quinta-feira, 7 de março de 2024

Foi mancada a Ford nunca ter aproveitado para oferecer um motor Diesel nas versões 4X4 da Pampa?

Dentre a praticamente extinta categoria das pick-ups compactas derivadas de automóveis que fez tanto sucesso do Brasil em outros momentos históricos, mas tem hoje se aproximado das faixas de tamanho que eram consideradas de uma caminhonete média 20 anos atrás, um caso emblemático sem dúvidas foi a Ford Pampa, única a ter oferecido tração 4X4 como uma opção de fábrica. Oferecida exclusivamente com o motor 1.6 CHT de fabricação própria da Ford, mesmo que na maior parte do ciclo de produção o motor 1.8 AP da Volkswagen estivesse disponível para versões de tração dianteira no contexto da antiga joint-venture AutoLatina, destacou-se também por ser equipada com um tanque de combustível auxiliar instalado no balanço traseiro, tendo em vista que o tanque principal situado logo atrás da cabine tinha a capacidade reduzida para liberar espaço à passagem do eixo cardan, que acionava a tração suplementar no eixo traseiro através de uma tomada de força embutida no câmbio. Tendo em vista que a tração 4X4 foi uma das possibilidades para veículos serem homologados no Brasil como "utilitários" para assegurar o direito ao uso de motor Diesel conforme uma definição arbitrária baseada ou nas capacidades de carga e passageiros ou pelo sistema de tração, e a Volkswagen tinha uma certa economia de escala de motores 1.6 Diesel destinados majoritariamente à exportação regional, a Ford ter deixado passar a oportunidade de oferecer tal opção na Pampa 4X4 já soa curioso...

Embora faltasse uma "reduzida" propriamente dita, contando apenas com a tomada de força no câmbio para prover a tração suplementar e ocupando o espaço que seria destinado à 5ª marcha nos câmbios das versões de tração somente dianteira, ficando portanto limitada a 4 marchas, ainda era permitido recorrer a uma relação de 1ª marcha mais curta como análoga a uma "reduzida" propriamente dita, situação que foi explorada por fabricantes de utilitários 4X4 mais pesados que a Pampa permitindo a modelos cuja capacidade de carga nominal permanecia inferior a uma tonelada contarem com a opção por um motor Diesel e que ainda consta dentre os Requisitos Operacionais Básicos permitindo a homologação de um jipe como viatura de transporte não-especializado (VTNE) junto ao Exército. Naturalmente seria difícil supor que a Pampa caísse no agrado dos militares para uso efetivamente operacional mesmo que fosse suficiente para algumas funções mais administrativas e de suporte logístico nas quais curiosamente são vistos ainda veículos com motor de ignição por faísca devido principalmente às restrições contra o uso de motores Diesel na maioria das categorias de veículos comercializadas no Brasil. Outros setores ainda poderiam ser melhor atendidos por uma pick-up compacta que conciliasse tração 4X4 e motor Diesel, a exemplo da manutenção de infraestruturas de telecomunicações e serviços eletricitários, tendo em vista desde eventuais dificuldades de acesso a algumas instalações em regiões interioranas com condições de terreno um tanto severas até uma maior racionalização de insumos como um mesmo combustível servir a toda uma frota que inclua veículos mais pesados para os quais os motores Diesel permanecem como a alternativa mais racional tanto pela maior aptidão ao serviço pesado quanto à economia operacional.
Naturalmente poderiam surgir questionamentos quanto à notória precariedade do sistema de tração 4X4 que a Ford aplicou à Pampa, com peculiaridades como a discrepância entre as relações dos diferenciais dianteiro e traseiro que fomentavam a recomendação para trafegar a no máximo 60km/h com o sistema em operação quanto a orientação que fosse usado somente em condições off-road em terrenos de baixa aderência, e a bem da verdade o mau uso por parte de alguns operadores alçou os exemplares da Pampa 4X4 com o recurso ainda em funcionamento à condição de uma verdadeira raridade. A maior parte dos exemplares ter sido originalmente especificado com motor a álcool etílico também contribuiu para uma demanda menor após a crise do ProÁlcool na safra '89-'90 da cana de açúcar, e a presença de um tanque suplementar no balanço traseiro desencoraja uma conversão para gás natural por já estar ocupando uma área que seria a mais conveniente para instalar cilindros de gás sem comprometer a capacidade de carga em volume na carroceria, embora uma menor disponibilidade de postos com gás natural à medida que se afasta dos grandes centros também já constitua outro empecilho, e até considerando as conversões clandestinas para gás liquefeito de petróleo (GLP - "gás de cozinha") que ainda permaneceram um tanto comuns mesmo na década de '90 pareciam justificar uma demanda reprimida por ao menos uma opção de motor Diesel. E considerando como o governo Sarney proporcionou condições para pick-ups serem alçadas da condição de meras ferramentas de trabalho a um objeto de desejo para parte do público tanto pelo custo menor de documentação quanto por outros modelos de porte maior terem contado com opção por motores Diesel e as conversões para cabine dupla absorvendo parte da demanda por automóveis de luxo desde a época que as importações estavam proibidas até a reabertura do mercado aos importados já no governo Collor, possivelmente a imagem um tanto "especializada" que se atribuía a veículos 4X4 em função do maior custo inicial e as próprias peculiaridades do sistema de tração suplementar que equipou a Pampa teriam sido mais convidativos a usuários efetivamente profissionais que poderiam contar com uma alternativa mais eficiente no consumo de combustível comparada a utilitários de porte maior, que pelo uso mais específico a trabalho a princípio teriam mais atenção a treinamentos para o uso correto.
Em vários momentos enquanto a Ford montou em regime CKD ou efetivamente produzia veículos no Brasil, antes de encerrar a fabricação de caminhões em 2019 e ter passado a operar somente como uma importadora em 2021, teve produtos que se destacaram perante a concorrência e de certa forma pode-se dizer que deram uma sobrevida à operação brasileira, embora também tenha historicamente cometido alguns erros principalmente no tocante à linha de motores e que culminaram com o recurso à formação de uma joint-venture com a Volkswagen tanto no Brasil quanto na Argentina, cujo compartilhamento de motores viria a ser uma tábua de salvação para a Ford em função da letargia que costumava ter toda vez que ficava sem competitividade no tocante a motores. E como as carcaças de câmbio são basicamente as mesmas tanto para as versões de tração dianteira com 5 marchas quanto as 4X4 com 4 marchas, e os motores AP sendo originários de um projeto modularizado que permitiu a produção tanto de versões de ignição por faísca quanto Diesel com um compartilhamento de componentes que levava as versões 1.8 a gasolina ou álcool a terem exatamente o mesmo curso do 1.6 Diesel, o acoplamento do motor Diesel ao câmbio da 4X4 a princípio soa bastante simples. Portanto, a conclusão mais fácil é que foi mancada a Ford nunca ter aproveitado para oferecer uma opção de motor Diesel na Pampa 4X4...

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html