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sábado, 16 de janeiro de 2016
Reflexão: por quê é uma estupidez ser anti-Diesel?
Mesmo que já tivesse uma participação marcante no mercado europeu de um modo geral, e quase onipresentes em algumas aplicações utilitárias como táxis, passou a ganhar mais espaço junto ao público espanhol por volta do ano 2000 com a definitiva popularização do turbo entre os motores Diesel automotivos, que também estavam "bastante melhorados" (por mais vaga que essa definição possa parecer) e ainda favorecidos pelo menor consumo de combustível. Somando-se ao preço mais baixo do óleo diesel comparado à gasolina, era um tanto previsível que o consumidor viesse a se sentir atraído. Ah, aqueles tempos em que uma válvula EGR travada pela fuligem não disparava códigos de erro ou cortava potência, e filtros de material particulado (DPF) ainda eram a exceção e não a regra...
Enquanto o custo do combustível era mais favorável, e os dispositivos de controle de emissões não afetavam tanto a eficiência geral do veículo, a diferença entre os preços de aquisição entre um modelo a gasolina e um Diesel eram amortizadas num prazo menor, mas nesse meio-tempo a diferença entre os preços do óleo diesel e da gasolina foram ficando mais estreitas, em alguns casos não passando de 10 centavos de euro por litro, além das recentes mudanças no cenário político europeu que tem feito a ignição por faísca recuperar algum prestígio. O modismo dos combustíveis gasosos, mais notadamente o gás liquefeito de petróleo (GLP - "gás de cozinha") com o gás natural em segundo plano e mais direcionado a aplicações comerciais, certamente tem um impacto na popularidade do Diesel em segmentos de entrada, enquanto os híbridos conquistam aqueles que se impressionam com as pretensões "ecologicamente-corretas" e futurísticas tão exaltadas pelos publicitários.
Um dos argumentos apresentados por Diego Liarte era uma suposta "perda de confiabilidade" quanto mais recentes os motores Diesel sejam. De fato, a massificação do turbo e do intercooler, bem como a imposição de dispositivos mais sofisticados para o controle das emissões, alteram as rotinas de manutenção e podem exigir alguns cuidados para ter a vida útil prolongada, mas em particular no caso do turbo não se pode ignorar a ampliação do uso também em motores de ignição por faísca em função do downsizing que vem se consolidando. A adoção do sistema start-stop, que promove o desligamento do motor em marcha-lenta com o veículo parado, também fez necessária uma melhoria na refrigeração e lubrificação do turbo para evitar acúmulo e carbonização de óleo ao redor do eixo que conecta os rotores de turbina e compressor.
O sistema EGR, que promove a recirculação de uma parte dos gases de escape para aumentar a concentração de gases inertes na câmara de combustão e reduzir a temperatura com o intuito de limitar a formação de óxidos de nitrogênio (NOx), é apontado como um problema nos motores Diesel devido ao material particulado que acaba por se aderir a vapores de óleo lubrificante provenientes da ventilação do cárter e acumular não apenas na carcaça da válvula EGR mas também no coletor de admissão. Seria incoerente ignorar que a origem desse sistema foi em motores de ignição por faísca, inicialmente para reduzir o consumo de combustível e as emissões de hidrocarbonetos crus admitidos em excesso apenas para refrigerar a cabeça do pistão antes que essa mesma função passasse a ser atribuída ao óleo, e nestes a passagem da mistura ar/combustível pelo coletor de admissão já é suficiente para solubilizar os vapores de óleo, mas quando a injeção direta começou a deixar de ser exclusividade do Diesel o mesmo problema de acúmulo de sedimentos no coletor de admissão também começou a ser observado em motores de ignição por faísca.
Outro ponto discutível é no tocante à quantidade de peças, que a bem da verdade não é necessariamente maior num motor Diesel como faz parecer o artigo do espanhol. Motores naturalmente aspirados e tidos como de manutenção mais simples já são menos frequentes mesmo entre os de ignição por faísca, visto que os sistemas tributários europeus beneficiam as faixas de cilindrada menores e portanto tendem a favorecer o downsizing, para não falar na presença cada vez mais irrisória dos cabeçotes de duas válvulas por cilindro nos motores a gasolina europeus mesmo entre modelos de baixo custo como o Dacia Sandero. Enquanto isso, alguns motores Diesel como os 1.5dCi e 1.9dCi da Renault e o 1.5TDCI da Ford permanecem com duas válvulas por cilindro e comando simples, enquanto o 1.6TDCI da Ford e o 1.6HDI da Peugeot/Citroën passaram a adotar essa configuração como padrão em 2011 em substituição às 4 válvulas por cilindro e comando duplo. E ao observarmos a presença mais significativa não só do turbo mas também da injeção direta em motores de ignição por faísca, bem como as similaridades comparada à injeção common-rail usada em motores Diesel, a quantidade de peças está longe de ser maior.
