terça-feira, 3 de abril de 2018

Uma breve reflexão sobre o etanol e a arrogância chavista

À primeira vista poderia parecer loucura sugerir, logo num país exportador de petróleo e detentor de grandes reservas de gás natural como é o caso da Venezuela, que o etanol teria vantagens a oferecer. Num país antes receptivo às "banheiras" americanas, mas onde hoje a maior parte dos veículos novos é de origem chinesa como essa ZX Auto GrandTiger que apareceu em Porto Alegre no ano passado, a simples idéia de economizar gasolina já teria se tornado motivo de risadas. Hoje, em meio à crise que tem feito venezuelanos fugirem em massa para países vizinhos como o Panamá, a Colômbia, Trinidad e Tobago, e também para o Brasil, fica cada vez mais evidente que certas medidas tomadas pelo então ditador Hugo Chávez não apenas impediram qualquer perspectiva de melhoria econômica e social na Venezuela mas fazem com que uma recuperação de curto a médio prazo seja muito improvável.
Por incrível que pareça, por volta de 2005 o etanol chegou a figurar em tratativas de Chávez e Lula, que ainda tentava usar a "diplomacia do etanol" para assegurar uma posição de prestígio junto aos demais ditadores do subcontinente sul-americano. A necessidade de substituir o MTBE, ainda usado como antidetonante, soava atrativa para ambas as partes, e ainda havia planos para a reinstalação de antigas usinas de açúcar cubanas na Venezuela e a conversão dos equipamentos para produzir etanol. No entanto, por mera teimosia do Hugo Chávez, o interesse pelo biocombustível diminuiu, na mesma medida que passou a ocupar posição de destaque em negociações entre Brasil e Estados Unidos. Uma demonstração irracional de orgulho fez com que uma alternativa eficaz para proporcionar uma maior rentabilidade para o setor agropecuário e ao mesmo tempo fortalecer a segurança energética ficasse prejudicada, quando o discurso chavista deixou de ser favorável ao etanol a partir de 2007, mas apesar do cenário político hostil aos Estados Unidos ainda tinha muito veneco que não abria mão de um veículo de concepção tipicamente americana como uma Chevrolet Silverado...
Naturalmente, a predileção por veículos com uma concepção que passa longe de ser a mais eficiente é uma dificuldade para apresentar o etanol como uma opção sustentável na Venezuela, tendo em vista o descrédito que se vê hoje no Brasil diante dos preços pouco competitivos com a gasolina e alegações sobre o impacto na disponibilidade de alimentos ou sobre um incremento nos desmatamentos visando abrir espaço para o plantio da cana. Durante uma viagem à Jamaica em março de 2017, Chávez fez um discurso contra o etanol usando como "argumento" que encher o tanque de um veículo com etanol acarretaria no uso de áreas agricultáveis e água suficientes para alimentar 7 pessoas, e alegando que tentaria demover Lula do otimismo com relação ao combustível de origem vegetal. Simplesmente foi ignorado o benefício que o milho apresentaria como matéria-prima para o etanol como predomina nos Estados Unidos e já se tem feito no Centro-Oeste brasileiro, onde o "grão de destilaria" (DDG - distillation-dried grain) serve como substrato proteico para a alimentação de gado e outros animais de corte e promove um ganho de peso mais rápido em comparação ao grão de milho ao natural. Faria sentido implementar a produção do etanol de milho ao menos no Táchira, estado venezuelano que tinha uma tradição muito forte na pecuária e pode ser comparado ao Rio Grande do Sul tanto nesse aspecto quanto por ser a terra natal do general Marcos Pérez Jiménez, ex-presidente militar que antecedeu ao período que se conhece como "puntofijismo" e pode ser comparado ao ex-presidente brasileiro Emílio Garrastazu Médici que ainda hoje é considerado um dos filhos mais ilustres de Bagé.

