quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

SUVs: mais favoráveis ou desfavoráveis à pauta da liberação do Diesel?

Não é de hoje que os SUVs se tornaram objeto de desejo da classe média como um símbolo de status até compreensível num país como o Brasil, por motivos tão diversos quanto o desejo de dissimular um estilo de vida mais próximo da natureza para o qual modelos como o Suzuki Vitara de 1ª geração até seriam indicados, enquanto outros tantos se deixam levar por modismos e pela impressão de que o desenho da carroceria vá garantir a soft-roaders como o Hyundai Creta uma maior adequação diante das condições de rodagem terceiro-mundistas das quais nem as grandes metrópoles estão livres. O fato de terem ganhado mais espaço junto ao público urbano é outro aspecto bastante peculiar, que cabe lançar uma análise em outro contexto, mas a proximidade técnica com automóveis de outras configurações de carroceria leva naturalmente a observar os SUVs sob a perspectiva de uma eventual liberação do Diesel sem distinções entre capacidades de carga e passageiros ou tração. Dessa forma, pode-se crer que a moda dos SUVs é bastante complexa para avaliar como mais favorável ou não à presença do Diesel junto ao público generalista.
No caso do Hyundai Creta, que no Brasil sempre conta somente com motores de 1.6L ou 2.0L flex, o similar indiano tem versões a gasolina somente de 1.6L complementadas pelos turbodiesel com 1.4L ou 1.6L com turbocompressor de geometria variável nesse último. Pode parecer incoerente à primeira vista querer passar por cima da experiência brasileira com o etanol, principalmente agora que entre os motores flex de injeção convencional nos pórticos de válvula tem prevalecido o pré-aquecimento do combustível como método de auxílio à partida a frio permitindo uma condução com "neutralização" de 100% das emissões de dióxido de carbono em regiões onde o custo do etanol seja mais favorável, ou até a relativa facilidade de manter um desempenho o mais próximo possível do original com uma conversão para gás natural usando o sistema de 5ª geração, mas nem todos os perfis de utilização são idênticos e portanto há espaço para considerar desde vantagens práticas inerentes a uma motorização turbodiesel até uma possível transição para o biodiesel. Assim, pode-se considerar por exemplo que a maior autonomia com um mesmo volume de combustível seja desejável de um modo geral, ao passo que numa aplicação mais específica como viaturas de polícia um desempenho basicamente inalterado do motor 1.6CRDi VGT comparado ao 2.0 flex disponível no Brasil permitiria atender a emergências com a mesma agilidade enquanto a menor necessidade de paradas para reabastecimento proporciona uma prontidão mais efetiva. A prevalência de motores Diesel em frotas militares de países signatários do Tratado do Atlântico Norte ou simplesmente alinhados à OTAN é outro indicativo de que essa seja a melhor alternativa para as forças de segurança em geral, bem como para as condições igualmente peculiares dos demais operadores de veículos de emergência como serviços de ambulância ou de bombeiros. Infelizmente, no caso específico do Hyundai Creta, o fato de ser oferecido somente com tração simples faz com que ainda seja impossível homologar uma versão turbodiesel no Brasil...

Mas ainda é conveniente destacar que o formato da carroceria não é necessariamente um indicativo de maior aptidão a condições de rodagem severas, tomando como referência o Toyota Etios. Com um projeto destinado desde o início aos países emergentes, não é uma simples questão de escolha e passa a ser essencial para assegurar o sucesso comercial que o modelo tenha uma robustez que até ofusque alguns SUVs urbanóides nesse aspecto mesmo que ofereçam algum sistema de tração 4X4. Portanto, em nome da eficiência geral, chega a soar absurdo que um hatch pé-duro não possa contar com o que se converteria num privilégio de quem possa pagar por um SUV de luxo como o Volvo XC40 apesar desse modelo não ter versão Diesel no Brasil mesmo compartilhando a concepção geral com outros SUVs da mesma marca oferecidos localmente com essa opção.

