1 - capacidade de tração: uma caminhonete de concepção tradicional, por mais que tenha a carroceria extensamente modificada, vai preservar uma parte considerável das aptidões para condições de uso que um carro comum possa se revelar insuficiente ou no mínimo pouco recomendável. Até pode ser que um sedan médio consiga tracionar satisfatoriamente um trailer, mas o conjunto ficaria mais sobrecarregado que em um veículo corretamente dimensionado para uso mais intenso com cargas pesadas;
2 - flexibilidade para fazer adaptações mais específicas: enquanto um veículo original de fábrica fica mais restrito no tocante a opções, ao menos sem alterar em demasia o andamento da produção regular, a "duplagem" tradicional facilitava atender demandas mais específicas, tanto no tocante à estética quanto à funcionalidade da caminhonete modificada. Até o tamanho da parte posterior da cabine, muitas vezes ficava consideravelmente maior que o de similares com cabine dupla original de fábrica;
3 - conforto: ainda que utilitários antigos fossem bem mais austeros, tendo em vista que caminhonetes costumavam ser vistas tão somente como veículos de trabalho até algumas décadas atrás e portanto as opções de acessórios para melhorar a vida a bordo eram mais escassas, com uma "duplagem" à moda antiga também eram comuns melhorias nesse tocante. E além da adição um tanto previsível do banco traseiro, outro ponto que às vezes recebia uma atenção especial era a substituição dos bancos dianteiros por outros com alguma característica diferenciada. Desde aqueles bancos com uma suspensão própria e normalmente instalados para o motorista em caminhões e ônibus urbanos, até os anatômicos similares aos Recaro, quase tudo era possível adaptar;
4 - liberdade de poder usar motores Diesel: embora alguns até rejeitassem essa importante opção, foi sem sombra de dúvidas um dos principais motivos que levaram a uma maior demanda por esse tipo de adaptação entre as décadas de '70 e '90 junto a um público com perfil mais generalista. Nesse caso, em que pese muitos SUVs modernos também oferecerem essa característica por causa da tração 4X4 que os crecencia como utilitários para fins de homologação e as pick-ups médias mais conhecidas hoje terem a demanda pela cabine dupla de fábrica até maior que pela cabine simples, é inegável que as restrições ao uso de óleo diesel em automóveis intensificadas a partir da década de '70 possivelmente pesassem mais a favor das "duplagens" em comparação a medidas que inviabilizaram a importação de veículos entre '76 e '90;
5 - relevância cultural: pode ser que um Enzo ou uma Valentina encontrem chifre em cabeça de cavalo para "problematizar" esse tipo de transformação, assim como tantas tradições são hoje questionadas por pretextos nem sempre pertinentes. Ainda lembro de ter visto em edições do jornal A Crítica em Manaus propagandas da antiga loja Tony Car, que ficava em Biguaçu-SC mas vendia caminhonetes para todo o Brasil com transformação feita pela Tropical Cabines no Paraná, e certamente muitos aspectos culturais brasileiros terem algum vínculo com o campo também influenciaram uma maior receptividade por parte do público generalista a utilitários desde a época áurea das caminhonetes cabinadas. Quem hoje anda de SUV crossover da moda com mais estrelas que céu de brigadeiro em algum NCAP desses da vida, mas esquece como de certa forma uma adaptação feita em caminhonetes de concepção tradicional abriu as portas para esse fenômeno, certamente vive naquela bolha "politicamente correta" que quer reinventar a história sem ao menos a conhecer...
É um tipo de carro que já não se vê muito. A gauchada que gostava desses para ir na praia.
ResponderExcluirEsse tipo de transformação fez mesmo muito sucesso no Rio Grande do Sul. Hoje é bem mais raro ver uma dessas em Porto Alegre, mas de vez em quando aparece.
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