Considerando que o petróleo venezuelano é predominantemente pesado e requer importação de óleos mais leves para diluição antes do refino, e que compostos como o MTBE também sejam importados principalmente dos Estados Unidos, a rejeição chavista ao etanol soava ainda mais incoerente. Ainda que a exportação de petróleo bruto e derivados como a gasolina e o óleo diesel permaneça lucrativa, o recurso a um ou mais combustíveis alternativos de produção mais regionalizada no mercado interno como o etanol e o biodiesel seria até mais justificável de se subsidiar em função do menor prejuízo à balança comercial devido à menor dependência por insumos importados. A bem da verdade, manter o preço da gasolina artificialmente baixo foi um dos catalisadores que levou a situação da Venezuela a tomar as proporções extremas de hoje, e para dar contornos ainda mais sombrios à situação há muitas famílias que só não morreram de fome porque conseguem sobreviver contrabandeando da Venezuela para a Colômbia (e em alguns casos para o Brasil) o combustível subsidiado e usar os ganhos dessa operação para garantir os mantimentos básicos que são encontrados mais facilmente nos países vizinhos. Nesse contexto, a falta de um "plano B" efetivamente viável a nível governamental e que até poderia ter sido encabeçado com o etanol só torna ainda mais difícil reverter a tragédia em andamento...

Enquanto o etanol passava a ser rejeitado, mas ainda havia a necessidade de procurar um meio de diminuir a sangria nos cofres da PDVSA por causa dos subsídios à gasolina e do uso de verbas da estatal para projetos eleitoreiros (e que pode ser comparado com o rombo da Petrobras), o gás natural passava a ser a nova obsessão doentia de Hugo Chávez. Ignorando eventuais empecilhos de ordem prática, o ditador simplesmente decretou que uma cota mínima de 50% dos veículos 0km oferecidos por cada fabricante ou importador de automóveis na Venezuela fossem adaptados para usar o gás natural além da gasolina, bem como subsidiar a conversão de veículos já em circulação. Não deixa de ser possível comparar tal circunstância com a popularização dos veículos "flex" movidos a gasolina e etanol no Brasil, ainda que o sistema de gás natural tenha empecilhos que não são replicados com o etanol, mais notadamente o peso e volume que afetam a capacidade de carga e podem até tornar menos prática a acomodação de bagagens, materiais e ferramentas. Como seria de se esperar, a intenção de promover a substituição da gasolina extremamente subsidiada no mercado interno para liberar uma maior quantidade para exportação pelas cotações internacionais fracassou numa rede de distribuição de gás natural muito aquém do que seria necessário a nível nacional, que se somava à autonomia menor com o combustível alternativo e por conseguinte uma necessidade de paradas mais frequentes para reabastecimento Até mesmo na Bolívia, onde o gás ganhou relevância após a "nacionalização" dos hidrocarbonetos, não há uma obrigatoriedade para os importadores oferecerem modelos prontos para usá-lo, e a disponibilidade em zonas rurais também tem sido insatisfatória e feito com que os produtores rurais bolivianos manifestem uma insatisfação ainda maior diante da proibição à importação de veículos com motor Diesel de cilindrada igual ou inferior a 4.000cc que fez do motor 2TR-FE de 2.7L a gasolina a única opção para a atual geração da Toyota HiLux na Bolívia.

Por mais que o etanol não justifique ser tratado como uma tábua de salvação, principalmente em um país que já se encontra imerso no que há de pior no socialismo como hoje é a Venezuela, ignorá-lo mostrou-se mais desastroso e de certa forma serve hoje para expor claramente que há fatores políticos efetivamente mais críticos para a segurança alimentar que uma competição por terras agricultáveis com as commodities agroenergéticas. O povo venezuelano permanece subjugado por um assassino que é herdeiro político do sanguinário Hugo Chávez, e tudo leva a crer que o hoje ditador Nicolás Maduro estaria próximo de superar o antecessor no tocante à perseguição de opositores, sempre usando a máquina estatal ainda financiada pelos escombros da PDVSA. Enfim, a arrogância chavista com relação ao etanol hoje cobra um preço muito caro à população venezuelana.

13 comentários:

  1. No estoy seguro si aún se puede salvar a la Venezuela, al menos no mientras Maduro siga con la robolución asesina empiezada por Chávez.