Outro caso digno de nota, e com uma melhor base de comparação, seria na linha atual da Maserati o sedan Ghibli e o SUV Levante. Ambos são encontrados no Brasil com o motor Ferrari F160 V6 twin-turbo de 3.0L a gasolina, mas no caso do Ghibli pode contar tanto a tração somente traseira quanto a integral que é a única opção disponível para o Levante, mas no exterior ambos são oferecidos com a opção pelo motor VM Motori A630 que também é um V6 de 3.0L porém turbodiesel. Ainda que usem o mesmo câmbio automático ZF de 8 marchas, que se enquadra naquela regulamentação que equipara uma 1ª marcha mais curta ao efeito de uma caixa de transferência de dupla velocidade para fins de homologação de um veículo 4X4 junto aos Requisitos Operacionais Básicos definidos pelo Exército e que ainda hoje servem de parâmetro para classificar um veículo como "utilitário" e apto ao uso de motor Diesel no Brasil, no caso do Ghibli versões de tração somente traseira nem teriam como se enquadrar, e mesmo as de tração integral ainda teriam uma probabilidade menor que a do Levante para dispor desse tipo de motorização. Afinal de contas, mesmo que não seja nenhum pé-duro pronto para desbravar alguma área remota pelo interior, o simples fato do tipo de carroceria SUV também ser classificado como "jipe" ao invés de "camioneta" dependendo da configuração do sistema de tração já viabiliza regularizar com motor Diesel mesmo que a capacidade de carga nominal seja inferior a uma tonelada e acomode menos de 9 passageiros além do motorista.

O fato da tração 4X4 não ser exatamente um bom parâmetro para justificar o privilégio de usar um motor Diesel pode ser bem representado em automóveis esportivos sedentos por gasolina como a bela Audi RS4 Avant da atual geração, que assim como um SUV de alto luxo dificilmente iria enfrentar condições de rodagem tão árduas. E mesmo que eventualmente uma station-wagon como a Audi RS4 Avant vá ter um perfil de utilização idêntico ao de algum modelo de porte maior mas que ainda seja classificado como "utilitário" para fins de homologação, há de se considerar vantagens inerentes a um tipo de carroceria mais compacto e aerodinâmico no tocante à eficiência geral enquanto trafegue por trechos pavimentados. Portanto, já se observa mais uma incoerência de se restringir o direito ao uso de um tipo de motor em função de fatores que hoje se revelam desatualizados.

Ainda considerando o tipo de tração, mas tomando por referência um modelo mais pé-no-chão como é o caso da Kombi, a disposição de motor e tração traseiros fazia com que tivesse boa trafegabilidade em condições de terreno irregulares devido à concentração de peso mais próxima ao eixo motriz nas diversas condições de carga. Porém, o fato de até '96 as versões de passageiros tivessem acomodação para até 8 passageiros mais condutor e capacidade de carga nominal abaixo de uma tonelada, não teve a opção pelo motor 1.6D que chegou a ser oferecida na pick-up e no furgão de carga. E apesar desse empecilho, o modelo permanece um ícone cultural muito apreciado por aventureiros que a usam para viagens devido ao amplo espaço interno aliado a uma rusticidade que a credencia para trafegar por trechos onde muito SUV passa dificuldade.

A moda de SUV tomou proporções tão ridículas que até um modelo inexpressivo no mercado como o Chery Celer hatch passou a ser visto com mais frequência depois que o novo representante da marca passou a trazê-lo com uma frente menos aerodinâmica e maior altura de rodagem para reclassificá-lo como SUV, mudando o nome para Tiggo2 em referência aos demais modelos com essa proposta de se resumir a um carro comum com aparência pretensamente aventureira. E mesmo sem alterações muito drásticas a nível de mecânica básica, pode-se considerar que tal circunstância desfavorece a eficiência geral ao impor uma forma questionável em detrimento da função, e mesmo que contasse com tração 4X4 para tornar-se apto a recorrer a um motor Diesel no Brasil ainda seria preferível poder dispor de tal opção num modelo mais leve e aerodinâmico com menos atritos no conjunto de transmissão. Enfim, por mais que em alguns casos ainda tenha servido para aproximar do Diesel uma parte do público generalista que se acomoda em torno da oferta atual sem questionar eventuais vantagens de uma abordagem mais focada na eficiência energética, em outros tantos essa atual obsessão por SUVs ainda soa como mais um bom pretexto para que a pauta da liberação do Diesel permaneça relevante.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html