Antes de tecer críticas aos motores Diesel em função do DPF que hoje se disseminou para atender a níveis de controle de emissões cada vez mais restritivos, devemos observar as termodinâmicas distintas entre o ciclo Diesel e o ciclo Otto hoje predominante nos motores de ignição por faísca. A maior conservação de energia favorece o Diesel no tocante à eficiência, mas tal característica não deixa de ter algumas limitações no tocante ao uso em percursos mais curtos e condições de carga mais leves, visto que nessas situações fica mais difícil atingir as temperaturas que proporcionem uma maior eficiência em função à maior proporção de energia térmica conservada no sistema que acabaria por favorecer os ciclos de combustão subsequentes. Nesse contexto, sistemas de refrigeração e pré-aquecimento para partida a frio corretamente dimensionados tornam mais precisa a rejeição de calor onde seja mais benéfica, como na carcaça do DPF para promover a "regeneração" ao reduzir e eliminar o material particulado mais grosso que fique retido ou no sistema de aquecimento da cabine para proporcionar mais conforto ao condutor e passageiros num dia mais frio. A própria composição química do óleo diesel e eventuais substitutivos de origem renovável como o biodiesel ou mesmo óleos vegetais puros, com cadeias de carbono mais longas e difíceis de romper, além da vaporização menos intensa em comparação a combustíveis voláteis como a gasolina, o etanol, o gás natural e o GLP, também pode ser levada em consideração como parte do problema, mas não é exatamente um pretexto válido para desqualificar o ciclo Diesel.
Um tópico que de fato pode ser visto como passível a críticas é o sistema SCR, controverso até entre adeptos mais incondicionais do Diesel tanto por ser desagradável a necessidade de adicionar o fluido à base de uréia conhecido na Europa como AdBlue e no Brasil como ARLA-32 quanto por não proporcionar nenhuma real melhoria à eficiência do motor, ser passível a falhas e estas resultarem em diminuição do desempenho do motor visando manter os níveis de emissões dentro de parâmetros predeterminados. Em teoria, tem como "vantagens" não aumentar o consumo do combustível nem prejudicar o desempenho em comparação a uma carga maior de gases de escape recirculados através do EGR visando o mesmo efeito de redução das emissões de NOx. Faria muito mais sentido usar aspersão de água desmineralizada e/ou algum álcool no coletor de admissão, agindo como um "intercooler químico" e proporcionando uma combustão mais completa ou, considerando que a maior parte da uréia técnica (ou "uréia industrial") atualmente é sintetizada a partir do gás natural, este poderia ser usado diretamente ao invés da água e do álcool de modo a evitar o gasto de energia envolvido na produção da uréia técnica e da desmineralização da água usada na produção do AdBlue/ARLA-32.
Se alguns motores a gasolina já usam injeção dupla, tanto direta no cabeçote quanto indireta no coletor de admissão, por razões que vão desde a redução das emissões de NOx até um incremento no torque em baixas rotações, e poucos ousam criticar tal medida, não me parece que viria a ser demasiado complexo incorporar aos motores Diesel uma injeção suplementar de algum combustível volátil preferencialmente renovável ou de água desmineralizada em substituição ao polêmico SCR, podendo até aproveitar a água removida do ar da cabine pelo sistema de ar condicionado como já vem sendo testado pela BMW. Além de manter o coletor de admissão mais livre de obstruções, o processo de combustão ficaria mais completo e o consumo do combustível principal (tanto óleo diesel convencional quanto substitutivos) seria reduzido, por tabela proporcionando uma redução na formação de material particulado, e assim ocorreria também uma menor incidência de saturação do DPF com a necessidade de "regeneração" forçada.
Um equívoco do jornalista é afirmar que os motores Diesel "filtram" mais o combustível com a "sujeira" entrando, e que por isso estariam mais sujeitos a quebras, enquanto os motores a gasolina são apontados como mais simples de funcionamento e baratos para comprar e manter por dispensar tantos componentes complexos em função do combustível ser "mais puro e teoricamente menos poluente". A bem da verdade, tratar a gasolina como mais pura que o óleo diesel não faz nenhum sentido, visto que ambos são frações de uma mesma coluna de petróleo destilada, apesar de ser de fato mais leve, e solubilizar com alguma facilidade outros hidrocarbonetos como vestígios de óleo lubrificante. E quando consideramos a maior sofisticação da atual geração de motores a gasolina europeus fortemente influenciados pelo downsizing e que vem sendo apontados como um contraponto à hegemonia do Diesel em virtude da melhoria na eficiência energética, estes incorporam tecnologias cuja presença no mercado automotivo consolidou-se antes associada aos motores Diesel que foram o alvo da feroz crítica, com destaque para o turbo mas sem esquecer da injeção direta.