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    1. Se até no Brasil os petistas que são aliados dos chavistas já não se entendem mais com o setor sucroalcooleiro, na Venezuela que não tem nenhuma tradição de etanol como combustível alternativo já não seria de se esperar muito sucesso.

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    2. Aún no he encuentrado muchos venezolanos en Argentina, pero un que se ha trasladado a Brasil me dijo que Maduro suele ser aún más loco que Chávez.

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  2. Se tem cana suficiente para fazer rum na Venezuela, qual seria o sentido de se fazer o álcool de posto com milho? Eu até já vi rum venezuelano contrabandeado aqui em São Paulo mesmo, só não experimentei, mas o meu irmão que é bem mais chegado em bebidas alcoólicas gostou tanto que tomou uma garrafa inteira sozinho.

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    1. Tem que ter um goró para os venecos beberem para esquecer a situação difícil do país deles... Agora falando sério, o etanol de milho faz sentido sim, já que o "grão de destilaria" que sobra quando usado na alimentação de gado de corte proporciona um ganho de peso mais rápido, e possivelmente também possa ser usado até na formulação de alguns alimentos industrializados para consumo humano mesmo.

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    2. Pero eso no es algo para reírse. La gente sufre en Venezuela. Antes de trasladarme a Chile, he pasado unos dias que todo lo que tenia para comer se resumia a arroz con maíz, a veces solo el maíz, además que en hospitales ya están dando carne de palomo a los enfermos si no hay pollo. Seguro que unos tantos beben para intentar olvidarse del sufrimiento bajo la dictadura chavista, pero otros ya lo hacen para olvidarse de que no tienen algo para comer sin que les dejen a los niños con hambre. Se necesita parar al genocida Nicolás Maduro antes que él mate de hambre a todos los venezolanos que no consiguen huirse de la prisión que ha se transformado Venezuela.

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  3. O etanol só deu certo no Brasil por causa dos militares que são a favor do povo, mas na Venezuela os militares de lá são tudo corrupto e matam o próprio povo.

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  4. Siempre me ha asombrado como los venezolanos nunca han dado mucha importancia al Diesel, salvo para aplicaciones más pesadas donde no hay otra opción. Pero no me ilusiona mucho el etanol, aún que tienes razón en decir que un biocombustible iba a ser razonable mismo en Venezuela.

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  5. Soy venezolano pero hoy vivo en Peru. Les puedo decir que hasta en Bolivia ya se vive mejor que en Venezuela, aún que los bolivianos sigan en peligro bajo un dictador que usa los aportes de las ventas de una commodity energetica para sustenir una dictadura corrupta.

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  6. Eu sou cristão e já participei de distribuições de comida para os refugiados em Boa Vista junto com colegas de igreja. É muito chocante a situação que os venezuelanos estão, por culpa de um ditador que consagra um país a uma legião de demônios que só causa miséria e sofrimento. A nós brasileiros cabe a missão de impedir que essa maldição se alastre para cá.

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  7. Na hora que estavam bem os venezuelanos achavam que o Brasil não tinha nada de bom, mas agora que estão numa pindaíba o orgulho já era. E aqui em Boa Vista tem dado problema com mulheres da vida venezuelanas que não deixam nem os meninos novos em paz e ficam dizendo baixaria, que vão "ensinar" eles e é disso para pior. Já tive problemas com uma veneca de 30 e poucos anos que só faltou querer invadir a minha casa para ficar de imoralidade com o meu neto de 13 anos.

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    1. As venecas se atirando para os meus filhos são o menor dos problemas porque eles são menos influenciáveis por já terem um pouco mais de idade, mas o que me assusta são os que vem para roubar no Brasil. Depois que um pulou o muro da minha casa mesmo com caco de vidro e esfaqueou o cachorro para roubar roupa pendurada no varal eu já tratei de aumentar o muro e colocar aquela cerca espiral que costuma ter em muro de quartel.

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  8. Es lastimable que en Brasil hay gente que no se da cuenta del riesgo que la miseria del socialismo representa. Les rogo en el nombre de Jesucristo, abran sus ojos antes que sea demasiado tarde.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html