quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Considerações sobre sistemas de tração e a burocracia brasileira

Já não é de hoje que as restrições ao uso de óleo diesel em veículos leves constituem um problema para o mercado automotivo brasileiro e até mesmo para a população, que apesar de ainda associar aos motores Diesel a imagem de “sujos” por conta do problema com o material particulado poderia se beneficiar de uma melhor qualidade do ar nas regiões metropolitanas com tráfego intenso devido à menor emissão de gases poluentes. Em função da menor visibilidade das aplicações leves, a aceitação do biodiesel como alternativa ecológica acaba um tanto limitada, e excessivamente segmentada, enquanto opções menos eficientes são enaltecidas fervorosamente, às vezes até com um falso viés "nacionalista" como o etanol, já conhecido dos fazendeiros americanos na época da "Lei Seca".

O que começou em 1976, no auge da Crise do Petróleo, com uma proibição da venda de veículos 0km com motor Diesel que não tivessem uma capacidade de carga igual ou superior a uma tonelada, nem fossem 4X4 equipados com caixa de transferência de “múltiplas velocidades” ou pudessem transportar no mínimo 9 passageiros além do motorista (sendo homologados como micro-ônibus), culminou em 1993 com uma proibição total às adaptações que vinham sendo feitas até então em utilitários de menor capacidade como a popular Volkswagen Saveiro (que equipada com um arcaico motor 1.6L de injeção indireta e sem turbo conseguia médias de consumo em torno de 18km/l, dificilmente igualadas por qualquer hatch 1.0L com motor Otto movido a gasolina ou etanol), e até station-wagons como a Chevrolet Caravan que eventualmente eram classificadas como “veículos utilitários”, passando a estar portanto legalmente aptas ao uso de motor Diesel. 
Diga-se de passagem, devido a custos de aquisição e manutenção mais baixos é bastante comum ver utilitários mais compactos, com capacidade de carga inferior a uma tonelada e quase sempre desprovidos de tração 4X4, sendo usados como veículos de serviço, às vezes até com gambiarras para usar gás "natural"...

Mesmo modelos de maior capacidade como a sport-utility Chevrolet Veraneio (que nunca saiu de fábrica originalmente equipada com sistema de tração 4X4, ainda que um equipamento conhecido como “Kit Tração Total”, ou “Kit TT”, tenha sido fornecido pela antiga Engesa) e a Willys/Ford Rural passaram a sofrer com tais restrições nas versões com tração simples.

A estupidez burocrática brasileira passa dos limites, e isso fica evidente quando se observam alguns veículos oferecidos no mercado nacional que acabam condenados ao uso de motores menos eficientes por pura falta de noção da parte de politiqueiros pouco (ou até nada) comprometidos com o progresso nacional...

Um caso que merece atenção é do Subaru Forester, que por razões tributárias é equipado com um motor 2.0L a gasolina nas versões básicas (ao contrário do 2.5L usado no mercado australiano, por exemplo), o mesmo usado nas versões do Impreza com menos ênfase na esportividade.
Apesar de ter uma considerável aptidão off-road, por não ter “reduzida” o Forester não pode ser vendido localmente com motor Diesel enquanto, curiosamente, o Impreza conta com tal recurso nas versões equipadas com transmissão manual e motor 2.0L aspirado, apesar do vão livre comparável ao de um skate dificultar incursões em terrenos mais hostis que uma estradinha rural ou pistas de rallycross...

Às vezes, até mesmo os fabricantes e importadores ficam receosos quanto à possibilidade de serem enquadrados por “crime contra a economia popular” ao oferecer a opção de motor Diesel em alguns dos novos “crossovers” que vem tomando o espaço de sport-utilities mais tradicionais.
Um bom exemplo é a Renault, que com o recente lançamento do Duster perdeu a oportunidade de contar com o motor Diesel como argumento de vendas, valendo-se da 1ª marcha reduzida usada na versão 4x4 dispensar a redução na caixa de transferência, tornando o conjunto mais leve e com menos prejuízos ao desempenho. Ainda que alguns entusiastas do off-road recreativo vejam tal característica como um demérito, está prevista até nos Requisitos Operacionais Básicos (ROBs) para homologação de viaturas militares...

