O escândalo em função de irregularidades na aferição de emissões em veículos da Volkswagen, que foi deflagrado em 2015 e permanece como um pretexto para desconfianças às vezes exageradas em torno da efetiva viabilidade do Diesel, parecia não ser relevante no contexto brasileiro devido ao fato de automóveis como o Passat serem proibidos de recorrer ao óleo diesel convencional no país, mas o uso do mesmo motor na pick-up Amarok fez com que o caso ainda tivesse alguma repercussão local. Vale lembrar que a Volkswagen também chegou a fornecer motores Diesel para outros fabricantes que não dispunham de um para aplicação em automóveis - ou não queriam arcar com as despesas para desenvolvê-lo por conta própria para atender a uma quantidade aparentemente pequena de mercados - como foi o caso da Mitsubishi com o Lancer e da Jeep com a primeira geração do Compass. Logo, apesar da Mitsubishi ter posteriormente desenvolvido uma nova linha de motores Diesel leves inicialmente mais focada para os próprios utilitários mas também com uma versão adequada ao uso no Lancer, e da Jeep hoje usar motores de origem Fiat após a formação da FCA - Fiat Chrysler Automobiles, já não se pode ignorar um indício de que uma concentração de mercado nas mãos de uma quantidade menor de fornecedores de motores ainda teria fundamento.
Chama a atenção o caso da Toyota, que antes ainda devotava algum esforço ao desenvolvimento de motores Diesel leves modernos com maior ênfase em atender ao mercado europeu, e no caso de modelos como o Corolla acabava dispondo tanto de opções avançadas para atender a países com um maior rigor nas normas de emissões quanto de outras mais rústicas que permaneciam fiéis à injeção indireta e aspiração natural em países onde o custo inicial fosse mais relevante. Hoje alguns modelos como o Rav4 já nem contam mais com opção pelo Diesel mesmo em alguns mercados europeus, com a Toyota preferindo "empurrar" o consumidor comum para a linha híbrida, mas chegou a recorrer a motores Diesel fornecidos pela BMW e pela Peugeot em outros modelos apenas para manter como uma alternativa para frotistas que não abrem mão do Diesel tão facilmente pelas mais variadas razões. Portanto, apesar de dispor dos recursos necessários para desenvolvê-los, a estratégia da Toyota tem dado espaço para a consolidação de outros fabricantes como fornecedores de motores Diesel e até certo ponto contribuindo para fomentar uma maior concentração de mercado para esse tipo de propulsor nas mãos dos mesmos.
O crescimento da Cummins junto a fabricantes chineses que buscam se firmar em mercados com uma demanda mais rígida no tocante às emissões, como não deixa de ser o caso do Brasil, também merece algum destaque. O grande volume de produção e a mão de obra barata fizeram com que a China fosse uma opção até um tanto óbvia para iniciar a produção da série de motores ISF, além do ISF2.8 ter caído como uma luva para fabricantes locais como a Foton dispensarem imitações do excelente porém já defasado motor Isuzu 4JB1 usadas à exaustão tanto em caminhões em faixas de peso bruto total até 7 toneladas quanto em pick-ups médias como a Foton Tunland. Não se pode negar que o atual cerco às emissões, associado à percepção do alto custo tanto de desenvolvimento e produção para os fabricantes de veículos e equipamentos especiais quanto de aquisição para os proprietários, também faz com que recorrer a um fornecedor independente seja uma alternativa economicamente viável para conciliar todos os interesses envolvidos.
Diga-se de passagem, o mesmo motor já é usado desde 2014 na F-350 e na F-4000 brasileiras, cuja produção havia sido interrompida ao final de 2011 sob a alegação de que a adoção de um motor já em conformidade com as normas Euro-5 a partir de 2012 poderia ser economicamente inviável para um modelo já defasado diante de similares estrangeiros e cuja configuração de cabine convencional (ou "bicuda") é cada vez menos requisitada por operadores urbanos que preferem a cabine avançada (ou "cara chata") devido ao melhor aproveitamento da extensão da plataforma de carga. A bem da verdade, e considerando também o dilema entre downsizing e downrevving, o recurso a um motor menor em comparação ao Cummins B3.9 usado anteriormente até se mostra válido, tendo em vista que o menor peso do motor até auxilia a compensar o que foi acrescentado pela presença do sistema SCR e do filtro de material particulado (DPF). Nesse contexto, levando em consideração a aplicabilidade tanto em um modelo com menos restrições de espaço no compartimento do motor como é o caso da F-350 quanto em outros mais limitados como as inúmeras imitações chinesas da Isuzu Rodeo, fica ainda mais fácil justificar uma aparente consolidação do mercado global de motores Diesel em torno de uma quantidade menor de fabricantes que ainda se dispõem a bater de frente com os ecofascistas.
Eu acho temerário ocorrer uma excessiva concentração de mercado na mão de poucas empresas num único setor. Basta lembrar do quanto o mercado automotivo brasileiro foi um pardieiro durante a década de 80 e só começou a parecer que um dia seria levado mais a sério quando o Collor reabriu as importações.
ResponderExcluirOff topic: vocês tem alguma postagem sobre o fenômeno "diesel runaway"?
ResponderExcluirAqui está:
Excluirhttp://dzulnutz.blogspot.com/2015/03/disparos-de-motor-uma-ocorrencia-cada.html
e só para lembrar que ocorrências similares podem ser vistas também em motores de ignição por faisca:
http://dzulnutz.blogspot.com/2014/08/mais-uma-do-youtube-jetta-com-o-motor.html
Até que faz sentido supor que venha a ocorrer uma concentração excessiva de mercado nas mãos de poucos players, e que eventualmente ainda façam algum "acordo de cavalheiros" nos bastidores para não concorrerem diretamente entre si. Ou então o tiro dos ecologistas pode sair pela culatra por meio de lobby e tentarem forçar uma defasagem nas implementações de normas de emissão, a exemplo do que se vê até hoje nos aviões pequenos com motor carburado, sem cânister, com respiro de caŕter ventilado direto na atmosfera e ainda usando chumbo na gasolina.
ResponderExcluirTem que ver o que vai acontecer na China, com tantas fabriquetas que hoje vivem de copiar mas podem num futuro tentar desenvolver alguma tecnologia própria (ou não).
ResponderExcluirAlgo así ya se nota en México donde solo Ford sigue con motor diesel en las pickups full-size. Hazta se perdieron mercados de exportación para la RAM hecha en México.
ResponderExcluirFaz algum sentido supor que o mercado para motores a diesel (ou num futuro não muito distante biodiesel) fique mais concentrado numa quantidade menor de fornecedores que os usem tanto na própria linha de veículos quanto os forneçam para terceiros. Até poderia arriscar uns palpites sobre que fabricantes eu acho que teriam mais condição de liderar esse segmento, mas agora me parece precipitado fazer qualquer previsão nesse sentido porque com o crescimento dos fabricantes chineses pode haver umas viradas no jogo.
ResponderExcluirEu até nem pensava tanto que os chineses pudessem vir a dominar o mercado com o desenvolvimento de tecnologias próprias, se bem que com empresas chinesas comprando outras de países mais tradicionais na produção automobilística não seria de se estranhar...
ExcluirSerá que até os fabricantes europeus de caminhão que sempre foram mais acostumados a usar motor de fabricação própria vão ceder ao outsourcing? Aí sim eu consideraria um caminho sem volta para que se tenha uma maior concentração de mercado em torno de poucos fornecedores de motor.
ResponderExcluirSó vendo para saber.
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