai também faz com que a aplicação de um motor "de trator" faça ainda mais sentido para quem dependa do veículo a trabalho;

3 - Citroën Xsara: outro que prosperou tanto em países vizinhos como na Europa sobretudo quando as versões Diesel se destacavam em meio à transição da aspiração natural e injeção indireta para uma hegemonia do turbo e da injeção direta, foi o sucessor do Citroën ZX do qual herdou a plataforma. As versões anteriores à remodelação dispunham dos motores XUD9 em versões naturalmente aspirada e turbo e do TUD5 sempre com aspiração natural, sendo que o TUD5 foi mantido enquanto o XUD9 deu lugar ao DW8 após a remodelação. Certamente pesava a favor do TUD5 uma menor incidência de impostos na Europa, favorecendo-o em mercados como Espanha e Portugal, mas ainda assim não seria de se descartar que o Perkins 4-108 pudesse ter se mantido confortável em alguns outros países, além do mais que permanecia com o torque superior até 4000 RPM com relação ao motor Diesel de entrada para o Xsara;

4 - Renault 12: modelo que nunca chegou a dispor de nenhuma motorização Diesel originalmente, e que certamente poderia haver sido beneficiado por tal opção em países como Argentina e Uruguai. A missão de ocupar o lugar dos motores Renault Cléon-Fonte a gasolina, que apesar de serem um tanto subestimados no Brasil ainda se destacam pela durabilidade e economia em condições de uso normal, certamente seria hercúlea, mas não dá para ter certeza de que seria impossível;

5 - Renault Kangoo de 1ª geração: teve no exterior como motores mais simples oferecidos o D7F de 1.2L a gasolina e o F8Q Diesel de 1.9L com aspiração natural e injeção indireta, ambos dotados de comando de válvulas simples no cabeçote com sincronização por correia dentada e duas válvulas por cilindro. Se a bem da verdade o Perkins 4-108 não seria páreo para o F8Q no tocante ao desempenho, o mesmo não pode ser dito com relação ao D7F que precisa superar 4100 RPM para deixar de ficar desfavorecido no tocante ao torque. Comparar com os motores D4F com a mesma configuração de válvulas e D4D com 4 válvulas por cilindro que equiparam versões "populares" com motor de 1.0L do Kangoo somente no Brasil, para onde o modelo vinha importado da Argentina, não teria nem graça...

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html