terça-feira, 20 de junho de 2023

Breve observação sobre dificuldades para uma moto de lazer ainda poder atender a normas de emissões cada vez mais restritivas caso se considere o uso de um motor Diesel

Antes de mais nada, é importante começar estabelecendo uma perspectiva para definir o que se vá tratar como "luxo", e portanto uma Harley-Davidson Sportster pode ser categorizada como "de luxo" mesmo que para um redneck americano pareça tão austera quanto uma TVS Sport 110i seja para um indiano ou brasileiro. Até tendo em vista um viés essencialmente recreativo que a Harley-Davidson atribui à linha e destaca o uso para viagens, em contraste com a abordagem mais laboral que fez o aplicativo Mottu ser o principal motivo para a TVS Sport 110i ter chegado ao Brasil.
Para uma moto pequena e leve que tem entre as premissas ser barata, embora seja apresentada em uma espécie de leasing no aplicativo Mottu invés de ser vendida diretamente ao público em concessionárias, e que mesmo já incorporando a injeção eletrônica ainda tem aspectos essencialmente modestos como os freios a tambor em ambas as rodas e o câmbio de só 4 marchas ou até a partida somente a pedal, já fica mais difícil justificar como o custo inicial de um motor Diesel que fosse adequado às regulamentações de emissões cada vez mais estritas demoraria mais a ser amortizado. Nesse caso, eventualmente possa até fazer mais sentido considerar a facilidade da ignição por faísca para se adaptar ao uso do etanol, e a bem da verdade me surpreende que aparentemente nenhum doido carioca tenha ao menos tentado fazer uma gambiarra conversão para gás natural...

Um detalhe que pode ser bem observado até em motos originalmente austeras, que passaram a ser mais apreciadas também com um viés mais recreativo como as primeiras gerações da Honda CG 125 que até servem a projetos de customização interessantes a exemplo do estilo scrambler, é uma maior exposição dos elementos mecânicos que pode dificultar uma instalação mais segura e conveniente de dispositivos de controle de emissões modernos. E por mais que essa questão específica do controle de emissões seja aparentemente irrelevante ao tratarmos de uma moto com mais de 40 anos, a mesma exposição maior do motor a elementos potencialmente danosos também se revelaria desafiadora ainda que fosse o caso de considerar somente a adaptação de um motor Diesel suficientemente apto a prover um desempenho comparável aos motores de ignição por faísca.

Um exemplo de moto originalmente tratada como essencialmente utilitária quando surgiu na Inglaterra, e manteve tal viés por décadas durante o ciclo de produção continuada na Índia que vem se estendendo aos dias atuais e hoje conta com o apelo "nostálgico" para se firmar junto a usuários com um perfil mais recreativo de forma análoga ao que ocorre com as Harley-Davidson, a Royal Enfield Classic constitui o exemplo mais claro de algumas dificuldades técnicas para a "dieselização" que também são aplicáveis a modelos que possam ser apontados como claramente mais sofisticados e luxuosos. Tendo em vista que já chegou a ter versões Diesel originais de fábrica durante outras fases da legislação indiana de controle de emissões que eram mais permissivas, e já considerando a viabilidade técnica para alguns motores de 1 cilindro e aspiração natural mais direcionados aos triciclos utilitários também encontrarem serventia em motos com menos risco de se tornarem bola de futebol de caminhão perigosamente lentas no tráfego em rodovias, tem se agregado a complexidade da refrigeração líquida que eventualmente se torne ainda mais desafiadora para conciliar com o pouco espaço disponível para a instalação do conjunto motriz.

Levando em consideração uma moto com projeto mais efetivamente moderno e declaradamente voltada a um uso mais recreativo/turístico como a atual geração da Triumph Tiger 900, que apesar de carregar uma marca inglesa icônica é produzida na Tailândia, surge a oportunidade para abordar as dificuldades para eventualmente acomodar um turbo e também um intercooler, além de ser praticamente impossível um módulo de pós-tratamento de gases de escape como os que são instalados em automóveis e veículos comerciais com motores turbodiesel modernos ter uma instalação suficientemente simples, e o calor excessivo durante a autolimpeza forçada de um filtro de material particulado (DPF) ser especialmente perigoso mesmo que escapamentos de motocicletas modernas costumem trazer proteções para prevenir queimaduras às pernas do piloto e do passageiro ou a bagagens. Mesmo já sendo usado catalisador com os motores originais a gasolina, e pareça mais simples fazer uma analogia até considerando que motos como a Triumph Tiger 900 o trazem bastante próximo ao motor para atingir mais rápido a tempertura ideal de funcionamento, o pós-tratamento de um motor turbodiesel moderno já exigir também outros processos para redução dos óxidos de nitrogênio (NOx), que não podem ser tão facilmente contornados com enriquecimentos da proporção ar/combustível sem intensificar outras emissões como de material particulado, e acomodar um tanque de AdBlue/ARLA-32 sem comprometer a funcionalidade e o espaço para bagagens nem diminuir a capacidade do tanque de combustível a ponto de prejudicar o alcance em trechos mais longos seria bem mais desafiador mesmo em comparação a carros compactos...

E considerando ainda o caso específico de modelos clássicos da Harley-Davidson como a Electra Glide, nas quais os escapamentos individualizados para cada cilindro do motor V-Twin constituem também um componente tradicional de estilo, a dificuldade transcende a parte estritamente técnica que poderia até ser minimizada caso fosse viável recorrer à aspiração natural ou eventualmente se arriscasse usar um compressor volumétrico de acionamento mecânico, com ou sem algum recurso para variar a velocidade do compressor de modo a compensar efeitos da altitude a exemplo do que chegou a ser usado em aviões antigos na época dos grandes motores radiais antes da consolidação do turbocompressor como método mais eficiente de indução forçada para a imensa maioria dos motores convencionais nas mais diversas aplicações. Mesmo tratando-se de um modelo de luxo, no qual ironicamente a idéia do motor parecer o mais "arcaico" possível também se destaca, só o fato da imensa maioria das motos dispensar algumas estratégias já alastradas junto aos motores de ignição por faísca destinados ao uso automotivo que os aproximam de uma complexidade que tem sido mais lembrada para criticar os Diesel como o turbo e a injeção direta leva a perceber o quão difícil seriam os desafios de ordem técnica sem entrar em conflito com as preferências mais consolidadas no motociclismo recreativo.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html