terça-feira, 22 de agosto de 2023

Se o uso de motores Diesel em carros normais fosse liberado, seria mais fácil apontar um sucessor para o Fusca?

Um modelo icônico que serviu com maestria a tantas famílias mundo afora, e que no Brasil permaneceu tão relevante a ponto de ainda ser lembrado quando se tenta exemplificar o que deveria ser um conceito de carro "popular", o Fusca é particularmente difícil de substituir. A aparente superioridade que a tração traseira proporciona em condições de rodagem severas quando associada ao motor traseiro, e portanto a distribuição de peso entre os eixos ficando mais próxima ao eixo de tração nas mais diversas condições de carga, é muitas vezes apontada como um daqueles fatores que mais dificultam apontar um sucessor mais efetivo para o Fusca junto a usuários com todos ou o mais próximo de todos os perfis tradicionais de quem o comprava quando ainda era produzido. E por mais improvável que possa parecer à primeira vista, é bem possível que a impossibilidade de homologar carros "populares" de gerações mais recentes no Brasil com um motor Diesel seja algo ainda mais desafiador a considerar.
Observando ainda que a concepção do motor boxer de refrigeração a ar usado no Fusca era muito mais austera, dada a necessidade de competir até com motocicletas pela preferência do público durante a fase de projeto ainda na Alemanha, e como motores inicialmente só a gasolina e posteriormente com opções a álcool/etanol e hoje flex tiveram uma evolução mais lenta em comparação aos turbodiesel, a ponto do Gol que na prática assumiu em parte a missão hercúlea de reter uma parte daqueles consumidores com um perfil mais austero para a Volkswagen até ser encerrado no ano-modelo 2023 ter perdido as opções por motores Diesel na geração que abrangeu as fases de G5 a G7, já poderia parecer mais difícil tratar tal possibilidade como viável a um modelo "popular" devido a incrementos no custo. A Volkswagen até podia ter se valido da adaptabilidade de alguns motores Diesel para pequenos tratores de origem alemã com 2 cilindros e até 1.6L ao Fusca, e talvez até tivesse sido mais difícil justificar uma proibição ao uso de motores Diesel em veículos leves se o tivesse feito antes de '73 também no Brasil, tendo em vista como a Volkswagen se firmou tanto a ponto de justificar ter posteriormente mantido até projetos mais voltados especificamente ao Brasil como foi o Gol por mais de 40 anos mesmo considerando as devidas atualizações ao decorrer do tempo. Na prática, a Volkswagen ter perdido esse timing serviu de pretexto à limitação em função de capacidades de carga e passageiros ou tração para um veículo ser considerado apto ao uso de motores Diesel no Brasil, tendo em vista que estaria menos propensa a ser afetada por tal circunstância antes de partir para a refrigeração líquida que certamente facilitou uma intercambialidade de projetos e componentes entre motores de ignição por faísca e os Diesel.

Exatamente a tração dianteira nunca ter sido um impedimento para o Gol e posteriormente modelos de outros fabricantes terem alcançado diferentes segmentos que antes teriam sido atendidos pelo Fusca, em que pese uma maior aptidão a trechos urbanos e rodoviários ao invés de situações off-road de moderada a severa, poderia ser convidativa à implementação de outra característica que pudesse reforçar o caráter essencialmente funcional de alguns modelos. Certamente um motor Diesel cairia como uma luva, tanto para uma parte do público varejista especialmente no interior quanto frotas de empresas e cooperativas agrícolas, simplificando a logística de combustíveis e outros insumos que pudessem ser compartilhados com tratores ou caminhões. O custo de alguns veículos que possam ser apontados como melhores para condições de rodagem mais severas em função de uma incorporação de características como tração nas 4 rodas, ausente por exemplo no Gol que sempre contou com tração dianteira, também se revela outra dificuldade que um eventual sucessor do Fusca teria para cumprir tal missão completamente.
E tanto entre carros mais convencionais quanto em utilitários, tomando ainda como exemplo na linha Volkswagen a Saveiro que tenha eventualmente sido mais prejudicada pela ausência de motores Diesel nas gerações mais recentes exatamente à medida que caminhonetes maiores e com a opção pela tração 4X4 deixaram de ser essencialmente ferramentas de trabalho no campo para ficarem mais voltadas ao uso particular/recreativo, a dificuldade para apontar sucessores para o Fusca ficava ainda mais nítida. E se antes um carro normal acabava sendo mais caro que uma caminhonete compacta baseada no mesmo projeto, a situação acabou se invertendo, exatamente pelo maior foco no lazer e pretensões aventureiras de algumas versões levando os fabricantes a focarem em uma parte do público que assimila uma idéia de valor agregado maior mesmo que o custo de produção seja semelhante e às vezes até menor para os utilitários. Tal incentivo para os fabricantes aumentarem as margens de lucro sobre veículos que podiam ser eventualmente mais convenientes para quem aprecia uma certa polivalência, bastante desejável em regiões rurais onde o mesmo carro que serviria para carregar insumos numa fazenda durante a semana seria usado para ir a eventos sociais/culturais ou religiosos nos fins de semana, e assim mesmo que um utilitário deixe de ser visto como "inferior" em comparação a um carro mais tradicional esse feitiço vira contra o feiticeiro no tocante ao preço final.

Mesmo modelos de outros fabricantes, como o Ford Ka que a princípio ninguém consideraria tão apto a enfrentar condições de rodagem mais severas pelo interior, também poderiam ter sido beneficidos caso fosse possível regularizar o uso de motores Diesel em automóveis generalistas modernos. E a bem da verdade, considerando como até SUVs da moda hoje usam configurações de motor transversal e tração dianteira com estrutura monobloco tal qual um subcompacto como o Ka de 1ª geração que chega a ter algumas proporções parecidas com o Fusca, eventualmente até poderia soar tentador fazer algo análogo ao que seria um Baja Bug modernizado. Enfim, mesmo diante do atual predomínio de características diametralmente opostas às do Fusca tornando mais difícil apontar um efetivo sucessor em diversas condições de uso dentro e fora das cidades, eventualmente uma liberação do uso de motores Diesel em outros veículos teria tornado mais fácil uma parte do público do Fusca ter mudado antes para carros proporcionalmente mais modernos.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
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