quinta-feira, 8 de abril de 2021

Pick-ups compactas: justificam ser levadas mais a sério como utilitários

Uma série de fatores tem atraído operadores profissionais a um uso de pick-ups compactas, tanto para o serviço em áreas urbanas quanto em atividades rurais nas quais nem sempre a atual indisponibilidade de modelos 4X4 na categoria se revela um impedimento. Um caso digno de nota é o da Chevrolet Montana de 2ª geração, com uma capacidade de carga nominal já se aproximando das versões a gasolina de pick-ups médias de 20 anos atrás e chegou a permanecer por alguns anos como o único veículo comercial da linha Chevrolet em alguns mercados de exportação na África antes do encerramento da montagem em CKD na África do Sul em 2017 em meio à retirada das operações da GM na maioria dos países de mão inglesa. Nem mesmo a tração dianteira impede a aceitação da atual geração de pick-ups compactas com projeto derivado de automóveis, apesar de eventualmente ainda ser apontada como empecilho devido às alterações na concentração de peso entre os eixos de acordo com as diferentes condições de carga.
Ainda que o lançamento da 2ª geração da Montana em 2011 em meio à consolidação de pick-ups como veículos mais representativo de um "estilo de vida" tal qual tem acontecido atualmente com os SUVs se refletisse numa menor ênfase no público comercial, ao contrário do que ocorreu quando a 2ª geração da Fiat Strada foi lançada no ano passado mantendo o motor Fire 1.4 Flex nas versões de entrada por já ser bem recebido pelo segmento profissional, nos modelos de cabine simples o viés efetivamente utilitário é mais perceptível. Uma maior similaridade mecânica com automóveis ditos "populares" também acaba por atrair tanto gestores de grandes frotas quanto transportadores autônomos e outros profissionais, com os custos de aquisição e manutenção pesando mais favoravelmente às pick-ups compactas enquanto nas médias se intensifica um desvirtuamento da proposta laboral para firmarem-se como veículos de lazer, e nesse contexto a escolha de operadores comerciais recaindo sobre uma "picapinha" faz mais sentido do que poderia parecer. Em que pese a capacidade de carga nominal de modelos dessa categoria se manter abaixo do mínimo de uma tonelada exigido para veículos de tração simples e acomodações para menos de 9 passageiros além do motorista serem homologados como "utilitário" e poderem usar motor Diesel no Brasil, não se pode esquecer como motores a gasolina ou "flex" hoje estão sendo apontados como mais simples em comparação aos turbodiesel mais recentes que incorporam sistemas de pós-tratamento como filtros de material particulado (DPF) e em algumas regiões até o SCR para controle dos óxidos de nitrogênio (NOx).
Mesmo com a estrutura monobloco semelhante à das gerações mais recentes de carros "populares" num primeiro momento aparentando dificultar uma reconfiguração do compartimento de carga para algumas aplicações, em contraste com modelos maiores ou cópias chinesas de pick-ups subcompactas japonesas cuja carroceria pode ser substituída por outra desenvolvida desde o início para a função à qual o veículo for designado, a possibilidade de simplesmente acoplar uma capota rígida ou outro implemento especial sem impedimentos a um retorno à originalidade também proporciona confiança entre alguns operadores profissionais preocupados com o valor de revenda de um utilitário. Naturalmente podem haver objeções à preferência por uma pick-up compacta acrescida de uma capota rígida de plástico reforçado com fibra de vidro ao invés das furgonetas na mesma faixa de tamanho que ainda são bastante populares tanto na Europa quanto em países vizinhos como Argentina e Uruguai, mas uma percepção das pick-ups junto à maioria do público como mais desejável que um furgão em parte pela influência cultural americana leva alguns fabricantes de automóveis com operações instaladas no Brasil a depositarem mais esforços nesse segmento. Em que pese uma maior dificuldade para regularizar uma adaptação que permita o transporte de passageiros no compartimento de carga numa pick-up em comparação ao mesmo tratamento para os furgões, acaba sendo irrelevante para a maioria dos operadores comerciais que procuram por veículos nessa faixa de tamanho.
Se por um lado a disponibilidade da cabine simples mantendo-se em proporção maior que a observada nas pick-ups médias e grandes no mercado brasileiro que em alguns casos já estão vindo somente com a cabine dupla, por outro também se observa uma maior presença dessa característica entre as compactas, de modo que também figuram como uma opção para atender quem se vê na dúvida entre um automóvel mais convencional e uma caminhonete. Pode num primeiro momento parecer uma desvirtuação como a ocorrida em outras categorias nas quais já figuram modelos ditos "utilitários" para fins de homologação e uso de motor Diesel no Brasil tanto em função da capacidade de carga nominal quanto de sistemas de tração, mas oferece uma perspectiva quanto à incoerência de privilegiar veículos com um projeto menos eficiente no tocante à economia de combustível ao se deixar de reconhecer as funcionalidades das pick-ups compactas e como atendem eventualmente melhor a alguns operadores. Por mais que o etanol ainda tenha méritos que poderiam ser melhor explorados em meio à hegemonia alcançada por motores "flex" no mercado automobilístico brasileiro, e para usuários principalmente no entorno dos grandes centros o gás natural também seja um quebra-galho a considerar, é absolutamente inoportuno manter restrições ao uso de motores Diesel em veículos tão bem firmados junto ao público profissional por temores quanto a um impacto na disponibilidade de óleo diesel convencional para setores como o agropecuário que deixa de ter oportunidades para fomentar o biodiesel e agregar valor a operações de beneficiamento industrial tanto de cultivares quanto de proteína animal.
Apesar de ser impossível deixar de fazer uma analogia entre a presença de versões de cabine dupla nas pick-ups compactas e da maior concentração do mercado automobilístico brasileiro em torno de SUVs, a dinâmica um tanto confusa do mercado brasileiro preserva a participação tanto entre as opções mais pé-duro para trabalho pesado quanto outras com pretensões mais sofisticadas voltadas ao uso particular e de lazer. Questionamentos quanto à aptidão da tração dianteira e outras características associadas aos carros "populares" a condições de uso eventualmente mais severas também não fazem tanto sentido, à medida que se fazem presentes também em furgões médios e grandes já reconhecidos como utilitários e portanto autorizados ao uso de motores turbodiesel no Brasil. Enfim, mesmo diante da imagem de pick-ups como veículos mais representativos de um "estilo de vida" refletida em todas as faixas de tamanho, as compactas justificam ser levadas mais a sério como utilitário.

2 comentários:

  1. A cara do cachorro na foto de abertura é a melhor, mas a intenção é boa mesmo. E eu não duvido que a falta de câmbio automático até ajude a manter essa imagem de utilitário que se dirige por obrigação com o motor e o câmbio mais baratos possível, já que para usar como carro particular vale bem mais a pena o câmbio automático.

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    1. Pelo que me relatou um técnico de telefonia que foi meu colega de escola, por incrível que pareça alguns motoristas até preferem que seja fornecido um veículo mais simples para usarem a trabalho. Como essas frotas de serviço hoje costumam ser terceirizadas, as locadoras cobram o custo de reparos quando for constatado "mau uso" de algum sistema do veículo, mesmo que não seja efetivamente culpa do motorista, e as caixas de transferência em algumas pick-ups médias com tração 4X4 andaram dando muito problema e causando prejuízo a funcionários de empresas de manutenção de redes de telefonia móvel.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html