Não se pode negar que a maior adesão ao turbo e à injeção direta em motores de ignição por faísca é uma das principais razões para que tenham se aproximado mais da eficiência geral do Diesel, e feito com que a desvantagem do etanol no consumo em comparação à gasolina seja atenuada nos veículos "flex" ao proporcionar condições mais propícias para que ambos os combustíveis possam ser usados sem maiores intercorrências com taxas de compressão mais altas normalmente consideradas melhores para o etanol. Porém, há alguns efeitos colaterais inerentes a essas condições, mais notadamente um incremento na emissão de óxidos de nitrogênio (NOx) devido às temperaturas mais elevadas que a combustão pode alcançar com uma proporção menor de combustível pela massa de ar de admissão e o maior aquecimento aerodinâmico resultante de uma compressão mais elevada, e até de material particulado em função do intervalo mais curto entre a injeção e a ignição levando a uma vaporização incompleta da gasolina e/ou do etanol quando aplicável. Assim, levando em conta a necessidade de conciliar um enquadramento às normas de emissões em vigor e o impacto sobre os custos iniciais e de manutenção, a estratégia conservadora da Toyota que se mantém fiel à aspiração natural e injeção convencional tanto em híbridos como o Prius quanto em modelos mais generalistas como o Corolla não deixa de chamar a atenção.
O dilema entre a adesão ao turbo e injeção direta ou seguir a "tradição" do motor aspirado de injeção convencional atinge diversas proporções, não apenas no uso particular mas também em aplicações comerciais como nos táxis justamente pela preferência que o gás natural tem junto aos operadores em função do preço mais acessível numa comparação à gasolina e ao etanol. Vale tomar como exemplo o Volkswagen Virtus lançado ainda esse ano, oferecido com o motor 1.6 MSI naturalmente aspirado de 4 cilindros como opção de entrada enquanto o 1.0 TSI de 3 cilindros figura como o top de linha, que acaba evidenciando essa situação. Como no motor de injeção direta os bicos injetores originais ficam expostos diretamente à frente de propagação de chama, se faz necessário manter ao menos uma parte do fluxo de injeção do combustível original para mantê-los refrigerados ao rodar com o gás natural que seria injetado no coletor de admissão, o que de certa forma diminui a esperada redução de custos operacionais do veículo em comparação a um similar dotado de injeção sequencial nos pórticos de válvulas de admissão. É importante também salientar que o gás natural apresenta maior resistência à pré-ignição, tendo em vista tanto a compressibilidade quanto a faixa de temperaturas mais estreita em que se inicia a combustão comparado tanto à gasolina quanto ao etanol, suportando melhor condições de mistura ar/combustível pobre sem ter de recorrer à injeção direta, e assim com uso mais constante do gás em detrimento dos combustíveis líquidos é até previsível a preferência pela tecnologia mais antiga.
Outro aspecto a se considerar é a obsessão por motores de alta cilindrada entre os apreciadores das barcas americanas, como a Ford Explorer de 5ª geração que tem de acordo com as preferências ou as políticas de diferentes mercados uma variedade de motores turbo com injeção direta em complemento à opção pelo V6 aspirado de injeção convencional. Em modelos anteriores ao facelift de 2016, houve em versões de tração somente dianteira até a disponibilidade do mesmo motor 2.0 Ecoboost usado no Ford Fusion, que se enquadraria numa alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) mais favorável em comparação ao 2.3 Ecoboost atualmente oferecido também para versões 4X4 em alguns países ou ao 3.5 V6 caso fosse importada oficialmente para o Brasil. Mas esse é também um daqueles casos em que a aptidão de um motor menor a fatores de carga mais elevados é contestada sob o ponto de vista da durabilidade, além daqueles questionamentos em torno do quão efetiva seria a redução de consumo e emissões a ser proporcionada pelo downsizing. Nesse contexto, além do resfriamento da carga de ar de admissão durante a vaporização da gasolina ao ser injetada nos pórticos de válvula na fase de admissão no motor maior e à primeira vista apontado como tecnicamente inferior por alguns que se deixam levar pelos encantos do marketing, também permanece relevante destacar que há uma menor retenção de calor sob o capô caso se faça a opção pelo aspirado. Aqueles vídeos no YouTube mostrando caminhoneiros usando a parte quente (turbina) do turbocompressor para assar carne podem parecer loucura, mas o fundamento é praticamente o mesmo...