Vale destacar que a legislação brasileira não vem contemplando as alterações conjunturais da indústria automobilística a nível mundial, em que a busca por veículos mais eficientes tem levado alguns veículos 4X4 a adotarem sistemas de transmissão mais leves, muitas vezes levando a uma eliminação da “reduzida”, como o Kia Sorento, que no entanto passou a contar com uma maior capacidade máxima de tração nas versões equipadas com motor 2.2L e-VGT. Um caso intrigante é do Ssangyong Korando C, que mesmo sem ter a 1ª marcha “crawler” nem uma “reduzida” foi recentemente introduzido no mercado brasileiro numa versão equipada com motor Diesel. Bem diferente das duas gerações anteriores do Korando, verdadeiros jipões...

O mesmo aconteceu com o Land Rover Freelander, mas nesse caso talvez a reputação da marca Land Rover, conhecida pelo tradicional Defender, tenha sido decisiva para facilitar o processo de homologação, como uma espécie de “carteirada”.

Recentemente, em meio a toda a empolgação em torno do "pré-sal", algumas iniciativas para mudar a legislação e liberar novamente o uso de óleo diesel sem restrições por capacidade de carga ou tração começaram a aparecer. Outros, como o senador capixaba Gerson Camata já passaram a dar uma atenção às possibilidades de associar o desenvolvimento de um programa de biodiesel à melhoria das condições econômicas e sociais em áreas do Cerrado e da Caatinga que atualmente sofrem processos de degradação, e ainda contribuindo para o estabelecimento de algum equilíbrio ecológico.

Na prática, o que importa é que as vantagens observadas no desempenho, e sobretudo no consumo de combustível, que fizeram com que os motores Diesel se tornassem tão apreciados nos utilitários poderia também beneficiar o usuário de automóveis mais simples, e ao se considerar ainda a grande quantidade de consumidores que adotam um grande e pesado utilitário 4X4 para uso particular em função da eficiência energética superior até mesmo a veículos menores, mais leves e mais aerodinâmicos, se pudessem ser atendidos pelo mesmo tipo de motor num veículo mais adequado às reais necessidades os benefícios seriam ainda maiores tanto para o usuário (que economizaria mais) quanto para o meio-ambiente, devido à redução ainda mais drástica nas emissões de poluentes.

5 comentários:

  1. O diesel é ideal para qualquer tipo de veiculo para uso urbano, e, além de tudo, ainda polui menos que a gasolina.
    Como sempre, no Brasil, a "terra dos ias", sempre tem alguma lei ou qualquer outra coisa que vai contra a tendencia mundial e, aliado a tradição dos caminhoes desregulados que temos aqui, a própria população é induzida a pensar que diesel polui mais, mas sendo que no fundo é o contrario, ainda gerando mais economia.
    Temos punto a diesel saindo da fabrica de betim da fiat, o que custaria vendê-los por aqui também? Não pode, a legislação não permite...

    Existem uma quantidade razoável de projetos de carros ecologicos e hibridos que usam motores diesel, e enquanto essas leis não mudarem, ficaremos parados no tempo.

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  2. Além da legislação obsoleta limitar a participação de motores Diesel no mercado, vale destacar que acaba servindo como brecha para a Petrobras não investir em controle de qualidade mais rigoroso para o diesel.

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  3. Um visinho meu conceguiu adapitar cabessote de motor Mercedis Bens do camião 1113 num Opala mais nem xegou a mudar o documento no Detran. No documento aparece movido a alcol mas ele agora só usa diesel mesmo.

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    1. Essa adaptação do cabeçote do motor Mercedes-Benz OM352 nos blocos de motores Chevrolet Stovebolt Six, para formar um motor "misto quente" era bastante comum durante a década de 80, mas tem alguns inconvenientes. O motor acaba ficando bastante lento e tem muita facilidade para ter vazamentos de óleo.

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  4. Rica nave el Impreza GT JDM. Pero siempre me han gustado más las wagon ya que tenian reductora a la caja de cambios.

    Acerca del diesel en vehículos livianos, no hay más muchos motores como el 2C de Toyota, muchos de los nuevos ahora son más como deportivos pero muy frugales.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html