domingo, 1 de dezembro de 2013

E85: um retrocesso contra a auto-suficiência energética

Há fortes rumores acerca de uma alteração no mercado nacional de combustíveis, prevendo até mesmo uma absurda substituição do E100 (etanol puro, ou E96h para ser mais exato devido ao teor de 4% de água) pelo E85 (padrão americano, com 85% de etanol anidro e 15% de gasolina). Apesar do maior poder calorífico e facilidade na partida a frio, o custo é mais elevado. Hoje, o etanol anidro puro é subsidiado para amortizar o impacto no preço final da gasolina devido à mistura obrigatória variando entre 20 e 25% (E20-E25) de acordo com a época do ano e resultados da safra. A princípio, no entanto, o E85 não teria nenhuma vantagem fiscal tão significativa.

A maior motivação apontada para a inclusão no mercado brasileiro é a possibilidade de servir como um tapa-buraco para rombos provocados pelo aparelhamento político da Petrobras. Vale lembrar que a gasolina a ser misturada ao etanol anidro para compor o E85 seria de octanagem inferior, cuja importação sairia mais em conta para a estatal e, associada a um aumento da ordem de 15% no consumo de etanol, reduziria a importação de gasolina tipo A (pura). Da parte do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), há também alegações de que o E85 traria maior estabilidade aos preços da gasolina e do etanol, maior previsibilidade da demanda e segurança no abastecimento, argumentos muito questionáveis...

A indústria sucroalcooleira, representada pela União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), mostra-se contrária devido ao maior custo operacional na produção do etanol anidro, o que sem incentivos fiscais não traria nenhum benefício ao consumidor final com uma implantação do E85. A entidade representativa também foi contrária a um eventual aumento na mistura obrigatória de etanol anidro à gasolina para 30% (E30). Vale lembrar que a ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) também tem prejudicado pequenos produtores de etanol em microdestilarias da Zona da Mata mineira, impedidos de comercializar o produto diretamente ao consumidor final (sendo permitida apenas quando feita a órgãos públicos, entre associações e cooperativas, ou para exportação - cujos processos logísticos acabam não sendo tão fáceis para uma produção em escala reduzida).

Em aspectos técnicos, o E85 é um retrocesso. A experiência brasileira com o uso do etanol puro, que vem desde o Regime Militar, é admirada e tomada por referência mundo afora, e serviu de pretexto para o desenvolvimento de soluções como o sistema FlexStart de pré-aquecimento para a partida a frio introduzido pela Bosch, dispensando o tanque auxiliar de gasolina que remonta à época dos primeiros veículos movidos apenas a etanol. A atual corrente política que vem criando raízes no poder tem se ocupado mais em promover um deplorável revanchismo contra os militares do que no desenvolvimento de soluções para alavancar a auto-suficiência energética brasileira, e essa sabotagem ao etanol acaba sendo apenas mais um aspecto desse jogo sórdido. Também é contraditório que, em meio à verdadeira obsessão mundial em livrar o setor do transporte da dependência do petróleo, seja considerada a possibilidade de misturar gasolina a um combustível alternativo já consagrado como o etanol.

A quem possa considerar contraditória uma defesa acirrada ao etanol hidratado carburante, mais associado pelo consumidor brasileiro ao uso em motores de ignição por faísca, vale sempre lembrar que já há significativa experiência também no uso de etanol (tanto o E96h brasileiro quanto o E95 usado na Suécia - anidro aditivado com um potencializador de ignição) diretamente em motores do ciclo Diesel.

Tratar com descaso o avanço econômico e social que pode ser alcançado com os biocombustíveis, e jogar a culpa da incompetência governamental no tocante à segurança energética nacional para cima do setor sucroalcooleiro e do espoliado cidadão, vitimados pela mesma politicagem parasitária que tem levado a Petrobras rumo à bancarrota, são uma profunda inversão de valores que deve ser repelida com vigor. Independentemente do sistema de ignição a ser utilizado, o E96h tem seus méritos já reconhecidos, e partir para o E85 seria um atestado de incompetência.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html