Não importa se é um modelo de concepção mais tradicional ou um híbrido, a eventual preferência por motores de ignição por faísca e uma argumentação que os apresente como uma opção mais racional à complexidade da atual geração de motores Diesel chega a ser ao menos em parte influenciada por um grau de mediocridade. Por mais que exista um profundo abismo entre o ato de adaptar um carburador e ignição de pontos fixos num Peugeot 307 e o encantamento pela aura "sustentável" que se formou em torno do Toyota Prius, na prática se vê a mesma intenção de tentar negar que o Diesel ainda pode fazer sentido em condições operacionais semelhantes. Os tempos são outros e, se antes a ignição por compressão era vista com relativo desdém por não ser tão convidativa a altas velocidades e remeter mais às reações de um motor de trator, hoje pode-se afirmar categoricamente que a procura pela zona de conforto tem partido de princípios opostos. Enfim, se antes mexer numa bomba injetora rotativa de motor Diesel leve ao invés de se ver às voltas com carburador, distribuidor e bobina de ignição soava como a escolha mais lógica, hoje a lei do mínimo esforço está sendo aplicada do lado contrário e vale até se aventurar com softwares de diagnóstico de falhas compatíveis com um smartphone...
Cada vez mais complicado apostar numa solução para os motores a gasolina, ou gás natural que parece ser um combustível com mais futuro a longo prazo, mas esse esquema da Toyota em ainda tirar o máximo de eficiência antes de partir para turbo e injeção direta me parece bem acertado. Só acho que como o custo de produção não deve ser tão absurdamente alto como nos motores turbinados da concorrência, bem que podiam ter uns preços menos exagerados no Brasil.
ResponderExcluirA tributação diferenciada considerando tão somente a cilindrada do motor acaba beneficiando os 1.0L turbo, como o TSI da Volkswagen, mesmo que na prática um motor mais simples com cilindrada maior possa proporcionar resultados tão satisfatórios quanto.
ExcluirA mi me parece que la gente aún cree que sigamos en los dias de los encendidos vetustos por distribuidor que qualquiera intentaba arreglar con unos trozitos metalizados del paquete de cigarrillos. Acerca de la Ford Explorer, me asombra que mientras en las Filipinas solo se vende hoy con motor Ecoboost, en 4 cilindros para tracción delantera y el V6 para las de doble tracción, en Corea del Sur solo el 4 cilindros es Ecoboost mientras el V6 atmosférico sigue en linea, pero los 2 motores siempre llevando doble tracción.
ResponderExcluirÀs vezes a turma prefere fazer aquela gambiarra com uma luva de borracha para não molhar o distribuidor mas nem param para pensar em fazer aquele esquema com sensor Hall e roda fônica na polia do virabrequim. Sempre vai ter quem fique tentando justificar esse tipo de coisa, mesmo sendo porcaria.
ResponderExcluirEu não acho tão difícil mexer em carburador e distribuidor, mas a injeção eletrônica faz maravilhas.
ResponderExcluirSerá que dá de adaptar carburador numa pick-up Peugeot Hoggar de motor 1.4?
ResponderExcluirÉ justamente um dos motores mais fáceis de adaptar carburador pelo que eu já vi em alguns carros de argentino. Passar o verão em Santa Catarina sem ver ao menos uma Peugeot Partner ou Citroën Berlingo com carburador é improvável.
ExcluirE dá certo mesmo adaptar carburador num 307?
ResponderExcluirPelo menos na Argentina tem quem faça.
ExcluirEu acho meio exagerado dizer que quem só mexe em motor a gasolina é medíocre, alguns dos melhores mecânicos que eu conheci nunca tocaram num motor a diesel.
ResponderExcluirTambém já conheci bons mecânicos que não trabalham com a linha Diesel, mas eles não tem culpa se os fabricantes optam por perpetuar a mediocridade na linha a gasolina.
Excluir