Alguns pontos que levam Diego Liarte a crer que já não seja uma boa idéia optar por um automóvel com motor Diesel atualmente. Rodar menos de 10.000km ao ano, de acordo com ele, tornaria "impossível" amortizar a diferença de custo com relação a um similar de ignição por faísca, além de "custos adicionais que pressupõe ter um Diesel" embora estes tais custos não sejam listados com a devida clareza, e que para um usuário dado a uma quilometragem anual baixa a economia estaria visível apenas na hora de pagar a conta do posto de combustível. Também parece ignorar alguns aspectos práticos como a maior autonomia, característica apreciável em circunstâncias onde os recursos energéticos estejam mais escassos ou com disponibilidade um tanto restrita. Não é à toa que as frotas militares dos países-membros da OTAN priorizam o Diesel, e que esta opção também seja popular entre habitantes de zonas rurais. Recordemos portanto a marcante influência da tradição agropastoril na consolidação da cultura européia e ocidental de um modo geral, e eventualmente uma possível contribuição do Diesel para redução na dependência por fontes de energia não-renováveis e provenientes de regiões conflagradas como ocorre hoje com o petróleo, não apenas em decorrência da maior eficiência térmica mas também da viabilidade em integrar a aplicação de combustíveis alternativos tão distintos quanto biodiesel, óleos vegetais brutos, etanol e biogás/biometano. Isso, nem mesmo aquele tal de Alá pode negar...
A questão dos NVH, do inglês Noise, Vibrations and Harshness, traduzidos como ruídos, vibrações e aspereza, ainda favorece os motores a gasolina, realmente, mas está longe de ser incontestável como tenta fazer parecer o articulista espanhol. A evolução nos sistemas de injeção, com uma atomização mais precisa do combustível de modo a ampliar a superfície de contato com o ar previamente comprimido contido dentro da câmara de combustão, e de múltiplas aspersões por ciclo de injeção nos sistemas common-rail atuais proporcionarem um gerenciamento térmico mais apurado e uma queima mais completa, permitiu a gerações mais recentes de motores Diesel operar com menos pressões internas, cuja dissipação normalmente se dá sobretudo através das vibrações e do som característico da detonação, além do turbo proporcionar também um certo grau de supressão de ruídos, da disponibilidade de materiais isolantes termoacústicos mais eficientes, e dos coxins hidráulicos que proporcionam um melhor amortecimento de vibrações em comparação aos maciços, e ainda da aplicação de volante bimassa em alguns motores. Há ainda aquela insistência um tanto imatura quanto à sensação de se levar o motor a regimes de rotação mais elevados mas, além de depender mais de outros fatores além do ciclo termodinâmico e do combustível, na prática não traz tanto benefício a um usuário comum que estaria melhor servido tanto no tocante à economia quanto à durabilidade com um motor mais vigoroso em baixas e médias rotações associado a uma transmissão com relação mais longa.
A diferença "quase nula" entre os preços da gasolina e do óleo diesel na Espanha à época da publicação do artigo podem no início pesar menos favoravelmente ao Diesel, mas não podemos esquecer que os preços dos combustíveis são um tanto voláteis e também podem sofrer interferências de cunho político, não apenas lá como em qualquer outro país. Quem pode assegurar que a gasolina não venha a sofrer reajustes mais pesados e se tornar significativamente mais cara que o óleo diesel numa virada de mesa? Quem acredita que o GLP em motores de ignição por faísca seja realmente uma alternativa mais válida para diminuir tanto futuras pressões sobre o preço da gasolina quanto a dependência por combustíveis fósseis em comparação ao ciclo Diesel que pode funcionar não apenas com biodiesel e óleos vegetais mas até com etanol no caso de motores de injeção direta?
Enfim, por mais que a atual geração de motores Diesel esteja longe da perfeição, e alguns componentes que vem sendo agregados aos mesmos com o intuito de reduzir as emissões de poluentes tenham alguns efeitos colaterais indesejáveis não apenas no tocante à eficiência energética mas também com relação à manutenção, estes ainda tem qualidades que os favorecem em cenários operacionais distintos. É, portanto, uma estupidez ser anti-Diesel.
6 comentários:
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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.
It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.
Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html
Quando eu fui a uns anos atrás na Alemanha quase todo táxi era a diesel. Tem que ser muito tapado para dizer que carro a diesel é ruim, se fosse tão problemático os taxistas alemães já teriam todos trocado por híbrido ou pelo gás natural que eu cheguei a ver bastante por lá até em carros que já eram fabricados prontos para funcionar a gás.
ResponderExcluirPodendo escolher eu pegaria um carro a diesel, mas tem gente que tem tudo na mão e ainda fica procurando defeito.
ResponderExcluirNão dá para discutir com piloto de teclado, o negócio deles é dizer que pinta e borda, que sai cortando de giro, mas quando vê tem um manco 1.0 que só anda esgoelando mesmo.
ResponderExcluirTem razão parça. Os europeus não teriam reconstruido tudo depois da guerra nem se mantido durante a crise do petróleo se não pudessem usar carro a diesel a vontade e agora aparece esse espanhol cuspindo no prato que os avós e os pais comeram.
ResponderExcluirSou brasileiro mas atualmente moro na Bélgica, até já quis ter carro a diesel antes mas para mim foi mais fácil comprar um Dacia Sandero com motor 1.2 a gasolina e gás.
ResponderExcluirCada vez que eu vejo falarem mal de motor a diesel, eu me convenço que estou cercado por idiotas. Procuram sempre por um bode expiatório para a própria incompetência, mas não se coçam para melhorar a qualidade do óleo diesel.
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